Ainda antes de começar, um ponto prévio. Que, digam o que disserem, é o tipo de ponto a fazer quando se pretende assinalar algo anteriormente a um outro algo. E eu aprecio rigor. Bom, começo então por pedir desculpa ao Secretário-Geral da ONU, porque não estou disponível para o projeto que ele apresentou na passada segunda-feira. Anunciou António Guterres que a Humanidade enfrenta um “suicídio coletivo” se não forem redobrados os esforços para combater as alterações climáticas. Ora bem, quero então esclarecer que, independentemente de haver, ou não, o tal redobro de esforços, não estou disponível para participar nisto do suicídio colectivo.

Desde logo porque, neste caso, não percebo bem o conceito de suicídio colectivo. Portanto, o clima apresenta uma perigosidade nunca vista na história da Humanidade, que acabará por implicar o nosso falecimento. Até aqui, todos de acordo. Certo? Mas se o clima nos vai dizimar de qualquer forma, para quê precipitar o bater de bota por via do tal suicídio colectivo? Falo por mim, mas eu gostava de aproveitar o lapso de tempo que mediará entre o suicídio colectivo e o efetivo fim da espécie humana por intermédio de esturricamento. Eh pá, quero aproveitar nem que estejamos a falar de míseros cinco, sete minutos. Sempre dá para fazer um xixi para o caminho. Que depois sabe-se lá onde é que se consegue encostar.

Além do mais, confesso não ser fã desta abordagem colectivista ao suicídio. Porque o suicídio colectivo é muito giro, sim senhor, de início está tudo porreiramente a suicidar-se e tal, mas em menos de nada a malta começa a encostar-se. “Eh pá, já não tenho muita vontade de me suicidar. Suicida-te aí por mim, se faz favor. Para a próxima suicido-me eu, prometo.” É isto. E em menos de nada o pessoal brioso suicida-se e depois não sobra ninguém para se suicidar por conta dos molengas que não estão sequer para subir a um escadote quanto mais para fazer um baraço. No fim vai-se a ver e acaba imensa gente viva. É uma desgraça.

Mas pronto, para aligeirar um pouco falemos de transexualidade. Não que tenha muita vontade de abordar o assunto, confesso, mas por estes dias dá ideia de não se falar de outra coisa. Aliás, quem está até um bocado ressentido com isso é o tempo. Que era assunto quase exclusivo das conversas de elevador e hoje vê a sua posição ameaçada pelas rápidas trocas de impressões sobre a problemática trans em ascensores.

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E não admira que assim seja, porque há novidades fresquinhas no que à problemática da identidade de género diz respeito. O dicionário Merriam-Webster mudou a sua definição de “female” para incluir “having a gender identity that is the opposite of male”. Mau. Mas como assim? Então “sexo” e “identidade de género” não eram coisas completamente diferentes? Ocorrem-me as míticas palavras de Neil Armstrong: “É um pequeno passo para um dicionário, um salto gigante para a chalupice da Humanidade”. E eis que, num ápice, a ideia do suicídio colectivo ganha todo um novo elã.

Para fechar, e despachados os temas relevantes, nada superior a um fait divers. Então não é que os funcionários da Soflusa iniciaram ontem um ciclo de quatro dias de greve. Sim, sim. Juro. Também manifestei estupefacção ao saber, mas confirma-se. E é mesmo por este tipo de paralisação não ser propriamente original e eu temer que os utentes demonstrem ressentimento face aos trabalhadores da empresa, que me ocorreu uma campanha publicitária de promoção da Soflusa. Diria assim:

Lembram-se da desgraça do Titanic?
Soflusa: não fazemos greves, salvamos vidas.