As conclusões estão vertidas num relatório divulgado pelo Parlamento britânico: há suspeitas fundamentadas de que hackers ao serviço de governos estrangeiros, como a Rússia e a China, podem ter provocado os problemas informáticos que se registaram semanas antes do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.

A informação mereceu o destaque natural de vários órgãos de comunicação social britânicos. De acordo com o The Guardian, que cita as conclusões do documento, os deputados responsáveis pelo relatório não identificam o possível autor do ataque cibernético, mas lembram, a propósito, o modus operandi de russos e chineses neste tipo de ação cibernética.

A 7 de junho, as autoridades britânicas foram obrigadas a alargar por 48 horas o prazo para inscrição dos eleitores que queria participar no referendo sobre Brexit. A decisão foi tomada depois de uma onda anornal de registos de última hora, que causou um crash de um dos sites governamentais criados para o efeito.

Agora, o comité parlamentar que investigou o caso chegou à conclusão de que o fluxo anormal de potenciais eleitores — cerca de 500 mil pessoas tentaram proceder à inscrição apenas no último dia — foi, na verdade, efeito de um ataque informático com origem estrangeira.

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Na época, houve quem, entre os defensores do Brexit, acusasse os defensores do remain — Davida Cameron, incluindo –, de serem responsáveis por esta anomalia. Até porque grande parte dos britânicos que se tentaram inscrever já perto do final do prazo estavam identificados como eleitores jovens, com menos de 34 anos, e que, por isso, podiam estar mais tentados a votar pela continuidade na União Europeia.

Os defensores do Brexit fizeram então correr a tese, ampliada pelas redes sociais e pelos meios de comunicação social britânicos, de que os apoiantes da permanência do Reino Unido na União estavam a organizar uma trama para desvirtuar o referendo. Numa disputa marcada pelas campanhas de desinformação e pela disputa cerrada de posições, casos como este podem ter ajudado a cavar ainda mais as trincheiras definidas — e a fazer pender o resultado para o lado do Brexit.

É isso que parece sugerir o relatório parlamentar agora divulgado. Admitindo que este incidente não teve qualquer efeito material no resultado do referendo — que se realizou semanas mais tarde –, o comité que investigou o caso defendeu que é essencial retirar lições sobre o processo.

“O entendimento dos Estados Unidos e do Reino Unido sobre a cibernética é predominantemente técnico. A Rússia e a China usam abordagem cognitiva baseada na compreensão da psicologia de massas e de como explorar os indivíduos”, notam os autores do relatório. “As implicações deste entendimento diferente de ataque cibernético”, como instrumento capaz de influenciar a opinião pública, “são claras”, concluem.