Hoje em dia, mudar de carreira, às vezes mais do que uma vez na vida, é comum. Ao contrário das últimas gerações, é menos provável mantermo-nos na mesma carreira, ou até no mesmo emprego, por um longo período de tempo e menos ainda para toda a vida.

Mudar de carreira está na moda. Mudar para a área da tecnologia ainda mais.

Do ponto de vista de quem quer mudar de carreira para a área tecnológica, ou dentro da mesma para outro papel, existem várias motivações. Encontrar a sua vocação ou propósito, uma maior perspetiva de empregabilidade e o aumento de rendimentos costumam ser as motivações mais frequentes.

Ainda assim, além da formação, formal ou informal, é preciso muita determinação e resiliência. Este passo representa sair da zona de conforto e voltar à mentalidade de aprendiz. Exige trabalhar muito e ser curioso. Por outro lado, é importante saber gerir as expetativas: escolher o momento adequado para a mudança, reconhecer que inicialmente poderão existir alterações de salário e perceber se mudar dentro da atual entidade empregadora é uma possibilidade ou se será mais benéfico procurar uma alternativa. Resumindo, ter a mentalidade certa e um plano sólido.

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Felizmente, há cada vez mais empresas abertas a perceber o potencial dos candidatos que mudaram de carreira, mostrando-se recetivas a este tipo de perfis nos processos de recrutamento e a possíveis mudanças dentro da própria organização. E ainda bem. Porque embora o percurso destes profissionais não seja convencional e não encaixe num conjunto de competências-padrão, o que à primeira vista podem parecer contratações arriscadas devido a um percurso profissional variável, contribuem com vantagens inegáveis para uma organização.

Quem muda de carreira é, por norma, alguém determinado e curioso. São pessoas menos avessas ao risco, normalmente com uma grande paixão por aprender e não têm medo de começar de novo. Têm uma mentalidade de crescimento. E, convenhamos, é preciso muita coragem e persistência, para se mudar o rumo profissional.

Profissionais que mudam de carreira trazem uma nova perspetiva à organização, novas metodologias e competências e conhecimentos diferentes que exploraram em experiências anteriores, o que se traduz num olhar mais holístico e abrangente sobre os desafios presentes. Tendem a ter uma mente aberta, estando naturalmente mais recetivos a novos desafios e a pensar de forma criativa. São flexíveis o suficiente para se adaptarem a novos métodos de trabalho e a novos hábitos, o que aumenta a probabilidade de trabalharem em equipa de forma eficaz.

Este conjunto variado de habilidades e experiências traduz-se, muitas vezes, em competências transferíveis, tais como a capacidade de trabalhar em equipa, o saber comunicar, o ser organizado, ter um pensamento analítico, que provam ser uma mais-valia para um futuro empregador. É uma grande vantagem poder ter alguém na equipa que se ajuste com facilidade a uma diversidade de situações e desafios e seja capaz de extrair o melhor de cada circunstância.

A adaptação das políticas de recrutamento e retenção para considerar candidatos com experiências diversas é uma ótima forma de encontrar e manter o melhor talento. Mas há mais. Criar oportunidades de mudança internamente, dar formação, dar acesso a mentores (aspeto extremamente importante para o sucesso da transição) e serem francos com os candidatos em relação às expetativas, tanto no que diz respeito ao nível de responsabilidade como em relação à remuneração, são questões cruciais.

Ter um percurso profissional não tradicional é bom para as pessoas e vantajoso para as empresas.

Quem não se sente realizado profissionalmente deve procurar mudar, mas tendo sempre em mente que é preciso muito trabalho, coragem e resiliência. E as empresas devem começar a considerar candidatos com percursos menos tradicionais. Diversidade é riqueza.

A Margarida trabalha na área da experiência do utilizador como estrategista e designer e é mentora de profissionais que procuram mudar de carreira para esta área. Interessa-se por educação digital e desenvolvimento de talento. Apoia também o desenvolvimento profissional de mulheres na área tecnológica através da participação nas comunidades Geek Girls Portugal e Portuguese Women in Tech.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.