Um fotógrafo de natureza, um arquiteto paisagista e um músico biólogo juntaram-se com um interesse comum e fundaram uma associação para a gestão e conservação da natureza – a Montis. Um dos maiores interesses é manter os sócios participativos e envolver cada vez mais pessoas. A campanha de financiamento coletivo (crowdfunding) que criaram, para angariar financiamento e para se darem a conhecer, conseguiu atingir o objetivo e muito mais. “Funcionou muito melhor do que estávamos à espera”, admite ao Observador Henrique Pereira dos Santos, um dos fundadores.

O objetivo principal da Montis é gerir diretamente o território, à semelhança do que faz a Associação Transumância e Natureza (ATN), sediada em Figueira de Castelo Rodrigo, refere o arquiteto paisagista. “O que pretendemos é educar pelo exemplo, em vez de dizermos como se deve fazer, fazermos nós.” Mas a ação da associação no terreno pretende ser reduzida ao mínimo. “A ideia é ajudar o processo natural até se atingir o equilíbrio.” E contam com os sócios para isso.

“Ninguém é obrigado a participar se não quiser, mas é importante as pessoas perceberem que podem fazer parte da gestão do terreno”, nota Henrique Pereira dos Santos. E o retorno dos sócios tem sido muito importante, tanto nas competências específicas e disponibilidade que alguns dos associados já demonstraram, como na preparação da campanha de financiamento coletivo. “Muitas das coisas que planeámos à partida falharam e muitas das coisas que foram propostas pelas pessoas resultaram”, constata satisfeito o membro da associação, acrescentando que as pessoas se mobilizam mais quando sabem onde vai ser aplicado o dinheiro.

Uma das ideias bem-sucedidas foi a criação de um “Certificado de Titularidade de Terreno”. Oficialmente o dinheiro é doado à associação e será esta a proprietária do terreno, na prática quem contribuiu sente que uma parte daquele espaço com 5,5 hectares também lhe pertence. O certificado é uma forma de o simbolizar ou, para alguns, um presente diferente para este Natal. “A ideia de ver uma árvore morrer de pé [de velhice] agradou às pessoas”, disse Henrique Pereira dos Santos, lembrando que embora a associação queira valorizar economicamente o território não o fará pelo corte das árvores.

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O certificado foi proposto por um dos sócios e desenhado por outro. Uma iniciativa que agradou à direção e aos doadores – Margarida Gamito/Montis

A Montis quer mostrar que “a conservação e a natureza podem ser ativos económicos” e o arquiteto paisagista volta a usar a ATN como exemplo: para manter o mosaico agrícola num determinado território a associação tem de fazer uma gestão agrícola do olival, aproveitando a azeitona e produzindo azeite. Parte da venda do azeite reverte para aquisição de mais terrenos. A Montis também tem uma proposta: se as pessoas estiverem dispostas a pagar um pouco mais por produtos vindos de rebanhos que vivem nas áreas de conservação do lobo, os pastores poderiam ter menos sentimentos negativos em relação a estes predadores.

Um dos problemas das associações no seu início é a falta de verba. Para a direção da Montis o dinheiro das cotas pagas pelos mais de 100 sócios (20 euros por ano cada um) permite garantir o secretariado de base, mas para adquirir um terreno é preciso mais. Pediram 12 mil euros, numa campanha de dois meses que se iniciou a 15 de outubro. Apesar de a plataforma PPL os ter aconselhado a dividir o projeto em duas partes por considerar que o valor era muito alto, os fundadores mantiveram-se confiantes. “Estávamos otimistas, mas ultrapassou todas as nossas expectativas”, refere o arquiteto paisagista, lembrando que, tirando algumas pequenas empresas da região, os donativos vieram todos de particulares.

A única empresa com que a Montis tem neste momento uma parceria é com a Eólica da Arada que se comprometeu a dar um euro por cada quatro euros angariados até um máximo de três mil euros, conta Henrique Pereira dos Santos. Do dinheiro angariado, 10 mil euros serão para a aquisição deste terreno, dois mil para a gestão do mesmo e o restante para comprar outros terrenos. À hora da publicação deste artigo os donativos já tinham excedido em cerca de 1.500 euros a meta inicial, mas o projeto pode continuar a angariar fundos durante mais seis dias.