Há 66 milhões de anos, um asteróide terá provocado a extinção em massa que eliminou cerca de três quartos das espécies de seres vivos da Terra, onde se incluíam os dinossauros. Porém, os sapos e rãs teriam um destino diferente.

De acordo com um novo estudo levado a cabo por biólogos chineses e norte-americanos, estas espécies multiplicaram-se como nunca o tinham feito antes. Para melhor entender a evolução destes anfíbios, criaram uma árvore filogenética – diagrama de relações de evolução – através da análise de 156 genomas de sapos e de informações anteriormente publicadas de mais de 145 espécies. Chegaram à conclusão que cerca de 88% das espécies de sapo e rãs não estariam no planeta se a extinção em massa não tivesse acontecido, tendo em conta que 9 em 10 das espécies atuais descendem de três linhagens que sobreviveram à calamidade.

Na pesquisa publicada esta segunda-feira na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences está envolvida a Universidade de Sun Yat-Sen, da China, a Universidade do Texas, em Austin, a Universidade da California, em Berkeley e o Museu de História Natural dos Estados Unidos.

“O mundo ficou bastante empobrecido em resultado da grande extinção e, quando a vegetação voltou, as angiospermas (plantas dotadas de flores e frutos) começaram a dominar. A partir daí, as árvores evoluíram e os sapos e rãs tornaram-se arbóreos. Isso permitiu que as espécies se multiplicassem, especialmente na América do Sul”, disse David Wake, co-autor do estudo à Science Daily.

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O investigador explicou que as plantas eram usadas como proteção quando estavam em terra e como escape aos predadores, o que fazia das árvores o habitat ideal para estas espécies. Muitas destas plantas floresceram durante o período tardio do Cretácico, o último da era Mesozoica, e foram exploradas pelos sapos depois de recuperarem dos efeitos da grande extinção.

Cronograma evolutivo baseado em 95% de genes e 20 fósseis. Note-se que a diversificação inicial dos três principais grupos de sapos – Hyloidea (azul), Microhylidae (roxo) e Natatanura (verde) – ocorreram simultaneamente perto do fim do período Cretácico (linha vermelha tracejada). Imagem: Proceedings of the National Academy of Sciences

Duas das três linhagens sobreviventes – Microhylidae e Natatanura – saíram da África. A terceira, Hyloidea, espalhou-se pelo local que se tornou a América do Sul. Os resultados mostraram que as três linhagens incluem que 55 famílias e 6,7 mil espécies de sapos e rãs existentes atualmente, tiveram origem há 66 milhões de anos, pelo menos 35 milhões de anos depois do que era indicado por estudos anteriores.

“Estes sapos sobreviveram talvez por conseguirem permanecer no subsolo por longos períodos de tempo”, explicou David Wake. “Os sapos são excelentes a viver em microhabitats, e depois das florestas e ecossistemas tropicais renascerem, rapidamente se apoderaram das oportunidades ecológicas que surgiram”, acrescentou.

Apesar da sua resistência, as espécies modernas de sapos e rãs são ameaçadas, entre outros, pela destruição de habitat, mudança climática e pela ocupação humana.