Numa nação onde a virtuosidade na engenharia fiscal é tão reverenciada quanto  um sublime néctar do Douro, eis que se apresenta o tão celebrado superávit  orçamental de 7.3 mil milhões de euros em 2023, como um prestidigitador de  primeira categoria a merecer os mais efusivos aplausos. Todavia, como em toda  representação de ilusionismo de requintada estirpe, os demônios residem nos  detalhes, ou, neste caso, na flagrante ausência deles.

A Magnífica Desaparição do Investimento Público

Com a destreza de um maestro das finanças, o governo conseguiu fazer  desvanecer-se 2.5 mil milhões de euros destinados ao investimento público,  executando apenas mais 700 milhões de euros em comparação com o exercício  anterior. Uma proeza que faria corar de inveja até o mais eminente ilusionista  de palco verde, mas que, infelizmente, não é acompanhada pelo mesmo  entusiasmo quando se trata de promover o bem-estar através da manutenção  das infraestruturas e serviços públicos.

A Proliferação Exponencial de Tributos e Contribuições

Enquanto o investimento público se desvanecia, a receita fiscal e contributiva  inflava em 10 mil milhões de euros, superando as projeções do Orçamento do  Estado de 2023 por uma margem confortável de 8.5 mil milhões de euros. Um  verdadeiro prodígio da multiplicação que, ao contrário das epopeias bíblicas de  multiplicação de pão e peixe, não nutre a população, mas antes alimenta a  voracidade insaciável da máquina fiscal.

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O Inexorável Declínio dos Serviços Públicos: Uma Tragédia Anunciada

E quanto aos serviços públicos, esses coadjuvantes desafortunados nesta  representação orçamental? Com o diminuto investimento, encontram-se numa  situação que oscila entre o caricato e o desesperante, encaminhando-se, com a  inevitabilidade de um drama clássico grego, para o seu colapso iminente. Uma  ironia que seria deveras saborosa se não fosse tão amarga para aqueles que  dependem desses serviços.

Conclusão: O Suposto Superávit como Espelho Distraído

Assim, o superávit orçamental de 2023 é menos uma prova de responsabilidade  fiscal e mais um espelho de mão utilizado para desviar a atenção enquanto a  outra mão aumenta as tributações e negligencia os serviços primordiais. Uma  manobra de distração que, embora possa iludir alguns incautos, não passa de  uma artimanha para aqueles que têm discernimento para vislumbrar para além  do véu da engenharia financeira criativa. Resta-nos aguardar que o próximo ato  desta farsa revele uma política orçamental menos pretensiosa e mais  genuinamente sensata.