Em 2020 fui eleito do parlamento romeno através da Aliança para a União Romena (AUR). O nosso partido surgiu como uma nova esperança, desafiando as normas e as regras do sistema político e dos partidos tradicionais que nasceram das cinzas do regime comunista. Surgimos como uma forma de dizer basta aos sucessivos escândalos políticos e, simultaneamente, para afastar a elite política que governava desde o fim do regime tirânico de Ceausescu.

Eu – e os romenos em geral – olhamos para o Ocidente com um sentimento misto de orgulho e de exemplo. Com o andar do tempo, tenho-me apercebido do delicado balanço entre o progresso e a tradição, reconhecendo que existe uma necessidade imperiosa de conseguir encontrar esse meio termo.

Com o avançar da agenda progressista, mantive-me firme na convicção da necessidade de manter a nossa herança cultural e identitária, sobretudo na sua preservação perante as ideias provenientes do exterior, tendo em conta que a Roménia se encontra na fronteira entre o Ocidente e o Leste da Europa.

A democracia trouxe o confronto entre a ascensão neomarxista e as ideologias tradicionais, desafiando os alicerces da nossa sociedade. Ao mesmo tempo, o Leste Europeu emergiu como um bastião dos valores tradicionais e conservadores, uma espécie de guia em tempos incertos. As nossas experiências com os regimes comunistas foram mais do que suficientes para percebermos que a ideologia neomarxista é tudo aquilo que não queremos e que não nos define. Assumimos um claro compromisso com os princípios do que nos define como nação, permanecendo leal aos valores tradicionais, mas também com a modernidade em que vivemos, que não pode nem deve ser baseada nos princípios neomarxistas. É esta a complexidade da política moderna, que se verifica na Roménia, como em Portugal.

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No decorrer do atual discurso político, a AUR procura ser a voz do povo romeno, apoiado pela dedicação e pela paixão de jovens comprometidos com a herança da Roménia. A sua visão, baseada no patriotismo e numa procura de renascimento moral, mantendo os valores históricos e a família no seu epicentro, tem encontrado eco nos eleitores.

Não obstante estas aspirações, somos catalogados como extremistas por quem se apoderou dos corredores do poder, por todos aqueles que, do alto da sua torre de marfim, tentam propagar o medo e assim manipular a população. O nosso partido representa a ideia de que a mudança positiva e o progresso não precisam de ser realizados à custa da identidade cultural e moral do povo romeno.

Devemos rejeitar a divisão maniqueísta e manipuladora das esquerdas progressistas e abraçar um futuro guiado pela unidade, com reconhecimento e respeito por quem pensa de forma diferente. Os valores tradicionais não são incompatíveis com o progresso, mas complementares. Não é catalogando o nosso partido como antidemocrático que a defesa do progresso avançará. A democracia baseia-se no convívio entre pessoas de diferentes crenças e valores, que prosseguem diferentes caminhos políticos e sociais.

O nosso presidente, George Simion, criou o partido com base na luta anticorrupção e com o desejo de reunificação com a República da Moldova, o que é também apoiado pelos líderes moldavos.

Somos um movimento baseado na liberdade, nomeadamente nas liberdades de escolha e de expressão. Isto não são apenas palavras, são princípios da democracia cristã, sempre com respeito pelas outras religiões, pela família e pela liberdade. São os valores partilhados por um cada vez maior número de romenos. A AUR não é apenas sobre política, mas é sobretudo pela defesa dos valores que fizeram o que a Roménia é hoje. Num mundo onde o discurso político é desagregador e desencorajador, a AUR quer ser um exemplo de unidade e determinação.

O crescimento da AUR é um testemunho do espírito de resiliência da população. O seu euro-realismo, coloca a soberania no coração da Europa, defendendo a Europa das Nações. É este o aspeto central da nossa campanha política europeia. É nesta base que milhares de romenos nos têm confiado a esperança num futuro de estabilidade e prosperidade. Para que as palavras se transformem em ações.

Longe de defender o isolamento da Roménia, mantemo-nos firmes ao lado dos ideais e dos valores transatlânticos, não deixando de questionar determinadas políticas defendidas dos dois lados do oceano. Somos por uma Europa cada vez mais próspera e nunca fomos partidários da saída da União Europeia. Por isso mesmo, fazemos parte da família do Grupo dos Conservadores e Reformistas no Parlamento Europeu, que defende uma Europa forte, mas com respeito pela diversidade.

A Roménia e Portugal estão ligados por uma herança linguística e cultural latina, mas também por uma forte resistência conta qualquer tipo de ditadura. Não defendemos a Roménia comunista que foi elogiada por Otelo Saraiva de Carvalho como um exemplo para Portugal. Queremos um renascimento democrático baseado em valores tradicionais que se conciliam com o progresso. Juntos poderemos defender as nossas culturas e as nossas identidades na União Europa. Para que a História seja o nosso guia para o futuro e que as nossas raízes possam ser a base do progresso democrático europeu.