Recuemos 16 anos. Em 2000, falar de figo não era, necessariamente, falar do fruto (ou, se quisermos ser rigorosos, da infrutescência) da figueira. Nessa altura, era altamente provável que a expressão se referisse a Luís Figo, o fabuloso ala-direito formado no Andorinhas, feito homem no Sporting, vedeta em Barcelona e galáctico no Real Madrid, antes de encerrar a carreira em modo gentleman no Inter de Milão, já com um penteado bem mais decente do que o que apresentava nos primórdios da sua epopeia futebolística.

Gelados de figo, pizzas com figos...

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Nesta época, pizzarias como a Casanova, em Lisboa, ou a Casa d’Oro, no Porto, voltam a ter disponível um dos ex-líbris das respetivas ementas, a pizza fichi e prosciutto — figo e presunto –, famosa pela referência que lhe surge associada na ementa: “há quando houver”. É agora.

Da mesma forma, também não faltam gelatarias que, por estes dias, vão utilizando o figo como matéria-prima. No Porto, a novíssima Gelataria Portuense usa-o para o seu pingo de mel (figo e requeijão de ovelha) e em Lisboa é presença regular no escaparates da Gelato Mú, no Campo Mártires da Pátria e da Davvero, no Cais do Sodré.

Década e meia volvida, a ordem natural das coisas foi reposta. Nos dias que correm, falar de figo é, quase sempre*, falar do que se come, nas suas diferentes cores e espécies: lampa branca ou preta, princesa, moscatel ou pingo de mel, entre outros. Dividem-se entre lampos e vindimos, sendo que os primeiros atingem o ponto de maturação a partir de junho e os segundos esperam quase sempre pelo final de agosto.

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(*Quase sempre porque em jogos de maior aperto ainda se ouvem sportinguistas argumentar que “isto com o Figo e o Balakov é que era. Mas pouco mais.)

Mal chega a respetiva época — e aqui estamos a falar apenas de figos frescos, que os secos arranjam-se o ano inteiro — os adeptos dos ditos começam a vasculhar as prateleiras de mercados, frutarias, mercearias e supermercados, numa demanda sôfrega. Fazem bem. Eles e os figos, como nos recorda um recente artigo da revista espanhola Tapas onde se enumeram os respetivos benefícios:

  1. O seu alto teor de fibra ajuda à digestão.
  2. Tem uma grande quantidade de antioxidantes, vitaminas e sais minerais.
  3. Os seus açúcares naturais ajudam a controlar a ânsia por doces.
  4. Ajuda a prevenir a diabetes e a gerir os níveis de açúcar no sangue.
  5. Reduz o risco de anemia, por ser rico em ferro
  6. Contribui para limpar os pulmões e eliminar o respetivo excesso de mucosidade
  7. Tem propriedades anti-reumáticas que minimizam o desgaste das articulações

Tecnicismos à parte, a verdade é que poucos frutos geram uma paixão tão arrebatadora como este. Desde tempos imemoriais, os mesmos onde nasceram o ditado “seja tua a figueira e esteja eu à beira” e a expressão “chamar-lhe um figo” para designar algo comido com enorme prazer. Figos, por exemplo.