Por ser dramaticamente eficaz no controlo da disseminação da Covid-19, o confinamento dos cidadãos nos seus domicílios tem sido uma das medidas preventivas mais utilizadas pelas autoridades de saúde.

Com esta resolução, tem-se procurado, para largos estratos da população trabalhadora, condicionar as atividades laborais e restringir a necessidade de transportes, minimizando, assim, a mobilidade e os contactos pessoais. O encerramento concomitante dos ginásios/clubes de saúde e de instalações desportivas ampliaram a restrição de liberdade coletiva de circulação, com importantes sequelas, sobretudo para os mais idosos.

Todos sabemos que a atividade e o exercício físico são benéficos para a saúde e melhoram a qualidade de vida. Mas poucos terão uma ideia de quão fisicamente prejudicial pode ser uma redução da sua prática, mesmo por um não muito longo período de tempo.

O descondicionamento físico origina sintomas orgânicos gerais: rigidez e dores músculo-esqueléticas, mal-estar, fadiga, palpitações e sensação de “falta de ar” relacionados com a baixa tolerância ao esforço. Estes estão relacionados com a perda da massa e função musculares (isto é, sarcopenia), por desuso, e com a acumulação corporal de tecido adiposo, que se deve ao desequilíbrio entre a ingestão de calorias – que se mantém idêntica – e o consumo de energia – que se reduziu.

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Os resultados da inatividade física prolongada são mais aparentes e graves e a sua carga mórbida é tanto somática – obesidade, hipertensão arterial, diabetes tipo 2, osteoporose e respetivas fraturas, doença cardiovascular – como mental – insónia, ansiedade, stress, angústia, depressão e declínio cognitivo.

Se os níveis de forma física da população, sobretudo a mais idosa, são já genericamente insuficientes, esse seu estado, durante a pandemia, degradou-se seriamente. A retenção na residência, o trabalho domiciliário à distância e o receio de contrair a infeção originaram um continuum de inação física com proporções e consequências ainda por determinar.

Apesar de a regra ser “fique em casa”, neste segundo confinamento mantiveram-se algumas exceções, entre as quais a de “praticar exercício físico e desporto ao ar livre, desde que sozinho”. Contudo, a maioria das pessoas, por receio, inércia ou necessidade de ser acompanhado para ter auxílio naquela prática, acabou por não aproveitar essa oportunidade.

Agora, o regresso ao exercício físico deve ser cuidadoso, suave e progressivo, sem excessos ou acidentes para evitar lesões ou outras consequências nefastas. O exercício ao ar livre é recomendado, com atividade inicial ligeira e evoluindo, paulatina e sucessivamente, para níveis superiores de exigência física.

A motivação é essencial para que a prática do exercício se torne costumeira e regular. Para isso, o controlo dos indicadores de desempenho (recorrendo a aplicações, no telemóvel ou no relógio) e a partilha com parceiro(s), cúmplice(s) na mesma vontade e ação são fatores que potenciam a sua prossecução. Deverá, contudo, ter-se em conta que a pandemia ainda não cessou, havendo, por isso, que manter as já bem conhecidas medidas de prudência sanitária.

Este é todo um esforço coletivo que deve ser parte específica de um Programa Nacional mais amplo, tutelado pela Direção Geral da Saúde, com a chancela e contributos das sociedades científicas médicas e outras com interesse nestas matérias, e a gestão de uma equipa dinâmica e multidisciplinar que defina os objetivos, desenhe os métodos e desenvolva os meios para o realizar com eficácia e sucesso.