A série de acontecimentos a que aqui me refiro tem início em 16 de Dezembro de 2017, quando o jornal The New York Times anuncia no seu artigo Glowing Auras and “Black money” a existência de um programa secreto do Pentágono para estudar OVNI´s ou, como agora se chamam, fenómenos aéreos não identificados (U.A.P. sigla inglesa), o qual, secretamente, já se havia iniciado em 2007. Pouco tempo depois são divulgados três vídeos gravados por pilotos da marinha americana que o Pentágono reconhece tratar-se de UAP. Numa série de entrevistas aos media americanos, os pilotos que gravaram os vídeos descrevem o comportamento altamente bizarro e extraordinário dos objectos que encontraram. Na entrevista ao programa 60 minutos da CBS, o ex-piloto da marinha americana tenente Ryan Graves deixa o entrevistador atónito quando lhe responde que os pilotos da sua base, na costa atlântica dos EUA, observavam nos seus voos de treino estes UAP diariamente, durante aproximadamente dois anos, por volta de 2014/2015. Também os operadores de radar descrevem nestes mesmos episódios os comportamentos destes objectos como extraordinários e difíceis de explicar.

Em Agosto de 2020 é criado um grupo de trabalho (UAP Task Force) sob a alçada do Departamento de Defesa e Serviços de Informação para se tentar identificar a origem do fenómeno e se procurar compreender se este constituiria uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Os resultados seriam apresentados ao Congresso em Junho de 2021. No dia 25 desse mês, é tornada pública a versão não secreta deste relatório dito preliminar. Nas 9 páginas do documento, é feita referência ao período temporal da análise (2004 a 2021), aos 144 incidentes observados por fontes do Governo Americano, constatando-se que, provavelmente, se trataria de objectos físicos que se constituíam como desafios à segurança nacional dos EUA e um perigo para a aviação militar por risco de colisão aérea. Numa secção deste relatório, refere-se que 18 destes incidentes com UAP parecem demonstrar tecnologia avançada, acrescentando-se que continua a analisar-se se há realmente uma inequívoca demonstração de tecnologia revolucionária e que se recomenda que a evidência seja analisada por múltiplas equipas técnicas de especialistas para confirmação desta informação.

Na realidade, desde 2017, e com maior frequência nos últimos anos, temos visto junto dos media americanos declarações de oficiais e ex-oficiais do governo americano, congressistas e senadores americanos, presidentes e ex-presidentes dos EUA sobre estas matérias que se apresentam como muito estranhas. Sublinho as declarações de Barak Obama, Bill Clinton, dos ex-directores da CIA John Brennan e R. James Woolsey, do ex-director da inteligência nacional John Ratcliffe e do actual administrador da NASA Bill Nelson, que inclusive ofereceu os serviços dos cientistas da NASA para tentar compreender o fenómeno subjacente aos 144 incidentes referidos anteriormente. No que todos eles concordam é que existem objectos nos céus dos EUA cujo comportamento não conseguem explicar nem replicar e cuja origem desconhecem. Alguns deles especulam acerca da possibilidade de vida extraterrestre avançada quando pressionados pelos entrevistadores acerca da possível origem do fenómeno.

Na vertente do estudo científico público do fenómeno, foi criado um projecto de investigação, chamado Projecto Galileu, pelo Professor de Astrofísica de Harvard e ex-catedrático do departamento de astrofísica de Harvard, Avi Loeb, com a colaboração de professores universitários e investigadores das universidades de Harvard, Princeton, Cambridge, Berna, Coreia, Califórnia, Carolina do Norte, Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Aberdeen (Escócia), Hong Kong, Johns Hopkins (EUA), Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), Chicago, Tóquio, Estocolmo e Wellesley College, assim como cientistas da NASA e Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial em Espanha, para, entre outros objectivos, conseguir obter uma fotografia de alta resolução destes bizarros objectos, para tentar uma melhor compreensão deste mistério, sendo explicitamente referido que a hipótese extraterrestre não está à partida descartada.

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No momento em que escrevo este texto, um novo avanço no estudo deste fenómeno se assinala nos EUA, a assinatura pelo Presidente Biden, a 27 de Dezembro de 2021, da Lei de Autorização de Defesa Nacional para o ano de 2022, após a sua criação e aprovação bi-camaral e bi-partidária pelo Congresso dos EUA. Nesta Lei, referem-se planos e estudos diversos, nomeadamente: um plano activo de recolha de informação a fim de determinar “origens e intenções” dos UAP, na colaboração com a NASA, Administração Oceânica e Atmosférica e Administração Federal de Aviação; um estudo de materiais físicos recolhidos; um estudo dos efeitos biológicos/fisiológicos nos seres humanos de encontros próximos com este fenómeno; um plano científico para formulação de novas teorias científicas para explicar o comportamento por vezes aparentemente impossível destes objectos no sentido de possíveis projectos futuros de tentativa de replicação da tecnologia, da partilha de informação com países aliados e parceiros no sentido de melhor compreender o fenómeno e sua extensão. A Lei determina ainda que deverá ser enviado um relatório anual público ao Congresso dos EUA dando conta dos avanços conseguidos no estudo do fenómeno.

Um grande mistério ou uma revolução intelectual no horizonte?

Referências:
https://www.dni.gov/files/ODNI/documents/assessments/Prelimary-Assessment-UAP-20210625.pdf [Relatório preliminar sobre OVNI´s de 25/06/2021]
https://edition.cnn.com/videos/tv/2021/06/28/nasa-administrator-bill-nelson-classified-ufo-report-newsroom.cnn
[Administrador da NASA Bill Nelson sobre OVNI´s]
https://www.youtube.com/watch?v=u1hNYs55sqs [ex Presidente Obama sobre OVNI´s]
https://projects.iq.harvard.edu/galileo/home [Projecto Galileu, Universidade de Harvard]
https://www.congress.gov/bill/117th-congress/senate-bill/1605/text [pág. 578-583 na versão “.pdf” da Lei de Autorização de Defesa Nacional – 2022]