É um dos nomes mais respeitados no ecossistema de startups israelita e não duvida que até quando falha tem sucesso. Yossi Vardi, que já lançou e ajudar a lançar mais de 80 empresas de alta tecnologia, foi quem, juntamente com o filho, vendeu o programa de mensagens instantâneas ICQ à AOL em 1998, por 400 milhões de dólares.

“Temos sucesso mesmo quando falhamos. Eu investi em 86 empresas, vendi 30 e fechei outras 30. Quando olho para aquelas em que perdi dinheiro também as vejo como sucessos. É uma questão de mentalidade”, disse a uma sala cheia de jornalistas no arranque da conferência do festival de inovação DLD, em Telavive.

Considerada uma das 25 pessoas mais influentes no setor tecnológico pelo Wall Street Journal, Vardi explicou que o conselho mais importante que poderia dar aos empreendedores não era direcionado apenas para a forma como geriam as suas empresas, mas “para a vida”. “É o de escolher e selecionar as pessoas a quem te associas: quem são os teus parceiros na vida, no trabalho, no divertimento. Isto é o mais importante: a qualidade das pessoas com quem te associas, e o quão compatível és”, afirmou.

De acordo com Vardi, que é ainda diretor geral do Ministério da Energia israelita, presidente não executivo da Fundação Jerusalem e do festival de inovação de Telavive, DLD, e conselheiro de líderes de empresas multinacionais como a AOL ou a Amazon, cerca de um terço das novas startups estão a fechar porque os fundadores não se dão.

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“Estamos habituados a falar do contributo do exército para o ecossistema de startups de Israel e achamos que isto acontece porque lhes damos acesso à tecnologia e temos unidades de elite tecnológica. Mas eu acho que aquilo que o exército está a fazer, na verdade, é a criar um verdadeiro filtro, que permite às pessoas perceberem com quem se sentem bem. No exército, tens de trabalhar em equipa, sob pressão e sobre circunstâncias muito apertadas. Depois de alguns anos nisto, sabes exatamente em quem confias e com quem podes contar. E esta é uma das contribuições mais importantes do Exército para a indústria da alta tecnologia e para a vida”, adiantou.

Fã de Amália Rodrigues, como adianta ao Observador, explica porque é que a maioria dos seus investimentos são feitos em Israel: porque gosta de se focar no mercado local. “Para um investidor anjo de early stage [fase muito inicial da ideia ou projeto], é muito importante estar perto do seu portefólio. E a verdade é que gostaria de dedicar o meu tempo e os meus recursos a construir o ecossistema israelita. Acho que os outros países podem tomar conta de si próprios”, afirmou.

Para aquele que é considerado o pai do ecossistema de empreendedorismo israelita – o segundo maior do mundo logo a seguir aos EUA -, a grande diferença desde o tempo em que começou a investir, em 1996, está no acesso à inovação. Yossi Vardi explica que há cerca de 20 anos, havia uma série de grandes empresas e agências governamentais que controlavam esta agenda, como os EUA; Reino Unido, Israel.

“Tinham o capital necessário e empresas grandes como a General Motors ou a Siemens tinham um orçamento para inovação. Quando alguém lhes queria mostrar alguma coisa nova, eles diziam que a ideia era estúpida ou que ninguém ia consegui aplicá-la. Havia uma lista de 50 desculpas para rejeitarem as ideias das empresas pequenas. Agora este paradigma foi substituído por o outro, o do FOMO, ou seja ‘Fear of Missing Out’ [medo de perder tudo o que está a acontecer]”, afirmou.

Sobre o fenómeno mundial que se tornou o ecossistema de empreendedorismo tecnológico que se tornou Telavive – um dos maiores hubs de inovação tecnológica do mundo, o ecossistema líder na atração de capital de risco e a cidade que detém o maior número de startups per capita – diz que o segredo não está no exército, nem na tecnologia nem no Governo. Está nas pessoas.

“As pessoas são incentivadas a arriscar e todos se apoiam. Há uma parceria entre o Governo, a indústria e a sociedade civil”, afirmou, acrescentando que Israel é um país pequeno. “Estamos juntos e criamos coisas juntos. Toda a gente se conhece, toda a gente mete o nariz nos assuntos uns dos outros. Sabem quanto ganham, com quem dormem até. É um país muito transparente”, afirmou.

Yosso Vardi é um dos fundadores do festival de inovação de Telavive, DLD, que vai na quinta edição e que este ano decorreu de 25 a 29 de setembro.