Mal tinha assumido o cargo de novo vereador para a Cultura na câmara de Madrid, Guillermo Zapata, um guionista de 36 anos, foi confrontado com tweets controversos publicados em 2011.

“Como meterias cinco milhões de judeus num [Fiat] 600? Dentro do cinzeiro”, escreveu em 31 de janeiro de 2001, sendo que o seu post foi retweetado (isto é, partilhado dentro do Twitter) pelo menos 28 vezes. Noutra ocasião, sobre Israel, escreveu que “não se sabe porque é que necessita de tanto espaço se cada pessoa ocupa um monte de cinza”.

Sobre a ETA, fez uma piada em que falou de Irene Villa, uma jornalista que aos 12 anos ficou sem as duas pernas depois de um ataque daquele grupo em Madrid: “Tiveram de fechar o cemitério de Alcásser para que Irene Villa não fosse buscar peças avulsas”.

Além disso, Zapata também publicou outros tweets onde fazia outras piadas onde se referia a outros casos de crimes altamente badalados em Espanha, como foi o caso do homicídio das “meninas de Alcásser” ou o desaparecimento de Marta Castillo, uma jovem de 17 anos que desapareceu em 2009 e cujo namorado confessou ter assassinado, apesar de nunca se ter descoberto o seu cadáver.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assim que estes posts começaram a ser denunciados no sábado, o mesmo dia em que Zapata e o Ahora Madrid assumiam as suas funções na câmara de Madrid, o recém-empossado vereador da Cultura da capital espanhola deixou uma mensagem no Twitter com o seu mea culpa: “Algumas piadas que fiz na minha timeline causaram descontentamento. Lamento se assim foi”. Esta mensagem, porém, já não está disponível, pois à medida que a polémica foi aumentado, Zapata limitou o acesso à sua conta e, pouco depois, apagou-a. Entretanto, já foi criada uma nova conta em seu nome, mas o Ahora Madrid disse que era falsa.

Sem demissão, “Carmena será cúmplice”

Mais tarde, reiterou o seu pedido de desculpas: “Não sou anti-semita, não sou pró-ETA, nem defendo a violência. Peço desculpa a toda a gente que se possa ter sentido mal por causa desses tweets”. E ao jornal El Mundo contou aquelas publicações enquadravam-se “no debate sobre o limite do humor nas redes sociais”, uma vez que naquela altura o guionista e realizador de cinema Nacho Vigalondo foi alvo de críticas depois de ter escrito, igualmente no Twitter, que o Holocausto foi uma “montagem”. Nessa altura, Zapata quis defender a ideia de que “o humor negro serve como catarse”.

E escreveu ainda um texto na sua página pessoal no Tumblr, onde se identificou como “um utilizador apaixonado das redes sociais, especialmente do Twitter”, aproveitando mais uma vez para lamentar o sucedido. “Sinto muito que aquelas pessoas que sofreram os efeitos do ódio possam sentir que a sua dor é desconsiderada.”

Até agora, a reação a esta polémica que está a receber mais atenção é a de Esperanza Aguirre, a mulher que encabeçou a lista do Partido Popular nas eleições de 24 de maio. “Se Manuela Carmena não exigir a Guillermo Zapata a sua demissão imediata será cúmplice das suas barbaridades”, escreveu na mesma rede social onde toda esta polémica nasceu. Aguirre interpelou diretamente na sua mensagem Manuel Carmena, líder do Ahora Madrid, deixando um link para o perfil desta no Twitter.

Aguirre ficou em primeiro lugar nas eleições (com 34,5% dos votos) mas não conseguiu uma maioria absoluta. Uma aliança entre o Ahora Madrid (que é apoiado pelo Podemos) com o PSOE levou a que Aguirre não conseguisse ser aprovada na assembleia municipal como presidente da câmara da capital espanhola. Esse cargo acabou por ser atribuído a Carmena, cujo Ahora Madrid ficou em segundo com 31,8%.