O fraca primeira parte do Sporting em Moreira de Cónegos pode também explicar-se através de uma alcunha: Tozé.

António José Pinheiro de Carvalho, vulgo Tozé, é daqueles talentos da formação que aparentava nunca se vir a afirmar nos seniores. Nado e criado no FC Porto, tinha técnica, tinha inteligência e visão, era veloz q.b. (sendo baixinho sempre aparentou ter peso a mais) e remate sempre pronto. Mas Tozé não era só bom nos relvados; também o era como nos estudos: concluiu o secundário com média de vinte (!) e matriculou-se em Medicina Veterinária.

Escolheu não ser (por enquanto) veterinário e continuou a lutar por um lugar de azul-e-branco vestido. Chegou mesmo a ser o goleador-mor (mesmo sendo médio e não avançado) do FC Porto B: 21 golos em 40 jogos na época 2013/14. Os portistas emprestaram-no na temporada seguinte ao Estoril. Jogou. Mas seria dispensado na época a seguir, seguindo para Guimarães. Duas épocas, uma lesão grave, poucos ou nenhuns jogos como titular. É este o resumo de Tozé no Vitória. Não se afirmaria e talvez o melhor seria mesmo prosseguir os estudos…

Mas o futebol deu mais uma oportunidade a Tozé e o Moreirense de Manuel Machado apostaria nele. Este sábado à noite, contra o Sporting, voltou a ser tudo aquilo que dele se vira quando jovem. E mais: Tozé não foi só um médio-centro; Tozé foi extremo, à direita ou à esquerda, Tozé foi até ponta-de-lança antes de sair (esgotado) na segunda parte. Tudo quanto o Moreirense fez de bom, invariavelmente Tozé esteve lá.

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Moreirense-Sporting, 1-1

Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos

Árbitro: Manuel Oliveira

Moreirense: Jhonatan; Koffi (André Micael, 54’), Iago, Mohamed e Rúben Lima; Semedo, Neto, Zizo, Tozé (Cádiz, 85′) e Rafael Costa; Peña (Bilel Aoucheria, 75′)

Suplentes não utilizados: Felipe, Ernest, Belkeroui e Arsénio

Treinador: Manuel Machado

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu e Fábio Coentrão; William Carvalho, Bruno Bernandes (Battaglia, 66’), Gelson Martins e Bruno César (Iuri Medeiros, 72′); Alan Ruiz (Doumbia, 46’) e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Ristovski e Jonathan Silva

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Rafael Costa (43’) e Aberhoun (61′, auto-golo)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Neto (58’), Bruno César (72′), Battaglia (77′), Rúben Lima (79′) e Jhonatan (89′)

Logo aos cinco minutos recebeu um passe a meio-campo e correu. Correu, correu, correu. Ninguém do Sporting o desarmaria, apenas recuava, recuava, recuava. E Tozé, chegado à entrada da área, remataria. Patrício esticou-se todo e voou para defender. Mas nem foi preciso: a bola sairia um palmo ao lado do poste direito do Sporting.

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O Sporting reagiria (no primeiro e único remate enquadrado que fez em toda a primeira parte) em seguida. Nove minutos no relógio. À direita, Gelson driblaria Rúben Lima e, entrando na área, cruzou de pé esquerdo, cruzamento esse que seria rechaçado por Semedo. A bola sobraria ainda para Alan Ruiz, o argentino ajeitou-a para a canhota e rematou na direção do canto superior esquerdo da baliza à guarda de Jhonatan. O guarda-redes brasileiro nem reagiu ao remate. Mas o remate saiu pouco ao lado do destino pretendido por Ruiz.

Quando não rematava, assistia. Quem? Tozé. Viu Peña a desmarcar-se nas costas de Coates, colocou lá a bola (20’) e a defesa do Sporting seria apanhada em contra-pé. Peña adiantou-a em demasia, Patrício escorregou antes de sair aos pés do venezuelano do Moreirense, este ainda conseguiria rematar mas o guarda-redes do Sporting defenderia a custo. Mas Tozé voltaria a rematar. Foi aos 29’. O Sporting necessita ser mais intenso na pressão à entrada da área. Não o foi. Tozé recebeu um passe, Piccini e, depois, Bruno César deixaram que o médio do Moreirense tivesse espaço e ângulo para rematar — e este remataria mesmo. Patrício teve que desviar para canto um remate rente à relva, mas forte e bem colocado.

Até final, um golo e um que não o foi. Primeiro o que não foi e poderia ter sido. William tabela com Bruno César, recebe a bola de volta dentro da área, isolado, cruza (41’) para o poste contrário mas Dost não consegue desviar. O holandês só tinha o guarda-redes Jhonatan pela frente. Depois, aquele que não foi só fumaça.

Em parte sorte, em parte mérito — muito mérito. Tozé e Zizo tabelam à entrada da área do Sporting (43’) mas a bola nunca chegaria a Tozé outra vez. Coentrão intercetou o passe do egípcio Zizo. O problema para o Sporting é que o corte do lateral acabou por ser uma “assistência” para Rafael Costa, isolado na esquerda da área. O remate (e aqui está o “mérito” que atrás foi referido) do brasileiro é forte e colocando, aquilo a que na gíria se chama uma “bomboca”, sem hipótese de defesa para Patrício. Este foi o primeiro golo de Rafael no campeonato. Mas não foi o primeiro em Portugal; o primeiro foi há sete anos contra… o Sporting, num dérbi de juniores em que o brasileiro vestia a camisola do Benfica.

O Sporting chegaria ao intervalo a perder. Mas a verdade é que o Moreirense, estando em vantagem contra os visitantes de Alvalade, nunca conseguiria vencer no final: empatou 2-2 em 2011 e perderia 2-3 na época passada. Jorge Jesus reagiu e trocou Ruiz (apagado, como apagado tem estado em todos os jogos esta época) por Doumbia. O argentino não fez qualquer remate enquadrado com a baliza, não fez qualquer passe para finalização e, como se não bastasse, ainda perderia a bola no único drible que tentou fazer. É pouco.

A entrada do costa-marfinense significava uma coisa: “chuveirinho”. Estando o Moreirense a vencer, ainda se recolheria mais à defesa do que no começo do encontro. E recolheu. E o Sporting cedo começou a cruzar e voltar a cruzar bolas para a área, sempre à procura de Bas Dost, sempre à procura que o holandês cabeceasse ou as amortecesse para alguém cabecear. Não conseguiu ou poucas vezes conseguiu com êxito. Mas o Sporting empataria mesmo. Aos 61’. Depois de um canto à direita, a bola cortada por Micael acaba nos pés de Bruno César, o brasileiro cruza para o poste direito, William surge lá isolado (nenhum defesa do Moreirense conseguiria cortar o cruzamento) e remata. Jhonatan defende, mas defende para a frente e contra Aberhoun. Auto-golo do central do Moreirense.

Pouco depois, aos 67’, surge um cruzamento para a área do Moreirense, um longo cruzamento, Dost salta mais alto que Aberhoun e amortece a bola para Gelson, rematando depois o extremo português à barra. Doumbia não chegaria a tempo da recarga. Animado, o Sporting insistia e procurava mais insistentemente a reviravolta — sempre por via aérea e raramente com a bola no solo. E o Moreirense resistia. Mas só aos quarto de oito minutos de tempo extra, e com Coates a fazer de ponta-de-lança para aproveitar tanto “chuveirinho”, é que os verde-e-brancos voltariam a criar perigo.

Livre à direita, Iuri coloca a bola em Dost dentro da área, o holandês amortece-a para William, mas o capitão do Sporting (sozinho!) cabeceia por cima da barra. Lá diz o provérbio: quem anda ao “chuveirinho”, molha-se. E o Sporting empataria em Moreira de Cónegos, deixando o FC Porto isolado na liderança antes do clássico do próximo fim-de-semana.