Da janela da minha casa vejo as árvores a anunciar a Primavera. São lindas a desabrochar. Sem vergonha, sem medo de há muito existirem, faz parte da sua “história” anunciarem a Primavera.

O Mundo tem a sua História, os países têm a sua História (ou passado). Nós temos a nossa.

Contrariamente às árvores floridas que vejo da minha janela, uma “nova vaga” proclama que a História só pode ser História se for o espelho de uma “certa ideologia”.

Os Talibãs destruíram as gigantescas estátuas dos Budas na província de Bamiã no Afeganistão. Séculos de existência, agora arruinados, faziam parte da História daquele país e faziam parte da História do mundo, qual Património Cultural da Humanidade. Ficaram felizes. Convenceram-se que tinham destruído uma “era obscura”.

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Também Palmira, antiga cidade semita e pérola antiga do deserto sírio, fazendo parte da Rota da Seda, foi arrasada em nome dos mesmos princípios. Os seus templos explodiram, as suas relíquias foram pilhadas. Palmira era marca de uma civilização – agora arrasada.

Toda esta fúria de destruição leva-me a Tolstoi: “Há quem passe pelo bosque e apenas veja lenha para a fogueira.”

Portugueses há, que também só vêem lenha e aspiram atear a fogueira e nela queimar a História. Destruir símbolos considerados marcas do fascismo é pedido na Casa da Democracia.

Será que quem faz tais propostas saberá o significado da palavra História? Será que tal proponente representa o eleitorado socialista? Se assim for, muito mal vai a bancada de António Costa.

A pobreza da Casa da Democracia confrange. De facto, quem lá está passa pelo bosque e só vê lenha e… sangue.

Sangue?! Sim, quem lamenta e afirma a inexistência de sangue na Revolução de Abril desconhece, com certeza, a História. E agride todos os que na época foram banhados em sangue e lágrimas.

Haja respeito pelos que caíram. Haja respeito pelos que banhados em sangue tudo perderam e retornaram a um lugar onde nunca tinham estado, reconstruindo vidas sem encherem Portugal de ódio e vingança.

Haja decoro na Casa da Democracia, onde um dos que nela tem lugar apela à destruição e ao sangue.

Haja sentido de Estado, pois aquele que agora apela à violência já ocupou lugar na hierarquia enquanto Secretário de Estado da Administração Interna.

Haja senso na Casa da Democracia, onde se pede ao Presidente do Tribunal Constitucional que se retrate por escritos do seu passado. Onde já se viu?

Mas tudo está bem articulado. Basta lermos uma carta aberta e os nomes que a subscrevem pedindo “censura nas entrevistas e noticiários”. Acham pouco?

Será que a História resiste a Portugal nestes tempos, enquanto as flores vão desabrochando frente à minha janela?