O melhor é fazer o relógio correr. Até aos oitenta e dois minutos.

O livre era frontal. A menos de um metro da área do Nacional. Foi Bruno César quem, empurrado pelas costas, ganhou a falta. E haveria de ser ele a batê-la. Habitualmente é Adrien quem o faz. Mas Adrien está lesionado. Mas hey, não é por acaso que Bruno ganhou o epiteto de chuta-chuta; o homem bate realmente com força na bola. Aproximou-se dela, o camisola onze. Aninhou-a sobre o relvado. Olhou para baliza. Depois, baixou os olhos de volta ao chão. E tornou a olhar para lá. Pela barreira, cerrada, cerradíssima, nada passaria. Bruno César sabe disso. E tentaria que o remate saísse mais à direita. E avançou, um passo, outro depois, chutou, a bola saiu-lhe da canhota, mas saiu enrolada, lenta, rasteira e ao lado da baliza. Muito ao lado. Não tocou em ninguém. O guarda-redes, esse, nem a ela se fez.

O remate de Bruno César pode descrever todo o futebol do Sporting até aquele minuto, a poucos do final: desgarrado.

E foi desgarrado que começou. E começou cedo. Logo aos oitos minutos: penálti. Até aí, não há muito o que contar, nem um remate para a estatística, nada. Mas depois de um canto à direita de Bruno César, largo, a fugir da pequena área e das luvas de Rui Silva, Coates é derrubado (é tão ostensivo o agarrão, que não houve quaisquer dúvidas para o árbitro Vasco Santos) por Rui Correia ao segundo poste. Na marcação, William Carvalho — algo lento e até displicente — remata sem potência e rasteiro para o lado direito, o guarda-redes Rui Silva também para lá se atira, e segura a bola. Não a desviou; segurou — tão fraco seguiu o remate de William. Habitualmente é Adrien quem o faz. É ele o “dono da bola” na hora de bater os penáltis. Mas Adrien está lesionado.

Falando do capitão e da falta que este faz. Não foi só por não ter batido o livre de Bruno César. Não foi só por não ter batido o penálti de William. Também ele, Adrien, os falha (penáltis, livres, até passes) de quando em vez.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Jorge Jesus tentou. De tudo. Tentou primeiro colocar Elias na sua vez. Mas Elias é “tenrinho” a apoiar a defesa e desconcertante (pela quantidade de passes que desperdiça ou apenas lateraliza) no ataque. Depois, tentou Bryan Ruiz ou o outro Ruiz, Alan. Um e outro têm canhotas que são autênticos “abre-latas”; mas são a “diesel” e Adrien joga a mil à hora. O que experimentar mais? Subir William? E depois quem faz a posição “seis”, Petrović? Seria pior a emenda do que o soneto. Esta noite, na Choupana contra o Nacional, Jesus tentou fazer de Bruno César um Adrien. Afinal, contra o FC Porto e o Real Madrid, Bruno andou naqueles terrenos e até se deu bem. Sim, deu. Mas Adrien estava lá. Ao lado.

Não há insubstituíveis. Nem Maradona foi. Nem Cruijff. Nem Zidane. Ninguém. Mas Adrien faz mais falta ao Sporting do que estes no Nápoles, no Barça ou no Real. Não é só pelo que joga, faz jogar e impede que os adversários o façam. É pela liderança. E este Sporting está a precisar de um toque a reunir. Ao terceiro empate consecutivo, precisa.

Chega de primeira parte. Não há mais o que contar-lhe. E da segunda só há tarde, aos 63′. À trave! E foi Patrício que desviou para lá. Agra desmarcou Ricardo Gomes na esquerda, dentro da área, este driblou Coates e deixou-o tombado sobre o relvado, seguiu até à linha de fundo, tentou cruzar para Hamzaoui ao primeiro poste, o cruzamento saiu-lhe enrolado e na direção da baliza, Patrício foi apanhado em contra-pé, mas ainda reagiu a tempo de desviar a bola. Foi com a luva direita que o fez, a bola subiu na direção da barra, voltou a descer, tocou a linha de baliza (por fora) e seguiu dali para fora, sem que ninguém a conseguisse desviar ou cortar.

O Sporting precisava de vencer. Ou isso, ou mantendo-se o empate, o Benfica ficaria a sete pontos de distância. E o FC Porto que amanhã visita Setúbal, poderá colocar-se a quatro. Luc Castaignos é ponta-de-lança. Um matulão. Jesus opta por tirar Zeegelaar (88′.) e fazer entrar Elias para os minutos que faltam.

E nos minutos que faltam, o Nacional voltou a estar perto de derrotar o Sporting. Foi um minuto após a substituição. Hamzaoui desmarcou (de primeira e em vólei) Ricardo Gomes nas costas dos centrais do Sporting, Patrício saiu mal da baliza, tardiamente, Ricardo desviou de cabeça à entrada da área, e a bola seguiu devagar, devagarinho… para fora. Mas passou a um palmo do poste direito do Sporting.