Numa entrevista na semana passada a vários jornais europeus, Angela Merkel perfilou-se como o antídoto contra Viktor Orbán, o construtor da primeira autocracia da União Europeia. A Chanceler é, com Viktor Orbán, parte da geração de jovens líderes políticos do Leste comunista, que foi catapultada pelas revoluções de 1989 para a berlinda da política. Deste paralelismo, Merkel extrai também a sua missão, que é “trabalhar para uma Europa autodeterminada e liberal, enraizada nos direitos fundamentais do indivíduo.” Esta semana, no Parlamento Europeu, discursando sobre o Fundo de Recuperação, a chanceler alemã demonstra que tenta traduzir as suas palavras em atos. No momento em que se decide os milhões do Fundo de Recuperação a serem distribuídos pelos países europeus, Merkel indica que a União Europeia não pode continuar a ser uma caixa de multibanco para os governos que decidem desrespeitar o Estado de Direito, a independência dos media e dos tribunais.
A aposta é alta: em causa, está a mais potente forma de pressão que a União tem sobre os seus membros: os fundos de Bruxelas. Nas negociações para o Plano de Recuperação está em cima da mesa a introdução da condicionalidade política para a atribuição dos milhões de euros que se preparam para relançar a economia da crise, sem precedentes, que se avizinha.
O discurso vem no seguimento de rumores de que os governos húngaro e polaco estariam a fazer chantagem nas negociações: se a Europa os deixasse em paz nas questões de regime, seriam membros construtivos das negociações financeiras que a presidência alemã tenta levar a bom porto ainda este mês. Contudo, encorajada pela descida de popularidade de Donald Trump durante a pandemia, Merkel parece achar que os ventos lhe são agora favoráveis: “O populismo que nega os factos está a ser empurrado para os seus limites. A democracia precisa de verdade e transparência”.
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