A mensagem começa com uma subtileza de discurso. Paulo Portas, enquanto líder do CDS, não quer um bom ano, quer um “ano bom”. E nas características de 2015 entra uma herança de 2014 – o arquivamento do caso dos submarinos a que se refere com satisfação e com alívio, mas ao mesmo tempo deixando acusações: “Fomos insultados, difamados e atacados, sempre sob a forma de insinuação e sem qualquer respeito pela independência e pela verdade da investigação judicial”, disse. E deixa uma promessa para 2015: a “renovação da maioria” de Governo, que deixa antever uma vontade de Paulo Portas concorrer em coligação com o PSD de Passos Coelho.

O alívio dos submarinos

Depois de dez anos, Portas não esconde o regozijo na mensagem pelo fim do calvário do caso dos submarinos.

A boa nova do ano velho, que o pôs a sorrir, merece destaque e tem um nome de dez letras apenas: submarinos.

Numa mensagem num tom político, mas ao mesmo tempo quase intimista, dirige-se aos funcionários e dirigentes do CDS ou “à gente do CDS”, para lhes falar do caso que ensombrou o partido durante uma década e que foi arquivado este mês. Lembrou Portas que durante todo o tempo em que o processo esteve a decorrer, tanto os funcionários do partido como o próprio foram “insultados, difamados e atacados, sempre sob a forma de insinuação e sem qualquer respeito pela independência e pela verdade da investigação judicial”. E insiste em dizer que “nenhuma das suspeitas lançadas era verdadeira” tanto que, acrescenta, o despacho de arquivamento “conclui que não houve favorecimento a nenhum dos concorrentes” e que não existiu “qualquer benefício para o Partido ou para os seus dirigentes”.

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E já que fala de justiça, num momento em que os socialistas se batem com o caso de José Sócrates, que levou à prisão preventiva do ex-primeiro-ministro, Portas não deixou de lançar uma tirada com ironia e dupla interpretação:

“Para alguns dos nossos adversários nunca foi a Justiça que esteve em causa: combatem o CDS de qualquer forma e de qualquer jeito. Nunca quiseram o CDS no regime, e querem o CDS fora do Governo. É isto e não é mais do que isto. Com ironia se poderia dizer que o estalinismo nunca morre nos antigos estalinistas. A nós basta-nos o Estado de Direito, o respeito pelas suas regras e a justiça efetiva”.

Na longa mensagem de Ano Novo, Portas teve ainda espaço para responder às críticas da troika depois do fim do programa, nomeadamente ao aumento do salário mínimo nacional e de lembrar as principais medidas que entram em vigor este ano. O objetivo era o de mostrar que este deve ser um ano de esperança que desmentirá “o discurso tremendista de uma certa esquerda”.

Coligação precisa-se

Numa longa mensagem de Natal, o líder centrista destapa aquilo que quer para este ano no que a eleições legislativas diz respeito. Se até aqui, PSD e CDS têm contornado o assunto coligação pré-eleitoral, na mensagem de Ano Novo, que este ano decidiu escrever, Paulo Portas lança a discussão para uma nova aliança. E desta vez, para o ser, terá de ser antes das eleições. É por isso que escreve:

“A minha disposição para vencer o combate de 2015 e renovar a maioria, é inequívoca e empenhada”.

Nunca escreve a palavra “coligação”. Também não escreve a sigla PSD, mas fala do partido de Passos Coelho como “o nosso parceiro de coligação”, que entrou no barco do Governo para responder ao Memorando negociado em 2011. Se, apesar de tudo, o cuidado nas palavras continua a passar pela caneta de Paulo Portas, desta vez o líder centrista foi mais longe. Apelidou o atual Governo de “co-Governo com os credores” e pegando na sequência da ideia diz que o CDS foi “chamado de urgência” para “governar quando a casa já estava a arder”. Conclusão lógica para a justiça na política que Paulo Portas espera dos portugueses: que nas urnas deem ao partido a possibilidade de governar “em tempos mais normais e com uma economia em crescimento”.

E para isso acredita na capacidade dos portugueses na hora de depositarem o voto nas urnas lá mais para o fim do ano. “Os portugueses são um povo maduro e não permitirão o regresso da irresponsabilidade. Cumpriremos os nossos compromissos. Mas se alguém tem saudades da autoridade que cá exerceu, paciência”.

Os dois partidos têm agendado para o início deste ano, até à primavera, a decisão sobre se concorrem ou não coligados às eleições. Depois de um primeiro avanço do PSD, antes da apresentação do Orçamento do Estado para 2014 que não obteve resposta do CDS, mais tarde foram os centristas a mostrar mais disponibilidade para a discussão, com o PSD a empurrar uma decisão para o primeiro trimestre deste ano.

E nesse leque de medidas que dão sustentação à teoria que 2015 vai ser um ano melhor, Portas lembra que há uma previsão de crescimento económico que permita reduzi o desemprego, que o Governo acordou o aumento do salário mínimo nacional, que haverá uma reposição dos cortes das pensões, a reforma do IRS, a reposição de parte (20%) dos cortes nos salários dos funcionários públicos e ainda a reforma do IRC.

Mas para que 2015 seja mesmo um “ano bom”, Portas até começou por lembrar que “há no nosso país sofrimento que ainda persiste”.