O BCP voltou a colocar muitos resultados de lado para cobrir imparidades de crédito — cerca de 1.600 milhões de euros. Ainda assim, o ano de 2016 foi positivo (23,9 milhões de euros de lucro) para o banco liderado por Nuno Amado. No ano passado os lucros tinham ascendido a 235 milhões, pelo que houve uma quebra de cerca de 90%. Nuno Amado sublinhou que as perdas são relativas a créditos concedidos antes de 2010, ou seja, responsabilizando a gestão anterior (de Carlos Santos Ferreira) e as outras gestões até 2010 por erros de gestão. “Quando as coisas não são bem feitas…”

Durante a conferência de imprensa, Nuno Amado esclareceu que não se referia apenas à gestão de Carlos Santos Ferreira (que estava no banco em 2010, entre 2008 e 2012) mas, também, aos gestores que estavam no banco anteriormente. “Mas isso é História”, asseverou.

A informação foi difundida em comunicado enviado à CMVM e foi apresentada por Nuno Amado em conferência de imprensa, em Lisboa. O presidente do banco diz que 2016 foi um ano “particularmente difícil” — apesar disso, conseguiu fazer reembolso do que restava da ajuda estatal. Mas o banco decidiu fazer um reforço “muito importante” de imparidades, que atingiram 1,6 mil milhões de euros, em mais um ano em que foi necessário colocar uma pedra sobre um conjunto de exposições de crédito problemático.

Ainda assim, o BCP garante que “excluindo itens não habituais” houve uma “evolução claramente favorável” em termos operacionais no banco. Sem contar com as provisões, o banco teria tido um resultado operacional superior a 1.000 milhões — seria “o maior resultado de sempre do BCP, incluindo antes da crise”, diz Nuno Amado.

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É devido ao “fardo” destes créditos problemáticos que há longos meses se fala na criação de um mecanismo que ajude as instituições financeiras a retirarem estes ativos não-rentáveis dos seus balanços. Enquanto esse mecanismo não surge, os bancos continuam a “digerir” essas perdas através do reconhecimentos das imparidades, que subtraem diretamente aos resultados.

O presidente do BCP garante que o banco está “quase em business as usual“, ou seja, que não vislumbra que seja necessário continuar a colocar de parte tantos resultados, em provisões. Em 2016, houve uma “redução muito significativa das non performing exposures e dos non performing loans em Portugal, com um aumento muito importante da cobertura por provisões, de 31% para 39%, e da cobertura total, incluindo garantias, de 93% para 100%”, diz o BCP.

“Nós temos um nível de imparidades que este ano foi absolutamente excecional, cerca de 1.100 milhões no crédito e 480 milhões noutros riscos — é uma sobredotação de imparidades de cerca de 500 milhões que é algo que foi absolutamente excecional, não normal, que considerámos razoável”, afirmou Nuno Amado. “Este foi um ano de transição (2016) pelo que contamos atingir os nossos objetivos de custo do risco em 2018”, depois desta subida das imparidades registada em 2016.

Nuno Amado culpa gestões anteriores pelas perdas. “Quando as coisas não são bem feitas…”

E porquê tantas imparidades? Nuno Amado diz que houve “claramente um agravamento em alguns setores, por exemplo ligados à construção, onde temos historicamente uma exposição grande. Alguns construtores em África, na Venezuela, tiveram problemas, pelo que houve necessidade de aprovisionar mais”.

Mas “o fundamental é perceber que mais de 90% da imparidade criada em 2016 e nos últimos anos tem a ver com operações de crédito que estavam no banco antes de 2010. Houve uma concentração de risco e uma dimensão de risco ligado a determinados setores que na altura se considerou que era adequada mas que demonstrou com a crise que setores mais débeis tiveram perdas maiores”, acrescentou Nuno Amado.

Durante a conferência de imprensa, Nuno Amado esclareceu que não se referia apenas à gestão de Carlos Santos Ferreira mas, também, aos gestores que estavam no banco anteriormente. “Mas isso é História”, asseverou.

Dar crédito é fácil, quando as coisas não são bem feitas têm consequências a prazo”.

Nuno Amado garante que, no que diz respeito a imparidades, “o pior está para trás“.

Um fator que ajuda a compreender a queda de 90% dos lucros, além das imparidades, é que em 2015 tinha havido uma mais-valia com venda de títulos de dívida pública de 396 milhões de euros. No ano passado, esse valor caiu para apenas 10 milhões de euros.

Nuno Amado garantiu, também, que não teve conhecimento de que tenha havido qualquer ideia de repartir o Novo Banco entre a Caixa Geral de Depósitos e o BCP.

Sobre a pressão recente sobre Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, Nuno Amado diz que “o supervisionado não opina sobre quem o supervisiona. Não vou fazer qualquer comentário. Mas é fundamental a estabilidade no setor financeiro. Estabilidade é fundamental. É preciso não tomar decisões que possam prejudicar a estabilidade do sistema financeiro”, adiantou Nuno Amado.