Vivemos hoje um momento histórico em Lisboa. A cidade foi escolhida para ser a Capital Verde Europeia em 2020 e, segundo a Câmara Municipal de Lisboa, a distinção veio reconhecer os progressos da cidade em matéria de sustentabilidade: “[Lisboa] Ganhou porque foi a cidade que evoluiu em todos os parâmetros ambientais – energia, água, mobilidade, resíduos e infraestrutura verde e biodiversidade. Evoluímos muito.”, disse José Sá Fernandes, vereador para o Ambiente.

Vamos a contas: entre 2004 e 2017, Lisboa reduziu em 33% o seu consumo de água; as emissões de dióxido de carbono no município diminuíram 42% de 2002 a 2016; e a taxa de reciclagem atual ronda os 34,4%. Combater as alterações climáticas é urgente e, também para esse objetivo, Lisboa tem um plano: mais áreas verdes, transportes com melhor desempenho ambiental e a neutralidade carbónica até 2050.

O mote para a Capital Verde Europeia já está decidido – “Escolhe evoluir”. E, acrescento eu, escolher evoluir, em Lisboa ou em qualquer cidade europeia, também é sinónimo de democratizar a mobilidade suave. Assistimos, a nível global, a um apelo claro à utilização de modos suaves e de transportes coletivos e à substituição das frotas automóveis convencionais por outras elétricas. Motivos não faltam: a Organização Mundial de Saúde alerta para ​o número de pessoas que respira ar poluído e para o número de mortes decorrente desta realidade.​ Responsável por 20% das emissões de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, é indiscutível que os carros assumem um papel cimeiro nesta realidade.

Apesar das alternativas de mobilidade – que assumem formas tão diferentes como trotinetes ou bicicletas, elétricas e convencionais, em sistema partilhado ou não – e das várias restrições impostas, o número de carros, em Portugal, ainda ronda os 620 por cada mil habitantes e, só em Lisboa, entram diariamente 370 mil carros. O que falta? Além de uma contínua melhoria das infraestruturas, própria da adaptação às novas alternativas de mobilidade, falta-nos mudar os hábitos. E estes são, muitas vezes, mais desafiantes que a definição de políticas ou a construção de infraestruturas.

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A propósito da Capital Verde Europeia, a Câmara Municipal de Lisboa diz “Precisamos dos indiferentes, dos conformados e dos céticos”. E precisamos mesmo. Precisamos de todos. Precisamos dos que perdem horas à procura de estacionamento, dos que fazem viagens sozinhos num carro que poderia levar cinco pessoas e dos que duvidam do tempo de vida útil das trotinetes.

Ao entrar na cidade, as alternativas sustentáveis, onde as trotinetes elétricas se incluem, imperam e impõem-se como a opção mais rápida, eficaz e acessível. Por oferecerem um sistema de mobilidade individual, as trotinetes são capazes de manter a taxa de ocupação média de 100%, o que não acontece nos serviços de carsharing, por exemplo, e, além disto, as não emitem CO2​ para a atmosfera. Sobre a durabilidade dos materiais, importa também esclarecer que 97% dos constituintes da trotinete são recicláveis, bem como 70% dos constituintes das baterias.

“Sustentabilidade” esteve na corrida para a ​Palavra do Ano 2019​. “Trotinete” também – ​há mais de seis mil, em Lisboa​. Nunca se falou tanto dos modos de transporte suave, mas a mudança é lenta e difícil. No fim de contas, falamos de uma potencial revolução cultural do paradigma que regula a mobilidade há quase 100 anos. A Câmara de Lisboa comprometeu-se em dar à cidade novos autocarros “de elevado desempenho ambiental” até 2023, duplicar a frota de elétricos rápidos, aumentar em 40% de oferta de transporte público rodoviário na área metropolitana e ter ciclovias que liguem toda a cidade para que sete em cada dez viagens sejam feitas em transportes públicos e modos ativos. As operadoras de mobilidade esforçam-se por oferecer alternativas aos cidadãos e já disponibilizam passes mensais e semanais para quem recorre às trotinetes frequentemente. A última palavra é de quem escolhe. E escolher evoluir também é dizer sim à mobilidade elétrica, partilhada e suave.