O Conselho do BCE, organismo liderado por Mario Draghi e que define a política monetária na zona euro, não discutiu na reunião desta quinta-feira o desmame dos estímulos monetários. A garantia é do presidente do BCE, que refuta, assim, a notícia recente da Bloomberg de que já existiria um consenso no BCE para gerir o desmame de uma forma gradual. Mario Draghi confirmou que é “improvável” que os estímulos sejam retirados “de forma abrupta“, mas não se compromete com um calendário. Uma coisa é certa, como até Draghi reconhece: a política monetária agressiva atual “não pode continuar cá para sempre“.

As declarações de Mario Draghi foram proferidas na conferência de imprensa desta quinta-feira, que se seguiu à reunião do Conselho do BCE em que se decidiu manter as taxas de juro inalteradas, como se previa. Durante a conferência de imprensa, o euro subiu para mais de 1,10 dólares, depois de Mario Draghi ter garantido que não foi debatido na reunião desta quinta-feira o prolongamento do programa de compra de dívida — que, atualmente, se prevê acabar em março de 2017.

Questionado por um repórter presente na sala sobre Portugal e sobre o rating da DBRS, a atualizar sexta-feira, Mario Draghi confirmou que se o rating cair, as obrigações portuguesas deixam de poder ser compradas pelo programa de estímulos e deixam de servir de garantia (colateral) para as operações de financiamento da banca.

Contudo, Draghi afirmou que já houve “progressos assinaláveis em Portugal“. Contudo, “há vulnerabilidades que o governo conhece e o governo sabe que são necessárias reformas”. Em especial, Draghi destacou que é necessário promover uma “reestruturação da dívida empresarial” e uma solução para os “créditos não-performantes”, isto é, o crédito malparado e outros ativos que não dão rentabilidade aos bancos.

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Numa conferência de imprensa 15 minutos mais curta do que o habitual (terminou às 14h15), Mario Draghi conseguiu, contudo, falar para todos os intervenientes. Tentou satisfazer a linha dura do BCE dizendo que a política monetária agressiva “não pode continuar cá para sempre“, mas Draghi também quis tranquilizar os mercados reiterando que o programa de compra de ativos irá durar “enquanto for necessário“.

O BCE encarregou um grupo interno de técnicos para estudar algumas questões técnicas que envolveria prolongar o programa. Mario Draghi disse que o Conselho do BCE foi atualizado sobre o progresso desses trabalhos e deixou entender que em dezembro, na próxima reunião do Conselho do BCE, poderá haver novidades.

Na reunião de dezembro, a próxima, serão atualizadas as projeções económicas para os próximos anos, incluindo até 2019, pelo que muitos participantes do mercado leram nas palavras de Draghi uma intenção de avançar com mais medidas ou com o prolongamento do programa em dezembro. Essa leitura fez o euro inverter os ganhos iniciais e descer para um mínimo de quatro meses, nos 1,0942 dólares.