O ditado já é velhinho, mas aplica-se sempre de forma muito sábia. Temos dois ouvidos e uma boca para ouvirmos o dobro daquilo que falamos. É sabido que ouvir é uma grande qualidade de qualquer profissional, mas no que toca à saúde essa característica torna-se imprescindível para o bem-estar dos utentes e das pessoas que trabalham neste setor.

Posto isto, será que o Ministério da Saúde vai estar mais disponível para ouvir os utentes e os profissionais de saúde? Que medidas poderiam ser implementadas para uma comunicação mais eficaz e um canal mais aberto entre todas as partes envolvidas?

Efetivamente, a bilateralidade da comunicação pode ser uma das maiores conquistas na área da saúde. Os utentes são ouvidos, os profissionais são ouvidos e os próprios governantes também são ouvidos. Nesse sentido, é fundamental a existência de canais de comunicação claros e acessíveis. Garantir a existência destas vias de comunicação, tanto para profissionais de saúde como para os utentes, poderá melhorar em muito a satisfação de todos os atores, com clara melhoria dos resultados em saúde.

Queremos governantes que forneçam informações atualizadas e transparentes de forma regular sobre questões de saúde pública, diretrizes clínicas e políticas de saúde. Tudo isto, é tão simples como comunicar de forma aberta através de tantas vias hoje disponíveis, como imprensa, boletins informativos, e-mail e até nas redes sociais, sem que esta última quebre qualquer obrigação de sigilo ou confidencialidade.

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Depois, há que promover um maior desenvolvimento e disponibilização de material educativo e informativo de fácil compreensão dirigido aos utentes sobre doenças, prevenção e direitos destes. O desenvolvimento e promoção de campanhas de sensibilização alargadas é fundamental e podem contribuir em muito para aliviar os serviços de saúde. Informação é poder e esse poder tem de ser dado a todos. Aqui, lá vem a nossa velha amiga, a literacia em saúde e que tanto depende de quem tem o poder de decisão. Mais campanhas de sensibilização são necessárias para temas como vacinação, prevenção de doenças, saúde mental e hábitos saudáveis de vida.

E quanto aos profissionais de saúde? Como podemos promover melhores habilidades de comunicação? A formação em comunicação é um valioso aliado destes profissionais, para que possam comunicar de forma clara e empática com os utentes. O colocar-se nos sapatos dos outros deve fazer parte da rotina clínica, tentar perceber a pessoa que está à sua frente é fundamental para que os utentes se sintam compreendidos e satisfeitos com os seus médicos. Contudo, isto só acontece se esta formação for promovida em todos os cursos de saúde e ao longo da vida profissional, com a atualização periódica de conhecimentos e melhores práticas de comunicação em saúde.

Para estabelecer os melhores mecanismos de comunicação há que também ter em conta a importância da recolha de feedback dos profissionais de saúde e dos utentes sobre os serviços de saúde e políticas governamentais, e garantir que haja oportunidade para a participação pública em decisões que impactam a vida de todos.

Neste ponto de comunicação e de abertura de múltiplas vias há que encontrar forma de colaboração com organizações de saúde locais, regionais e internacionais para partilhar informações, melhores práticas e recursos, a fim de melhorar a comunicação e a prestação de serviços de saúde. A colaboração com entidades culturais e comunidades imigrantes é outra questão fundamental, pois culturas diferentes terão abordagens diferentes e, numa altura em que Portugal começa a ter comunidades de imigrantes consideráveis e com credos religiosos diferentes, temos de estar preparados para lidar com essas diferenças, sabendo adaptar o nosso comportamento e a nossa forma de comunicar.

Assim, é fundamental que haja uma comunicação mais eficaz entre o Ministério da Saúde, os profissionais de saúde e os utentes, contribuindo para uma melhor compreensão das questões de saúde, mas também culturais, para que desta forma se promova uma maior adesão às políticas e diretrizes de saúde pública com ganhos consideráveis para todas as partes envolvidas.