A Educação atravessa um momento decisivo. Não há como não ver os vários problemas que  assolam o sector e, em vésperas de eleições, perfilam-se os partidos na apresentação das medidas que visam a sua resolução. Até a FNE teve a necessidade de apresentar uma candidata virtual às legislativas que indicasse o caminho, das respostas concretas, aos partidos.

Neste sentido, estamos todos entre a desilusão e a esperança. De entre as várias propostas apresentadas pelos partidos, o sentimento global é o mesmo do de São Tomé, só acredita depois de ver.  Assim estão os professores.

Embora o tema mais mediático seja a recuperação do tempo de serviço, com o qual todos os partidos concordam, muito mais há a fazer pela educação, tal como têm referido as estruturas sindicais e, sobretudo, os próprios professores e técnicos das escolas nos inúmeros movimentos que têm florescido nas redes sociais.

Em boa verdade, e ainda que em moldes distintos, todos estão em perfeita sintonia ao afirmar que os problemas que assolam a Educação são efetivamente muito mais vastos e profundos do que que à partida (alguns) querem fazer crer, nomeadamente a tutela.

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A Escola Pública vive sob imensa tensão e, nos últimos anos em particular, esteve sujeita a experimentalismos de teorias mais ou menos iluminadas, de facilitismos e de propagandas embandeiradas em estudos encomendados e estatísticas de cientificidade e utilidade mais do que duvidosa.

Em bom rigor, a realidade mostra-nos um retrocesso nas aprendizagens dos alunos. Toda a retórica de sucesso ficou sem disfarce possível. Basta olharmos para a queda sem precedentes dos resultados internos (provas de aferição) e das avaliações externas (PISA, TIMSS e PIRLS). Para os professores, nada disto é novidade e há muito tempo que vêm alertando para o fracasso educativo que está instalado no sistema, apesar do alegado sucesso, mostrado pelos dados estatísticos truncados do sucesso e abandono escolar.

Paralelamente, em muitas escolas (para não dizer todas), desde há uns anos a esta parte que se vive uma espécie de paz podre, na qual se evita questionar, modificar ou melhorar o que quer que seja. Dizem que é “jogo de cintura”. Nós diríamos que é “assassinato educativo”.

Aqui chegados: o diagnóstico é não só indesmentível, como mau demais para toda uma geração. Importa, portanto, olhar para o futuro e acabar com experiência de curto prazo, muitas vezes mais ideológicas do que exequíveis e, pior ainda, de eficácia e utilidade por comprovar.

Antes de mais, consensos políticos de longo prazo para a Educação deveriam ser um desígnio nacional ao qual os principais partidos teriam de estar vinculados.

Depois, e porque nos parece do mais elementar bom-senso, escutar e acolher as opiniões de quem realmente percebe do assunto.

Será que por agora começarmos a escrever uns artigos sobre cirurgias, faz de nós especialistas em medicina? E se lermos umas coisas sobre aeronáutica, será que poderemos pilotar um avião? A resposta é evidente, mas parece que nem todos os partidos a compreendem na plenitude.

Pior, acreditam (ou tentam fazer acreditar) que é possível gerir sem conhecer.

Ora, recordando a sabedoria popular: é preciso “saber fazer” para que se possa decidir com propriedade e, mais ainda, para que quem executa a tarefa reconheça em nós a capacidade e a qualidade da decisão. Sempre assim foi e sempre será.

Assim, escutar (de facto) as opiniões de quem trabalha dentro das escolas é não só imperioso como verdadeiramente insubstituível.

Por outras palavras, seguir as ideias de quem sempre esteve e continua a estar com as “mãos na massa”, dentro da Educação e sobretudo dentro da Escola Pública. É fundamental perceber e acolher quem investiga com um verdadeiro conhecimento técnico e prático, nomeadamente do pré-escolar até ao 12.º ano.

Não menosprezamos o conhecimento da Academia, pelo contrário. Mas não nos deixemos iludir. Não confundamos a experiência de lecionar no Ensino Superior com o lecionar nos restantes ciclos de ensino.

Não tem rigorosamente nada a ver uma coisa com outra, pelo que se queremos resolver de uma vez por todas os problemas da Escola Pública (até ao 12.º ano, entenda-se), integremos o saber-acumulado e as ideias de quem lá trabalha nas propostas de governação dos vários partidos.

Desilusão e esperança, o triste fado dos professores.

Desilusão por tantas promessas por cumprir e pelos muitos entraves na progressão legítima e prometida da sua carreira;

Esperança em que, um dia destes, algum Ministro da Educação possa ser realmente diferente e possa olhar para a Educação com realismo, sentido prático e, acima de tudo, com conhecimento, eficiência técnica e eficácia nas aprendizagens.

Nas escolas, sente-se uma especial curiosidade sobre o programa para a Educação da Aliança Democrática, ou não fosse esta a possível alternativa ao Governo atual.

Depois de apresentado o Programa Eleitoral, vislumbra-se alguma esperança, a começar pela reposição do tempo perdido, incentivar a atratividade da carreira para combater a falta de professores, entre outras medidas mais consensuais entre a classe.

Mas também há enormes preocupações, em especial quando se tocam em linhas vermelhas, nomeadamente a gestão da colocação de professores que possam contemplar parâmetros para além da graduação profissional.

Sobre a “municipalização”, ou gestão dos recursos humanos por parte das autarquias, concelho de diretores/QZP´s ou até escolas, devemos recordar que foi esta a “gota de água” que fez sair os professores para a rua. Trata-se de um assunto muito melindroso e que causa enorme desconfianças dentro das escolas (devido à proximidade/ingerências do poder local).

Além disso, a colocação de professores não é, em si mesmo, um problema prioritário (longe disso) e a hipotética vinculação de docentes pelas escolas não resolve os muitos constrangimentos que afetam a Educação, e a Escola Pública em particular, e muito menos não reduz a falta de professores.

A carência de professores, materializa-se numa manta cada vez mais curta: se a escola A puxa a manta para si para resolver o seu problema, destapa a escola B. Por conseguinte, e sem negligenciar as especificidades de cada território, não poderemos deixar de olhar para o conjunto do país, pelo que não poderemos compreender, e muito menos aceitar, a alegada (mas por comprovar) resolução de problemas localizados e pontuais.

Nesta medida, urgente não é cavar mais trincheiras. Aos partidos exige-se mais humildade e menos especialistas anunciados. Pede-se uma maior capacidade de compreender as pessoas, os seus problemas administrativo-burocráticos, laborais, relacionais interpares, mas também hierárquicos, tendo em conta os muitos constrangimentos e desafios quotidianos, nomeadamente nos processos ensino-aprendizagem.

Urgente é valorizar e dignificar toda a carreira, atraindo jovens para a profissão e formando docentes em número suficiente, mas sempre com a qualidade técnico-pedagógica e científica que se exige, sobretudo numa sociedade altamente competitiva e para a qual os alunos têm de estar devidamente preparados.

Enquanto não olharmos para a Educação a longo prazo, com sentido de missão, de responsabilidade e de cooperação entre tendências políticas diferentes, ouvindo os representantes sindicais e demais parceiros institucionais da Escola, continuaremos condenados à mediocridade enquanto pessoas e enquanto país.

Enquanto nos entretemos com a futilidade do dia a dia, os nossos melhores cérebros e quadros, que ousam ter rasgo e esperança, emigram.

E não!!! Não tem de ser uma fatalidade!