O líder comunista considerou que o ex-presidente do CDS-PP errou ao adotar o termo “geringonça” para designar os acordos parlamentares que viabilizaram o Governo PS, dos quais tem “visão positiva”, embora sob ameaça “insanável” devido aos constrangimentos impostos por Bruxelas.

Jerónimo de Sousa, em entrevista à Agência Lusa no recinto da Festa do “Avante!”, cuja 40.ª edição decorre entre 2 e 4 setembro, vincou o projeto alternativo do PCP — controlo público da banca, renegociação da dívida e preparação para saída do euro.

“É uma expressão dita por Paulo Portas, na altura em que ainda estava muito zangado com a solução política encontrada. Procurou minimizá-la e desvalorizá-la, foi esse o sentido da adjetivação que arranjou. Relevante, de facto, é que, tal como Passos Coelho, se enganaram porque estavam sempre, a cada dia — ou era o orçamento ou a União Europeia ou os mercados ou as agências de rating –, permanentemente, ‘agora é que é, agora é que é’ [o fim]… E, afinal, não tem sido. Acho que devia retirar a caracterização e classificação que fez”, afirmou, referindo-se ao aproveitamento do ex-líder centrista da expressão do colunista Vasco Pulido Valente.

Do acordo com os socialistas, Jerónimo destaca como “elemento mais relevante a concretização de muitas das medidas que ali estavam contidas, de reposição de salários, direitos, rendimentos dos trabalhadores e do povo portugueses”.

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“Tínhamos e temos consciência das limitações e insuficiências dessa posição conjunta, que define o grau de compromisso e convergência. Sendo ainda prematuro um balanço, aquilo que gostaria de sublinhar era este avanço significativo de medidas mais urgentes que os trabalhadores e povo sentiam e reivindicavam. Tem tanto mais significado quando sabíamos bem qual era a proposta de PSD e CDS: não só manter as injustiças, como agravá-las, particularmente no plano da segurança social, legislação laboral e privatizações”, resumiu, reconhecendo “uma visão positiva daquilo que foi alcançado”, apesar dos “constrangimentos” da UE.

“Da parte do PCP, tem havido um esforço construtivo, sério, numa posição claramente autónoma, onde nos diferenciámos já por algumas vezes do PS, das suas propostas – relembro o caso do Banif, que é talvez o mais paradigmático. De qualquer forma, estamos a honrar o compromisso nunca esquecendo que o principal compromisso do PCP é com os trabalhadores e o povo portugueses”, garantiu, reiterando a condenação à “permanente chantagem” das instituições europeias sobre Portugal.

Para Jerónimo de Sousa, “é inaceitável” que as instituições europeias admitam a possibilidade de sanções a Portugal porque esse exercício [“pacto de agressão/memorando da troika] foi feito”. “A minha preocupação maior é que, com o evoluir da situação, esses constrangimentos, pressões e ameaças, colidam frontalmente, de forma insanável, com o caminho que pretendemos seguir. Essa contradição vai acentuar-se e, sem um posicionamento de afirmação de soberania estaremos permanentemente sob a alçada da chantagem e do constrangimento”, criticou, esclarecendo não haver “ilusões em relação ao programa do PS e do Governo, que diverge” dos “pontos de vista” do PCP, aos quais, confia, “a própria vida que vai, mais uma vez, dar razão”.

Confrontado com o horizonte de mais três anos de legislatura sem renegociação da dívida ou outras medidas defendidas pelos comunistas como o controlo público da banca, o secretário-geral do PCP continua “a pensar que, apesar de tudo, o mundo move-se”.

“Aquilo que parecia impossível há uns anos atrás, hoje demonstra-se que é possível. Esta confiança que temos é a de que a realidade vai impor-se. Pensamos que uma solução duradoura para problemas estruturantes não passa por ficar na expectativa. Há que tomar iniciativas. Três anos é muito tempo. Temos o compromisso de concretizar os conteúdos da posição conjunta, mas, simultaneamente, examinar outras matérias que não estão contidas”, concluiu.