Anda tudo à volta de números: depois de 40 discursos feitos ao longo de três horas e que só terminaram já depois da 01h00 desta segunda-feira, a assembleia de 3.030 militantes do partido anticapitalista e pela independência CUP (Candidatura de União Popular) foram a votos. As opções eram duas: deve a CUP apoiar a investidura de Artur Mas, de centro-direita e também independentista, como presidente da Generalitat, o governo regional da Catalunha?

A pergunta é simples, as consequências a tirar dos resultados nem tanto: 1.515 militantes votaram “sim” e outros 1.515 votaram “não”, confirmando assim um empate improvável. Quão improvável? De acordo com os cálculos do sociólogo e jornalista catalão Salvador Cardús, a probabilidade de haver um empate era de 0,00033. Uma possibilidade quase tão remota como é a de ganhar a cobiçada lotaria de Natal espanhola, o El Gordo, que, segundo escreve o La Vanguardia, se estima nos 0,0001%.

Esta foi a terceira e última votação da assembleia da CUP, que se reuniu em Sabadell, uma cidade a 20 quilómetros de Barcelona. Depois deste impasse que demonstra um partido literalmente dividido ao meio, o próximo passo terá de ser dado pela direção, o órgão máximo do partido anticapitalista, que já tem reunião marcada para 2 de janeiro. Será nessa ocasião que deverá tomar a decisão derradeira quanto ao dilema de votar ou não favoravelmente no Parlamento de Catalunha a cada vez mais improvável investidura de Artur Mas. Se o ainda presidente do governo regional catalão (Mas foi eleito em 2010) não conseguir ser reconduzido pelo parlamento até 10 de janeiro, a Catalunha será obrigada a ir a novas eleições.

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Nas últimas eleições, de 27 de setembro de 2015, Artur Mas esteve à frente dos Junts Pel Sí, a coligação que congrega forças da esquerda à direita e que têm em comum o objetivo de a Catalunha se tornar independente através de um referendo. Em setembro, o Junts Pel Sí venceu com 39,6% dos votos — o que resultou em 62 assentos parlamentares, aquém dos 68 necessários para uma maioria. Assim, ficou a sobrar uma força independentista que, com 8,2% dos votos e dez deputados, estaria em posição de possibilitar uma maioria a Mas: a CUP.

CUP quer “plano de choque” de 3 mil milhões

Desde então que a política catalã vive num impasse à medida que as negociações entre a CUP e o Junts Pel Sí não chegam a uma conclusão. Uma das exigências dos esquerdistas é a suspensão de projetos de construção controversos, como o complexo de casinos BCN World. Existe, porém, uma exigência ainda mais problemática. A CUP começou por querer que fossem canalizados 6 900 milhões de euros para medidas de apoio social, num pacote que designa como “plano de choque”. Mais tarde, baixou essa condição para os 3 mil milhões. Do lado do Junts Pel Sí, mantém-se a contraproposta para que essa cifra se fixe nos 270 milhões de euros — um valor 91% abaixo do exigido pela CUP.

Perante o improvável empate obtido na madrugada de segunda-feira, o líder parlamentar da CUP, Antonio Baños, referiu que ainda há muito para discutir. “O mandato que resulta da assembleia é que é preciso continuar a debater, foi para isto que nos elegeram”, disse depois de conhecidos os resultados, para de seguida devolver a bola à coligação de Mas: “O resultado representa uma mensagem ao Junts Pel Sí para que faça outra proposta, com uma nova oferta ou um novo candidato”.