Provavelmente poucos sabem, mas Adolfo Mesquita Nunes é fã do festival da Eurovisão. O facto seria irrelevante, não fosse o caso de Adolfo Mesquita Nunes ter trazido o tema para o 27º congresso do CDS-PP realizado nos dias 10 e 11 de março de 2018, em Lamego. Do alto da tribuna, Adolfo Mesquita Nunes afirmava, que com a mesma convicção que havia apostado que Portugal ganharia o Festival da Eurovisão, apostava agora que o “Francisco da Juventude Popular” seria deputado pelo CDS-PP à Assembleia da República. A convicção de Adolfo Mesquita Nunes não era infundada, já que deste congresso sairia o grupo Portugal@comfuturo, coordenado pelo próprio Adolfo Mesquita Nunes, e encarregue de organizar e preparar um grande programa eleitoral para as legislativas. Segundo ele próprio, este seria um programa para ganhar as eleições, razão pela qual estaria garantida a eleição de Francisco Rodrigues dos Santos a deputado.

Adolfo Mesquita Nunes perdeu a aposta. Não porque o caminho não estivesse aberto para Francisco Rodrigues dos Santos, já que este era o número dois numa lista encabeçada por Cecília Meireles pelo círculo eleitoral do Porto, mas porque nas eleições legislativas de 2019 o CDS-PP viria a conhecer o pior resultado de sempre da sua história. A queda sem precedentes nas eleições legislativas de 2019 abriu caminho para uma mudança de liderança no 28º Congresso Nacional do CDS-PP. Francisco Rodrigues dos Santos via a sua moção estratégica ser a mais sufragada e a sua lista para a Comissão Política receber 65,7% dos votos dos delegados, com o apoio incontestável das bases. Estava eleita a nova liderança do CDS-PP. Adolfo Mesquita Nunes não quis entrar na corrida e em jeito de “addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye”, afastava-se de uma participação ativa no partido para se dedicar a uma nova vida profissional. Estávamos em janeiro de 2020.

Passou pouco mais de um ano e Adolfo Mesquita Nunes regressa estrondosamente. Perdoar-me-ão que recorde o “Depois do Adeus” interpretado magnificamente por Paulo de Carvalho no festival de 1974.  Num artigo de opinião publicado no Observador, Adolfo Mesquita Nunes pede a convocação de eleições internas e lança as bases da necessidade de um congresso extraordinário, a deliberar em sede de Conselho Nacional, que se realizará já neste sábado, 6 de fevereiro.

Francisco Rodrigues dos Santos apresentará uma moção de confiança junto do Conselho Nacional, órgão máximo do partido entre as eleições, convicto que os líderes avaliam-se pelos seus resultados, no tempo próprio. O percurso de um partido, pluralista e democrático, não se faz apenas pela mão do seu dirigente. É tempo de pugnar pela voz do partido, canalizar esforços para as eleições autárquicas, inverter os resultados de 2019 e retomar a trajetória de crescimento que Paulo Portas tinha relançado no partido. Recordemos que Francisco Rodrigues dos Santos herdou da antiga direção o pior resultado eleitoral de sempre. Resultado esse, que contribuiu em grande medida para abertura de um espaço que viria a ser ocupado pelo crescimento de dois novos partidos à direita do CDS-PP. É, por isso, imperioso construir um processo de reunificação e reafirmação do partido num espaço político onde o CDS-PP é insubstituível e a sua presença moderada é hoje mais importante e necessária do que nunca.

Creio que para Adolfo Mesquita Nunes não será inédito recordar Carlos Mendes no Festival da Canção de 1972, “que venham todos de vontade”, “venham os novos e os velhos”. Não sendo original o meu apelo, reconheço a força que este transmite e ao qual, estou certo, Adolfo Mesquita Nunes não será indiferente. O perigo da premente circunstância em que o CDS-PP se encontra deve convocar-nos a todos para o contributo de propostas concretas. Mas onde muitos veem incidentes e crise interna, pode na verdade estar o aguilhão necessário para um despertar que impeça o esboroar eminente do partido.

Voltando novamente ao discurso de Adolfo Mesquita Nunes no 27º congresso do CDS-PP, recordo, por fim, uma das imagens que considero mais marcantes desse fim de semana, quando “Chicão” salta para cima do palco para um abraço a Adolfo Mesquita Nunes. Abraçaram-se na força de tudo o que os une e no respeito pelo que os separa, na firme convicção da matriz democrata-cristã fundadora do CDS. Saíram de cena juntos e deixaram o congresso ao rubro. Haverá sempre tempo e espaço para todos na grande casa da direita democrática portuguesa.

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