A credibilidade de um telejornal resiste a muita coisa. Quando, cansado do dia, o espectador se senta e liga a televisão, os focos que iluminam a cara do pivô prometem trazer à luz toda a verdade. A mesa meticulosamente arrumada, quase sem guiões à vista, diz que os factos serão passados sem espinhas, manhas ou confusões. A pose sóbria, a roupa sem um vinco, a voz melodicamente robótica, tudo fala da idoneidade da instituição, tudo tranquiliza. O espectador, talvez aflito da mais recente crise planetária, pode então respirar de alívio, certo de que a realidade fará finalmente sentido. Fica muito fácil acreditar.

Ora, são raros os momentos em que todo este edifício de respeitabilidade treme, mas há-os de vez em quando. São aqueles momentos em que o telejornal é apanhado a dizer uma coisa que o espectador sabe ser mentira, momentos em que este pára, pensa e pergunta: se me mentem no que sei, o que farão no resto?

Foi o que se passou no dia 18 de Junho, no último Domingo. Pelas 20h03, o Jornal Nacional da TVI destacou no canto superior esquerdo do ecrã, sob a fotografia do Padre Mário Rui Pedras e à maneira dos piores pasquins, a seguinte legenda: “Padre pedófilo reza missa”.

Acontece que esse chamariz veio por ocasião do arquivamento da investigação aberta àquele padre, com base numa denúncia de abuso, anónima, sem testemunhas ou a mínima substância, e três meses depois do seu “afastamento preventivo” do culto público. Sim, leu bem: a legenda “Padre pedófilo reza missa” referia-se à notícia do arquivamento da investigação por inexistência de provas. Esta investigação, que por si só levou à lama o bom nome do acusado, concluiu que nenhum indício há de crime, que não há a mínima prova, pelo que qualquer um concluirá que o Padre Mário Rui é o que sempre disse ser: inocente.

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Ora, destes factos, o espectador teria ficado com a mesma ideia, ou seja, que nenhuma razão há para achar que o Padre Mário Rui é pedófilo. Curiosamente, o Jornal Nacional da TVI, com a sua rica redacção e o seu batalhão de jornalistas destemidos, discorda do espectador e da elementar decência. Porque do arquivamento de uma investigação baseada numa denúncia vazia, aquele telejornal, num silogismo prodigioso, retirou que o Padre Mário Rui Pedras… é pedófilo.

Trata-se, como é evidente, de um crime de calúnia, ainda para mais declarado sem pudor, porque cometido em directo, em pleno horário nobre, para toda a gente ver. É um crime que, segundo o nosso brandíssimo Código Penal, pode dar até dois anos de prisão. Aos que prezam a própria honra, católicos ou não, resta esperar que quem da TVI cometeu e permitiu este crime venha a responder em tribunal, porque só assim se reporá a honra de um homem inocente. Mas mais: só assim se prevenirá que alguns órgãos de comunicação social continuem a comunicar mentiras e a destruir reputações com uma indiferença monstruosa.

O facto de aquela legenda se dever, provavelmente, à fome frenética de audiências e ao desejo de superar a concorrência só piora as coisas, porque revela que este órgão de comunicação é capaz de tudo para nos prender os olhos, e a verdade que se dane. A solução é simples: mudar de canal, fechar a televisão, não dar os olhos à rapacidade demagógica de quem, tantas vezes rasgando as vestes contra as fake news, se vai prostituir ao altar das audiências, e pelo caminho cospe num nome inocente. Quando um canal de televisão, ao descarado arrepio da lei, comete um assassinato moral destes, todos ficamos arrepiados.

Aos católicos, em particular, cabe rezar, reagir e pedir aos Senhores Bispos que levantem finalmente a voz contra estas injustiças. É que, num tempo em que o valor supremo é o afago das minorias, resta uma esquecida lá no canto, que não consta da lista aprovada e que ainda se pode odiar e injuriar impunemente: os padres católicos. Só para estes a cultura permite que por uns paguem todos, ou que a culpa de poucos faça de todos presumidos culpados. Que os proteja quem deve protegê-los, que o mundo quer lançá-los aos leões.

Escusado será dizer que a TVI, até se retractar publicamente da calúnia e pedir desculpa ao Padre Mário Rui Pedras, não merece um segundo da nossa atenção, nem um grão da nossa confiança. E volta a pergunta: se nos mentem no que sabemos, o que dirão quando não estamos atentos?

PS. Formas de reagir: 1. reclamar nas redes sociais da TVI, ou através do correio electrónico (relacoes.publicas@tvi.pt) ou por telefone (+351 21 434 75 00); 2. apresentar queixa na Comissão da Carteira Profissional de Jornalista aqui; 3. reclamar na ERC contra a TVI aqui; apresentar queixa à Provedora de Justiça aqui.