Os nove militares da GNR que se suicidaram nos últimos três anos nunca recorreram à linha de apoio psicológico disponibilizada desde 2007 pela GNR e terão cometido suicídio por razões familiares. Esta é uma das conclusões de um estudo que está ainda a ser desenvolvido em parceria com a Sociedade Portuguesa de Suicidologia e cuja conclusão foi avançada ao Observador pelo responsável pelo Gabinete de Psicologia da GNR, o tenente-coronel Ilídio Canas.

O Ministério da Administração Interna assinou esta sexta-feira um protocolo com a PSP e a GNR de forma a alargar e tornar mais rápido o acesso a consultas na área da Saúde Mental por parte dos polícias no Serviço Nacional de Saúde. A ideia é que caso seja detetado o risco de suicídio, que os polícias tenham acesso direto às consultas externas de Psiquiatria e Saúde Mental dos hospitais, sem terem que vir pelos centros de Saúde.

Tanto a GNR e a PSP já dispõem de gabinetes de Psicologia aos quais polícias e militares podem recorrer. No entanto, sempre que é necessário encaminhar um doente para uma consulta, os tempos de espera são altos e os riscos pela falta de acompanhamento e tratamento são maiores.

A linha de apoio psicológico da GNR foi criada em 2007 e conta com sete psicólogos disponíveis 24 horas por dia. Todos os meses recebe uma média de 20 a 25 chamadas de militares que se depararam com “problemas organizacionais, passionais ou mesmo com problemas de álcool e de droga“, refere ao Observador o tenente-coronel Canas. Há ainda quem telefone porque sofre de doença mental. Ou militares que alertam o gabinete de Psicologia porque um outro colega não lhes parece bem e há que sinalizar a situação.

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“Estamos a fazer palestras nesse sentido. Para os colegas estarem sensibilizados para isso”, refere o oficial.

Em 2015 a instituição teve cinco baixas por suicídio. No ano anterior tinha tido apenas uma e em 2013 três casos. Uma parte destes homens estava a ser acompanhado psicologicamente fora da instituição. Mas nenhum recorreu à linha de apoio para pedir ajuda. “Um estudo que está a ser feito com a Sociedade Portuguesa de Suicidologia concluiu que o suicídio estaria ligado a razões familiares. Embora seja necessário ter cuidado, porque nestes casos isso pode ser apenas um rastilho”, refere.

O tenente-coronel não acredita que os militares não recorram aos serviços de Psicologia a pedir ajuda por vergonha. “Não creio que isso aconteça”, afirma.

O gabinete de Psicologia além de encaminhar os militares para consultas no Serviço Nacional de Saúde, também presta apoio a familiares de militares mortos em serviço. O protocolo assinado esta sexta-feira vai ajudar precisamente nesse encaminhamento. “As consultas demoravam muito tempo e assim conseguimos uma rede mais alargada”, refere.

Para a PSP, que registou sete mortes por suicídio na instituição em 2015, este protocolo é ainda mais importante nas consultas psiquiátricas de urgência, que até aqui eram de difícil de acesso.

Na linha de apoio da PSP há também um elemento do gabinete de Psicologia em permanência. “Neste momento temos 24 psicólogos para acompanharem todas as situações”, explica ao Observador o porta-voz da Direção Nacional da PSP, o intendente Hugo Palma. “Com o protocolo pretende-se acelerar o encaminhamento destas situações”, diz.

“O nosso Serviço Nacional de Saúde era lento, muito demorado e tinha algumas incongruências nas urgências psiquiátricas em momentos de crise”, explica.

Neste momento a PSP dispõe de psicólogos em Lisboa, Porto e Faro para prestar apoio direto. Nos outros comandos há uma rede de psicólogos a quem os polícias podem recorrer. Os Comandos de Vila Real, Viana do Castelo, Viseu e Portalegre não dispõem de consultas regulares. Uma situação que a PSP quer ver alterada.