Em Portugal, a maior causa de morte é a doença cardiovascular, na qual incluo a doença cerebrovascular, com especial destaque para o AVC que constitui o evento clínico que mais mata no nosso país. Neste sentido, é fundamental que as pessoas entendam o que contribui para que ocorram eventos cardiovasculares e em que medida podem diminuir ao máximo o risco individual de sofrer estes eventos que além da mortalidade, representam uma grande causa de incapacidade física e de alta dependência de cuidados de saúde.

Ao longo dos anos, várias doenças e hábitos têm sido associados a um aumento do risco cardiovascular, como a hipertensão arterial, o tabagismo, o colesterol alto, a diabetes e a obesidade.

Com a investigação clínica, que envolve um extenso trabalho desde a colheita e interpretação de dados ao tratamento dos mesmos pelos epidemiologistas e matemáticos, foi possível extrapolar modelos que hoje permitem aos médicos, na sua consulta, estimar a probabilidade de uma pessoa desenvolver doenças cardiovasculares ao longo de um determinado período de tempo.

Existem várias ferramentas e equações disponíveis online para calcular o risco cardiovascular, mas recomenda-se que não o faça sem a ajuda de um médico que sabe interpretar os resultados. Em particular, as mais utilizadas são as recomendadas pelas Sociedades Americana e Europeia de Cardiologia e incluem nos seus cálculos fatores como a idade, o género, a pressão arterial, o colesterol total, o colesterol HDL (o “bom” colesterol), o tabagismo e a presença de diabetes.

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Todos os adultos acima dos 40 anos, em especial os que apresentam doenças associadas a um aumento do risco cardiovascular, devem fazer esta avaliação com o seu médico assistente. Apesar de ser uma estimativa, estes modelos matemáticos assentes na evidência atual atestam que a soma de fatores de risco não é linear, mas antes exponencial. Por exemplo, uma pessoa que sofra de colesterol alto e diabetes terá muito mais que o dobro do risco cardiovascular do que uma pessoa que sofra “só” de colesterol alto.

No entanto, é importante notar que este cálculo não leva em consideração todos os possíveis fatores de risco ou características individuais, mas também têm o seu impacto e devem ser avaliados com o seu médico assistente. Falo-lhe da história familiar de doença cardiovascular, da obesidade, de outras alterações analíticas potencialmente associadas ao aumento do risco, da vacinação contra infeções (sobretudo, as respiratórias, que recentemente têm demonstrado proteção contra eventos cardiovasculares) e, claro, o sedentarismo.

A avaliação é sobretudo útil para que doentes que nunca tiveram um enfarte do miocárdio ou AVC, saibam qual é o real risco de vir a ter nos próximos dez anos de vida – por normal, é este o tempo utilizado para a estimativa –, sendo que, com o desenvolvimento na área da inteligência artificial, o futuro proporcionará modelos cada vez mais exatos com este objetivo.

Na consulta, doentes com risco cardiovascular estimado mais alto ficam habitualmente mais sensibilizados sobre a necessidade de cumprir com as medidas de estilos de vida e com a terapêutica aconselhada, não por medo, mas sobretudo pela informação e compreensão da necessidade em baixar a probabilidade de desenvolver uma doença.

Por isso, numa era em que a sustentabilidade dos sistemas de saúde tem sido colocada mais em causa, é fundamental envolver e motivar os cidadãos para a promoção e prevenção de enfartes do miocárdio, AVC ou outros eventos cardiovasculares potencialmente fatais mediante uma correta e individualizada avaliação do seu risco cardiovascular.

Dê o primeiro passo, fale com o seu médico e peça-lhe ajuda com este cálculo e aposte na promoção de uma vida mais saudável.

Gonçalo Sarmento e Costa é médico internista na ULS Entre Douro e Vouga, onde realiza a consulta de Risco Cardiovascular. É investigador em ensaios clínicos associados a doenças cardiometabólicas e doutorando em Geriatria e Gerontologia pela Universidade do Porto. 

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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