Numa cimeira da NATO em maio, Donald Trump empurrou o primeiro-ministro do Montenegro, Dusko Markovic, para aparecer na frente de um grupo de líderes que caminhava enquanto era fotografado. No encontro de líderes do G-20 há dois meses, em Hamburgo, o presidente dos EUA deixou a filha — Ivanka Trump, assessora na Casa Branca — tomar o seu lugar na mesa onde estavam líderes mundiais como o russo Vladimir Putin, o chinês Xi Jinping, a alemã Angela Merkel e a britânica Theresa May. Que “diplo-gaffes” prepara o presidente norte-americano nos encontros das Nações Unidas, que começam esta terça-feira, uma organização várias vezes criticada por Trump?

Conta-se que, no início da década de 2000, uma empresa de Trump concorreu a um contrato para a remodelação das instalações das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, no bairro conhecido por Turtle Bay. Acabou por ser outro consórcio a conseguir esse trabalho e pode vir daí a aversão de Trump em relação ao organismo liderado por António Guterres. Já depois de ser eleito presidente dos EUA, Trump considerou a ONU “um clube” onde as pessoas “se juntam para falar e se divertirem um pouco”. “Muito triste”, concluiu Trump na sua conta de Twitter.

Depois de 20 de janeiro, as coisas vão passar a ser bem diferentes na ONU”, dizia Trump, já depois de ser eleito presidente dos EUA mas ainda antes da tomada de posse (a 20 de janeiro de 2017)

Não sendo oficialmente um anfitrião, é na terra-natal de Donald Trump, Nova Iorque, que acontece a Assembleia Geral das Nações Unidas. O evento tem início na terça-feira (e decorre até à próxima segunda-feira). O acontecimento é precedido, porém, já esta noite, por um jantar organizado por Trump — entre os convidados estão o presidente brasileiro, Michel Temer, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o líder peruano, Pablo Kuczynski. O tema quente deste jantar será, com toda a probabilidade, a crise na Venezuela, onde Trump já falou de uma “opção militar”.

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Terça-feira arranca, oficialmente, o primeiro encontro da ONU em que Trump aparece como representante do país mais poderoso do mundo. Não têm sido famosas as últimas prestações de Trump, em eventos diplomáticos — “o presidente tem tido uma conduta rude e forreta”, diz Stewart Patrick, investigador do Council of Foreign Relations, citado pelo USA Today. “Forreta” porque na cimeira da NATO a principal mensagem que procurou passar é que os outros membros deveriam pagar mais pela sua própria defesa. Até Angela Merkel, depois de ouvir essa declaração, comentou que a Europa tinha deixado de poder contar com os EUA para a defesa.

Na aproximação deste encontro, a expectativa, alimentada por fontes próximas do staff do presidente norte-americano, é que o magnata insista no seu mantra “A América em primeiro lugar”. Deverá, também, tentar reunir apoios contra a Coreia do Norte e as recentes experiências com mísseis balísticos. As críticas ao acordo nuclear que Barack Obama celebrou com o Irão — um “péssimo acordo” que Trump diz que Teerão não está a cumprir — também devem ser tema de conversa.

Mas Trump é imprevisível e, tendo em conta as prestações recentes, muitos dos participantes estão algo nervosos em relação às interações com o presidente norte-americano. “A grande agitação, com responsáveis governativos e diplomáticos, a andarem de um lado para o outro — isso pode ser desconcertante, mesmo para líderes relativamente calmos — mas Trump pode tornar-se ansioso e irritável”, diz Richard Gowan, um experiente membro do Conselho Europeu das Relações Externas que conhece bem a ONU. “Sinceramente, ninguém sabe o que é que Trump irá fazer nas Nações Unidas”, acrescenta Gowan.

“Será um Trump que quer discutir a sério com as Nações Unidas e falar sobre os problemas que podem ser solucionados em conjunto, ou teremos um Trump na sua versão confrontacional e crítica?”, pergunta Courtney Smith, uma professora da Seton Hall University, especialista nas Nações Unidas, citada pela Al Jazeera.

O mundo ainda está a tentar tirar as medidas a este presidente. Para muitos líderes, esta vai ser a primeira oportunidade para o ver, para o avaliar e para tentar cair nas suas boas graças”, diz Jon B. Alterman, do Center for Strategic and International Studies, em Washington, que compara este encontro a uma sessão de speed dating.

Angela Merkel não estará presente nesta reunião, por estar a poucos dias das eleições em que procura a recondução como chanceler alemã. O presidente chinês, Xi Jinping, que Trump está a pressionar para agir de forma clara e determinada contra a Coreia do Norte, também não estará presente — tal como também não estará o presidente russo, Vladimir Putin. Mas mais de 120 líderes diplomáticos vão participar nos trabalhos. Os principais encontros que estarão na mira dos fotógrafos são entre Trump e Emmanuel Macron, o presidente francês, e Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel (Mahmoud Abbas, presidente da Palestina, também estará no encontro).

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