Luís Marques Mendes acredita que Pedro Passos Coelho e Paulo Portas têm de começar a pensar com urgência a estratégia que vão montar quando estiverem na oposição e, nesse sentido, criticou o que considera ser o desacerto de PSD e CDS. “Têm andado aos bonés” desde as eleições, resumiu. O antigo líder social-democrata falou ainda sobre a possível aliança de esquerda: António Costa está sob uma “enorme pressão” e “refém do Bloco e PCP“, “Catarina Martins está muito feliz” e “Jerónimo de Sousa muito contrariado“.

No seu habitual espaço de comentário na SIC, Marques Mendes defendeu que PSD e CDS têm de decidir rapidamente várias questões: se o Governo for derrubado e ficarem na oposição, “vão estar na mesma coligados ou vai cada um para o seu lado”? Passos Coelho e Paulo Portas farão parte do Conselho de Estado? Como vão votar as leis que chegarem de um eventual Governo liderado por António Costa? Para o comentador, sociais-democratas e centristas já deveriam ter afinado a estratégia ou correm o risco de transformarem a estadia na oposição num “pesadelo“.

PSD e CDS têm andado aos bonés. Andam sempre a reagir, muito a reboque dos acontecimentos, a ver passar comboios e zangados com a vida. Mas a política não se faz de estados de alma e, portanto, têm de decidir estas coisas. Porquê? Não devem cometer o erro que têm vindo a cometer nos últimos tempos que é de subestimar António Costa. É que se não preparam bem a oposição, então aquilo não vai ser um passeio, vai ser um pesadelo“, afirmou Marques Mendes, na SIC.

Mas se a vida para Passos e Portas, diz Marques Mendes, não está fácil, António Costa também tem uma tarefa complexa entre mãos. O facto de os detalhes do acordo (ou dos acordos) que se estão a desenhar entre PS, Bloco e PCP estarem a ser revelados por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa pode querer dizer que “quem lidera são todos, menos o PS“, sublinhou o comentador.

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“Mais preocupante”, continuou, têm sido as várias declarações públicas de Jerónimo de Sousa. Para Marques Mendes, o secretário-geral do PCP está “infelicíssimo” com o curso dos acontecimentos. “Vê-se que ele está completamente contrariado” e que “não se quer comprometer com nada”. “Quer ter um pezinho dentro no início e depois pôr o corpo todo de fora“, defendeu o ex-líder social-democrata.

Porquê? Porque os três partidos têm “interesses muito diferentes”, explica o comentador. António Costa “quer ser primeiro-ministro” e assegurar a sua sobrevivência política; o Bloco, que não tem peso nas autarquias nem nas centrais sindicais, quer “ter influência nas políticas públicas”; “mas o PCP só tem dois interesses, que ainda por cima não são do PCP são da CGTP. É a contratação coletiva, porque as últimas revisões afetaram muito os sindicatos do PCP, e são as concessões dos transportes – eles precisam muito que a Carris, o Metro as STCP’s voltem para o setor público, senão nunca mais há uma greve geral. O PCP não quer mais do que isto”, enumerou o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares de Durão Barroso.

Enquanto Jerónimo de Sousa parece ainda pouco convencido, Catarina Martins vai “dando recados”, como fez na entrevista ao Diário de Notícias. Nessa entrevista, publicada este domingo, a porta-voz bloquista deixou claro que o possível acordo entre os três partidos devia ser escrito e assinado por todos e que o aumento do salário mínimo já em 2016 era difícil – declarações que parecem contrariar a vontade política de Jerónimo, insistiu Marques Mendes.

Como é que o Governo vai governar se o PCP não estiver disponível para aprovar algumas medidas mais difíceis? Se as coisas não estão bem definidas, então o futuro de Governo de António Costa não tem um problema, tem dois: primeiro, um primeiro-ministro que não foi eleito tem sempre a sua autoridade diminuída. Se, além disso, não tiver estabilidade e consistência lá dentro” PS, Bloco e PCP vão provar que, “afinal, Cavaco Silva tinha razão“, avisou o comentador.

Mesmo admitindo que Cavaco Silva deverá dar posse a António Costa, caso o Governo de Passos caia no Parlamento, Marques Mendes defende que o “acordo escrito” entre os três partidos “é o mínimo dos mínimos“. Para o ex-líder do PSD, o Presidente da República já demonstrou abertura para aceitar esse possível acordo à esquerda desde que sejam respeitados alguns compromissos. E esta abertura “criou uma pressão enorme a António Costa”, diz. “Só não há Governo à esquerda se António Costa não conseguir ou se não houver acordo. Por isso, António Costa ficou mais refém do Bloco de Esquerda e do PCP“, que, “sabendo disso”, “vão subindo sempre a parada negocial, sobretudo o PCP”.

A terminar, Marques Mendes falou ainda sobre a oposição interna que vai sendo cozinhada no interior do PS. O social-democrata desvalorizou e disse apenas que “são críticas em tom baixinho, para não desagradarem ao líder“. Ainda assim, o comentador elogiou a “coragem” de Sérgio Sousa Pinto – que se demitiu do Secretariado Nacional do PS por entre críticas à estratégia seguida por Costa – e de Francisco Assis, “uma pessoa corajosa, com pensamento, a prazo ele vai ser líder do PS, só não sabe é quando“.