O que é que o estado do tempo, as dívidas contraídas no Natal e a dificuldade em cumprir as resoluções do novo ano têm a ver com tristeza? Nada, ou pelo menos não na relação que Cliff Arnall tentou empregar para descobrir qual o dia mais triste do ano. Apesar disso, todos os anos, na terceira segunda-feira do mês de janeiro, não faltam meios de comunicação social a celebrar a Blue Monday (Segunda-feira Azul) por ele criada.

Cliff Arnall, psicólogo e treinador motivacional, desenhou, em 2005, uma fórmula matemática para descobrir o dia mais triste do ano. Fê-lo a pedido da canal Sky Travel para promover viagens numa determinada data. Mais tarde seria convidado pela empresa Walls Ice Cream (marca Olá, em Portugal) para criar uma fórmula para o dia mais feliz do ano. No total angariou 1.650 libras (cerca de 2.150 euros) com estas encomendas, segundo o Telegraph. Mas cinco anos depois, Cliff Arnall admitiu que criar a Blue Monday não foi uma ideia “particularmente útil”, porque se tornou mais uma profecia do que uma forma de as pessoas pensarem na felicidade ao longo do ano.

Esta ideia, que ano após anos é reforçada por vários meios de comunicação, tem sido combatida anualmente no Guardian pelo neurocientista e humorista Dean Burnett, por se tratar de “pseudociência” – o uso de linguagem da ciência para falar de um tema que não está baseado em nenhum método científico. O autor diz que é possível saber qual o dia mais infeliz de um ano, mas só depois do ano acabar e tendo entrevistado milhares de pessoas. Para descobrir um padrão anual teriam de ser entrevistadas muitas pessoas ao longo de muitos anos e ver se havia alguma relação entre os dias de pior humor.

As empresas aproveitaram uma figura de autoridade – um cientista – para promoverem um produto, usando argumentos de autoridade – uma fórmula científica. Para aumentar a credibilidade, Cliff Arnall apresentava-se como professor na Universidade de Cardiff. A instituição sentiu necessidade de se dissociar destes estudos e teorias e clarificar que Cliff Arnall tinha trabalhado em part-time, mas que saiu em fevereiro de 2006, conforme referiu o Guardian.

O dia mais triste do ano tanto pode ser a terceira segunda-feira do mês de janeiro ou qualquer outro dia do ano, a probabilidade é a mesma. Regra geral, o inverno é mais propício à letargia, à fadiga e estados de espírito menos positivos, mas isso está relacionado com a falta de luz solar – menos horas e de menor qualidade. Por isso a Fundação para a Saúde Mental deixa alguns conselhos: seja sociável e participe em atividades de grupo, faça exercício, mantenha uma boa alimentação e descanse convenientemente. Nada de novo, só precisa de se lembrar de o fazer.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR