Quem já tiver uma idade “respeitável” não pode deixar de se sentir perdido nos meandros da comunicação social, sobretudo se estivermos a falar da televisão. Isto, claro, se for um cidadão com sentido crítico, relativamente à realidade em que vive, mormente a que envolve emoções, sejam elas políticas ou desportivas.

Olhar para o pequeno ecrã e ver meia dúzia de canais a fazer radiografias cacofónicas a um jogo de futebol não deve ser tristeza vil que afete muitos outros povos para além do povo português.

Da mesma forma, ver um personagem político a saltar de cerimónia em cerimónia, palavroso exaustivo, a dizer as mesmas coisas em discursos enfadonhos e, por isso, previsíveis e redundantes, atenta contra a nossa sanidade mental.

Sanidade que também é afetada pelos intermináveis e repetidos debates e opiniões televisivas de “opinion-makers” que saltam do partido para o ecrã com a mesma rapidez de quem muda de camisa.

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É a democracia a consolidar-se, o contraditório a funcionar, dirão os puritanos de um sistema que assenta em imagens, mesmo quando são distorcidas e enganadoras.

Outros acharão que estes podem já ser sinais do estertor de um sistema que se vai esgotando, sem se aperceber que se aproxima do fim, como “oficializou” o Presente da República no seu discurso do 25 de Abril, ao dar a chancela à IV República.

Já sem paciência para estes enfadonhos jogos florais do espaço mediático, considero-me privilegiado por poder mudar de canal a bem da minha saúde mental – assim que aparecem as primeiras imagens de previsíveis debutantes, mudo para canal da estranja que me dê informação isenta e (mais) séria do que se passa no mundo ou, mais frequentemente, interessantes reportagens de ciência, de história, de povos, de paisagens, de comboios ou, apenas de “fait-divers” relaxantes.

Quer isto dizer que não tenho interesse pela realidade do meu país? Engrosso a fila de reacionários que devem ser ostracizados por não respeitarem a cartilha do 25 de Abril? Talvez mesmo mereça uma “espontânea” manifestação convocada nas redes sociais ou o impedimento de desfilar em cerimónia tão datada quanto polémica!

Não, pelo contrário, sigo atentamente a realidade do meu país, um país cada vez mais à deriva e sem espaço mediático para quantos têm a perceção de que a não inverter essa realidade, caminhamos apressadamente para o abismo. Um abismo que está a colocar-nos na cauda da Europa, cada vez mais pobres e acríticos perante a subtil arrogância que nos constrange. Por isso mesmo, mais próximos da indiferença generalizada, como recordarão os “cotas” que também viveram os tempos de “outra senhora”, com métodos que – meio século depois – esta III República está a recuperar, ainda que subtilmente!

Para não deixar a imagem camoniana de “vil tristeza”, ergo bem alto o punho da mão esquerda (ou da direita, tanto faz…) e faço uma entusiástica profissão de fé – seguirei atentamente um qualquer debate de onde saia aprovada a criminalização do enriquecimento ilícito, por parte de agentes públicos. Altere-se a CRP, acolham-se todos os contributos que levem a esse resultado de forma inequívoca, evitem-se prescrições, meta-se na cadeia quem enriquece à custa dos eleitores, ouça-se o povo que tem consciência de estar a ser “roubado”, dando-se, assim, início à IV República que agora foi solenemente prometida na cerimónia do 25 de Abril.

Quando (e se) isso acontecer, Portugal voltará a ser olhado com admiração na estranja. O que hoje, manifestamente, não acontece, com muita pena minha!