Poucas actividades são olhadas com tanto sarcasmo e condescendência como falar do tempo. Acha-se que há assuntos de que é mais importante falar, e que, francamente, falar do tempo é uma perda de tempo. No entanto quase todos nós falamos de coisas pouco importantes, cultivamos barulhos sem sentido, e reiteramos coisas óbvias. Gostamos de imaginar a parte verbal da nossa vida como o produto de assuntos de importância crucial, frases bem construídas e observações astutas; mas a verdade é que viver parece requer ser-se capaz de falar do tempo; e que uma vida ocupada com grandes temas é por vezes um pouco inóspita.

Falar do tempo tem duas funções diferentes: a função de poder dizer qualquer coisa sem exprimir a nossa opinião; e a função de poder exprimir a nossa opinião de modo a não podermos ser contraditados. A primeira destas funções torna para nós possível ter deliberadamente conversas sobre coisa nenhuma. Nenhum dos participantes em conversas assim o ignora. Conversas sobre o tempo deste tipo não são um aperitivo para conversas mais profundas: tal como um amigo de férias será sempre um amigo de férias, assim nunca correm o risco de se tornar conversas sérias. São simplesmente um modo de falar sem termos que falar de nós, dos nossos sentimentos, e das nossas opiniões; e um modo de exprimir a simpatia de baixa intensidade que faz as coisas durar.

A segunda função que as nossas inclinações meteorológicas cumprem é oposta e tem justamente a ver com as opiniões que nos importam mais. Falar do tempo permite-nos falar com impunidade e deliberação de nós e dos nossos sentimentos; permite-nos contemplar o futuro do ponto de vista da nossa experiência individual; e permite-nos insinuar que as agitações que sentimos devem mover a todos. Isto nota-se melhor quando o assunto da conversa é a própria alteração do tempo, o assunto de todos os assuntos, e um favorito perene. Nem o assírio mais remoto alguma vez achou que o tempo não está mudado ou não vai mudar. Todos nos sentimos inclinados a achar que os Invernos passaram a ser Verões, e que mais tarde ou mais cedo um dinossauro atingirá o Japão.

Em duas coisas parece a maioria ter estado sempre de acordo: encaminhamo-nos desta vez para uma catástrofe inevitável; e cada um de nós conseguiu entrever os últimos dias da humanidade a partir da chuva e do bom tempo que o afligiu. Pomos o nariz de fora e prevemos o futuro; e soluçamos depois por efeito do conteúdo das nossas profecias. As aflições auto-infligidas são a medida mais antiga de todas as coisas; mas têm só uma relação ténue com o conhecimento das coisas. Talvez por isso falar do tempo seja o modelo de todas as conversas: não só daquelas em que não temos nada para dizer, como daquelas em que não conseguimos dizer coisa nenhuma.

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