O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, lamentou esta terça-feira a crise no Grupo Espírito Santo (GES) pelo impacto que tem na recuperação económica do país. Salientando “a importância que tem para o país e para a economia”, confessou: “Dispensaríamos esses problemas no sistema financeiro”.

As declarações de Portas foram feitas durante uma conferência sobre Competitividade e Crescimento em Portugal organizada pela consultora A.T. Kearney, esta terça-feira, em Lisboa. O vice-primeiro-ministro garantiu ainda estar empenhado na resolução do problema do BES. “Trabalharei na medida do que posso para que tenha a melhor solução possível”, afirmou.

O governante está mais tranquilo com a nova administração do Novo Banco (o ‘banco bom’ criado com a intervenção do Banco de Portugal no GES), depois da saída de Vítor Bento. Portas não escondeu o desagrado com a equipa daquele economista. Há três dias, reagindo à demissão de Bento, disse mesmo em tom crítico: “Queremos que se superem as etapas difíceis com gente profissional, porque os bancos gerem-se com profissionais, e por gente que tenha espírito de missão, e que em qualquer circunstância perceba que o interesse nacional é superior a qualquer interesse pessoal”.

A questão do impacto na economia da crise do BES está a preocupar todos os membros do Governo. Na última reunião do Conselho de Ministros, segundo o Expresso, o assunto esteve em cima da mesa e houve ministros que expressaram preocupação com os efeitos no ciclo eleitoral (2015 é ano de eleições legislativas).

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Também o documento das Grandes Opções do Plano, entregue esta semana pelo Governo aos parceiros sociais, reconhece que a crise no GES pode vir a provocar impactos negativos na “concessão de crédito à economia” e também “sobre o investimento e o crescimento do PIB.

“O risco assumido pelo sistema financeiro português com o custo da resolução do BES impõe pressão acrescida sobre os processos de reestruturação e reforço de capitais e terá previsivelmente consequências sobre a capacidade de concessão de crédito à economia e, consequentemente, sobre o investimento privado e o crescimento do produto”, lê-se.

Salário mínimo é questão das empresas

Durante o período de perguntas e respostas, Portas pronunciou-se ainda sobre o aumento do salário mínimo, que poderá ocorrer já em outubro. Acusado de eleitoralismo pela oposição, o governante declarou que “quem sabe se a atualização do salário mínimo nacional é boa ou má para as empresas são as empresas”, lembrando que este é um assunto da concertação social, onde se sentam “as empresas e a UGT”.

Durante o discurso, Portas destacou os sinais positivos do crescimento da economia, os números das exportações e a descida do desemprego. Para o aumento de investimento (problema da última década, segundo disse), terá contribuído “o supercrédito fiscal” lançado em 2013. “As reuniões do Governo de 15 em 15 dias têm como objetivo resolver que o que está em conflito na administração pública se resolva. E que o que está atrasado acelere. Tempo é dinheiro”, disse. E anunciou que está para dias a aprovação do novo código de apoio fiscal ao investimento, para antecipar “o mais possível a entrada em vigor do novo quadro comunitário de apoio”.

Doseando o otimismo, o vice-primeiro-ministro citou o poeta alemão Rainer Maria Rilke para dizer que “estamos melhor que ontem, mas pior do que amanhã” e acrescentou ser preciso “proteger as condições que levam ao aumento e à escolha de Portugal como destino de investimento”.

“Portugal está objetivamente na moda”, disse, destacando os números do turismo, pasta que o partido que lidera, o CDS, tutela.