Desde 18 de março, dia em que foi decretado o Estado de Emergência Nacional a população portuguesa está em casa e os portugueses tiveram que se habituar ao regime de teletrabalho, excetuando aqueles que por motivos de força maior tiveram que continuar a operar e aqueles cujo trabalho não permite ser reproduzido no seu lar.

Do dia para a noite, vimo-nos forçados a realizar adaptações nas mais diversas áreas das nossas vidas. Desde os hábitos de trabalho, aos comportamentos sociais, desde o lazer à prática desportiva. Toda a transição digital inerente à Covid-19 pode e deve ser objeto de estudo e, se pensávamos que não seria possível sem uma profunda reforma, esta pandemia provou que, uma vez mais, estávamos enganados.

A adaptação ao teletrabalho exige muito de todos. Sobretudo dos trabalhadores, que foram ultrapassados pela evolução tecnológica ou até mesmo condicionados pela realidade, que podem ser adversas às boas práticas laborais. Afinal, o que será de alguém que trabalha a partir de casa, que auxilia os filhos com a Telescola e ainda tem a responsabilidade das lides domésticas?

Além disso, surgem diversos contratempos com o computador e a internet que afetam mais uns do que outros, para não falar dos lares onde só existe um computador para toda a família – e às vezes, infelizmente, nem isso…

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Por outro, a falta de socialização é uma realidade que promove a desmotivação e afeta as pessoas de diferentes formas. Toda esta situação impacta a vida de muita gente e seria demasiado irrealista negá-lo.

Porém, toda a moeda tem um reverso. E esta situação que passamos, tem de igual forma uma outra face que merece ser observada.

As pessoas, aperceberam-se de que podem trabalhar através de casa e, em alguns casos, obter resultados de produtividade tão ou mais satisfatórios do que no seu próprio escritório.

As pessoas aperceberam-se, finalmente, que os e-mails solucionam muitas reuniões desnecessárias e que se ainda houver necessidade, podem reunir através das mais diversas plataformas, não estando sujeitas a filas nas estradas ou a perda de tempo na sua deslocação.

As pessoas aperceberam-se de que podem realizar atividade física sem necessitarem de sair de casa, nem de pagar uma mensalidade num ginásio. Sendo esta atividade, muitas vezes, apenas suportada por uma live stream numa rede social. Uma realidade recente que reflete a necessidade de reavaliarmos o modo como olhamos todas e quaisquer atividades do nosso quotidiano.

As pessoas perceberam que podem continuar a usufruir dos serviços de restauração, sem terem que se deslocar, tendo ainda a oportunidade de fazê-lo diminuindo custo.

As pessoas aperceberam-se que necessitam de combater o tédio de estar fechados em casa com outro tipo de atividades, como ler, ver séries, filmes, meditar, praticar ioga, bem como outro tipo de atividades que acabam por ficar esquecidas no tempo.

Demorou até entendermos que tínhamos que ficar em casa. Mas a verdade é que ficámos. A verdade é que, aos dias de hoje, somos internacionalmente elogiados pela nossa postura e pelo nosso compromisso no combate a este inimigo tão cobarde. A verdade é que nos habituamos a um comodismo, a uma rotina e a um suprir de necessidades que ainda não sabíamos ser possível.

E agora, quem é que nos tira de casa?