2024 será ano de eleições. Em Portugal, vamos ter eleições regionais, nos Açores, europeias e legislativas, com a escolha de um novo primeiro-ministro para liderar o governo português. Em termos internacionais, é impossível fugir às eleições nos EUA, que prometem recolocar Donald Trump no centro de todos os debates. Mas qual será o papel da tecnologia e, mais especificamente, da Inteligência Artificial nas eleições?

Já se sabe que as redes sociais são usadas para disseminar, de forma mais ou menos clara, as mensagens dos diversos candidatos. Aliás, alguns recusam os tradicionais debates televisivos e outras ações tradicionais em detrimento de campanhas levadas a cabo via Whatsapp ou Facebook. Fala-se também da possibilidade de a tecnologia poder alterar o sentido de voto dos cidadãos e até da intervenção de países terceiros  nas eleições de outra nação soberana.

Ainda que se fale, principalmente, do papel nefasto que estas novas tecnologias podem ter na criação de desinformação, aumentando exponencialmente o efeito das fake news, pessoalmente, acredito que podemos ter muitos mais contributos positivos para as eleições do que negativos. E o principal deles é o papel de profissionalizar as plataformas de comunicação de campanhas com os mais diversos orçamentos, tornando a parte operacional do jogo democrático muito mais equilibrada.

Se, tradicionalmente, a produção de conteúdos de qualidade (em texto, áudio ou vídeo) e a capacidade de replicá-los (por meio da imprensa, redes sociais ou propaganda) era diretamente proporcional à capacidade financeira do candidato, agora isso já não é necessariamente verdade. Hoje já não há a necessidade, por exemplo, de um candidato gastar horas do seu dia, que durante a campanha são deveras escassas, em longas sessões fotográficas. Tudo isto, para as grandes campanhas, é corriqueiro. Para as pequenas, é um esforço descomunal. Da mesma forma, ter uma equipa de representantes capazes de falar pela campanha sobre temas complexos do plano de governo exige uma grande (e dispendiosa) equipa de comunicação, deixando em desvantagem campanhas que priorizam os especialistas do planeamento em detrimento do marketing de campanha. Agora, com um representante munido de Inteligência Artificial e com uma base estruturada de propostas de trabalho, as ideias do candidato podem ganhar um alcance nunca antes imaginado, com o seu representante disponível 24 horas por dia, o que lhe permite ter mais tempo e meios para o que interessa: o debate de ideias e planos para o país e as cidades.

A mesma IA pode ajudar a escrever programas eleitorais, pegando nas ideias base do candidato e, através de chatbots, pode declinar as ideias do programa, respondendo, um a um, aos eleitores que tenham dúvidas. Isto pode fazer parecer que o verdadeiro candidato não é o A ou o B mas a IA, mas não é assim. Bem usada, a IA é uma grande ajuda e uma forma simples de chegar a mais eleitores, de forma personalizada. Além disso, este tipo de sistema pode ajudar a manter a conversa com os cidadãos ao longo do tempo e não apenas no momento das eleições, estendendo o diálogo democrático.

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