O até agora economista-chefe do Millennium BCP, José Brandão de Brito, vai tornar-se secretário de Estado do Orçamento no governo de Luís Montenegro e no Ministério das Finanças de Joaquim Miranda Sarmento. É alguém que há muito colabora com a política e com o PSD – já em 2015 tinha sido um dos peritos que ajudaram Pedro Passos Coelho a preparar o programa económico. E agora fica com a pasta do Orçamento que será uma das primeiras provas de fogo do novo titular das Finanças.

Doutorado em Economia pela Universidade de Birmingham, trabalhou no Banco de Portugal vários anos antes de ir para a banca privada em 2006. É filho de José Maria Brandão de Brito, histórico professor do ISEG recentemente jubilado.

José Brandão de Brito é economista-chefe do Millennium BCP. FOTO: página na X (antigo Twitter)

Em 2019, o Observador noticiou que Brandão de Brito, enquanto economista-chefe do BCP, tinha feito uma apresentação em Londres, junto de investidores institucionais, onde dizia que “seria bom” se houvesse uma maioria (absoluta) do PS nas eleições que viriam a acontecer mais tarde nesse ano. Porquê? Porque isso afastaria a “extrema esquerda” do poder, designadamente o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, que tinham apoiado António Costa a partir de 2015.

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Lá fora, BCP fala de política: “Uma maioria do PS seria boa” por afastar a “extrema-esquerda”

Foi assim que o economista-chefe do BCP falou com os investidores em Londres, num contraste com aquilo que era (e continua a ser) a posição transmitida invariavelmente pelos responsáveis do banco – como o CEO Miguel Maya – que é o de nunca comentar matérias políticas. Na altura, o Observador contactou o Millennium BCP, que salientou que esta era uma “opinião pessoal” de José Brandão de Brito, que não vinculava o banco, isto apesar de ter sido uma apresentação organizada pelo banco.

[Já saiu o sexto e último episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui, o terceiro episódio aqui, o quarto episódio aqui e o quinto episódio aqui]

Outra mensagem, menos controversa, que José Brandão de Brito transmitiu nessa apresentação em 2019 foi que dizer que “para uma economia endividada como Portugal, o investimento tem de vir de recursos internos, caso contrário isso vai agravar a dívida externa”. O economista-chefe do BCP defendia, para isso, que “a taxa de poupança tem de aumentar“.

“Isto é uma questão estrutural na economia portuguesa: as taxas de poupança das famílias são muito baixas, o que significa que será muito difícil financiar este processo de investimento com recursos domésticos — o que deixa como única alternativa recorrer aos mercados financeiros internacionais, tornando o país cada vez mais vulnerável a choques de confiança”. E, “como sabemos, a confiança nos mercados financeiros pode esfumar-se em poucas horas”, afirmava.

Mais recentemente, em fevereiro de 2022, três dias antes da invasão russa da Ucrânia, José Brandão de Brito já avisava que Portugal (e não só Portugal) tinha “um risco muito material” de ser confrontado com taxas de inflação em torno ou mesmo acima de 5%”. Tinha razão. Aliás, a inflação chegaria a dobrar essa fasquia, em parte devido aos impactos da guerra na Ucrânia e da crise energética que se agravou em 2022.