Aleluia! Afinal ainda há esperança para a nova geração. É costume dizer-se que os jovens não se interessam pela política, que não estão a par da actualidade, que não se informam nem se querem informar, mas basta ver as notícias sobre as colocações no ensino superior para percebermos que afinal estão atentíssimos. É que, pela primeira vez em muitos anos, o curso com a média mais alta não é medicina. Significa que os melhores alunos não querem ser médicos, provavelmente porque lêem jornais e sabem que é uma profissão sem futuro em Portugal. Ganham pouco, são obrigados a trabalhar sem descanso e ainda têm de ouvir bocas do Governo se forem para o privado. Os mais inteligentes já toparam. É uma questão de tempo até a média de entrada em medicina ficar igual ao valor normal da tensão arterial. Altura em que os candidatos a médicos não vão compreender essa analogia. Um dia, vamos entrar num consultório e ficar contentes se o doutor usar o estetoscópio no sítio certo.

Em vez de medicina, o curso com a nota de entrada mais alta é Engenharia Aeroespacial. O que confirma estarmos perante jovens que acompanham a situação económica do país. São das pessoas mais inteligentes daquela idade e têm a capacidade de perceber que o melhor é escolherem uma ocupação que os obrigue a emigrar. Como em Portugal não há indústria aeroespacial, quem tira esse curso já tem uma boa desculpa para se pisgar do país. É como um estudante suíço que queira ir para a pesca do bacalhau. Em princípio, é porque está mortinho para descer da serra.

Não sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, se não conseguirem arranjar trabalho no estrangeiro, ao menos vão saber construir um foguetão para os levar para longe daqui. Aliás, quantos dos OVNI que têm sido avistados nos últimos tempos serão recém-licenciados portugueses à procura de melhores condições profissionais?

Há outra hipótese: o investimento na indústria da defesa, com o surgimento de várias novas empresas pode significar que em breve vamos começar a construir o primeiro míssil português. Estes universitários podem estar a contar com isso. Se é o caso, vão ter de se aplicar na qualidade dos explosivos. Para já, os rebentamentos que houve no Ministério da Defesa não fizeram mossa nenhuma ao Governo.

Recentemente, um estudo concluiu que a diferença salarial entre quem tem o ensino superior e quem tem apenas o secundário caiu de 51% para 27% na última década. Não é preciso ser um dos marrões que entrou agora em aeroespacial para perceber que, daqui a mais ou menos 10 anos, vão todos ganhar o mesmo. E, daqui a 20, vai-se valorizar mais um trabalhador que nunca tenha gritado um “efe-erre-á” na vida.

Entretanto, o curso com a média mais baixa de entrada este ano é Enologia na Universidade de Évora. Ou seja, daqui a uns anos, o licenciado que olhar para o salário e ficar deprimido está tramado. Se quiser ajuda médica, vai se atendido por um psiquiatra burro. Se quiser afogar as mágoas no vinho, só vai ter à disposição a zurrapa produzida por cábulas.

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