Chapa cinco. Manita. Sacada. Cinco secos. Mão-cheia. Há pelos menos cinco expressões para adjetivar uma humilhante derrota como a que o Benfica sofreu em Basileia. Mas poucos se lembram da última vez que o Benfica foi derrotado por 5-0 num encontro das provas europeias.

A época era a de 1963/64. O Benfica de Lajos Czeizler (que ainda tinha Costa Pereira, Germano, Cavém, Coluna, Simões, José Augusto, Torres ou Eusébio, o melhor Benfica da gloriosa década de 1960) foi ao velhinho estádio do Dortmund, o Rote Erde, e perderia 5-0 — hat-trick de Brungs; Konietzka e Wosab também “molhariam a sopa” na Alemanha. Disputava-se a extinta Taça dos Campeões Europeus. Nunca um clube português tinha perdido por “chapa cinco” na Europa. Nunca.

Esta quarta-feira à noite, o Benfica seria igualmente assim derrotado pelo Basileia. Ainda assim, não é o clube português que mais vezes sofreu tal vexame. Ao todo, cinco equipas cá do burgo (Benfica incluído) foram derrotadas 5-0 em competições europeias. Além do Boavista (em 1977, contra a Lazio) e do Vitória de Guimarães (em 1983, diante do Aston Villa), também Sporting e FC Porto tiveram noites que não querem recordar tão cedo. Só à conta deles, seis “tareias” das antigas — três para cada um.

FC Porto. Taça das Cidades com Feiras, o central goleador da Holanda e o hat-trick de Bendtner

Pouco anos depois da goleada do Benfica em Dortmund, o FC Porto (então treinador pelo brasileiro Flávio Costa; o “abono de família” era o malogrado Pavão) foi também perder à Alemanha e voltou de lá com uma “sacada” de golos. Disputava-se a Taça das Cidades com Feiras e o adversário era o Hannover 96 — à época recheado de altos e ruços internacionais alemães, desde logo Siemensmeyer e Rodekamp.

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Anos depois, a 26 de outubro de 1988, o FC Porto (campeão europeu em 1987) deslocou-se ao Philips Stadion de Eindhoven na Taça dos Campeões Europeus. Ainda lá havia João Pinto, Inácio, André, Pacheco, António Sousa ou Madjer. Artur Jorge trocara as Antas pelo Matra Racing. E o treinador era naquela época Quinito. O melhor da noite na Holanda foi Ronald Koeman — que (mesmo sendo central) bisou no 5-0 final.

Adiante. Mais recentemente, na época 2009/2010, o FC Porto de Jesualdo Ferreira (e Hulk ou Falcao…) foi eliminado da Liga dos Campeões nos oitavos-de-final. Até começou por derrotar (2-1) o Arsenal no estádio do Dragão. O pior foi depois, com a ida ao Emirates Stadium, em Londres. Hat-trick de Nicklas Bendtner, 5-0 quando o árbitro belgaFrank De Bleeckere apitou para o final.

Sporting. O herdeiro de Puskás, os três “Mc” de Glasgow e a histórica “tareia” (12-1) do Bayern

Falando agora do Sporting, poucos se lembram da primeira vez que os de Alvalade perderam 5-0 na Europa. Foi a 5 de outubro de 1966. Na então Taça dos Taça dos Campeões Europeus, foi a Budapeste defrontar os húngaros do Vasas. Hoje é um modesto clube do meio da tabela na Hungria. À época tinha, por exemplo, uma lenda da seleção magiar da década de 1960: János Farkas herdou a camisola 10 de Ferenc Puskás — que então optara por ser internacional por Espanha e não pela Hungria. O Sporting tinha ainda muitos dos que em 1964 venceram a Taça das Taças: Carvalho, Hilário, Osvaldo Silva e, claro, Morais — o do “cantinho” contra o MTK, também de Budapeste. Não bastou: 5-0.

Época de 1983/84. O Sporting foi ao Celtic Park de Glasgow. E o Celtic aplicaria uma “chapa cinco”. De nada valeria ao Sporting o seu tridente de ataque, com António Oliveira, Jordão e Manuel Fernandes. O do Celtic (com Murdo McLeod, Frank McGarvey e, sobretudo, Brian McClair) destroçou a defesa portuguesa: um golo para cada um dos “Mc”.

Mais recentemente, em 2009, o Sporting sofreria uma das maiores humilhações (se não mesmo “A” maior) da história do clube. Perdeu 5-0 no José Alvalade com o Bayern. Pior: no jogo fora, na Baviera, os 5-0 viraram… 7-1.

A noite dos sete nos Balaídos (e a “chapa cinco” sofrida no Dragão)

Nenhum adepto do Benfica se esquece. Não há como. Estádio dos Balaídos, em Vigo. 25 de novembro de 1999. Depois de uma vitória à justa contra o PAOK (Sabri e Machairidis trocariam Salonica por Lisboa meses depois) na segunda ronda da Taça UEFA, o Benfica, então treinador por Jupp Heynckes, defrontaria o Celta na terceira. O Celta não era propriamente uma potência do futebol espanhol à data. Nunca o foi. Mas, ainda assim, tinha no platel Makélélé, os russos Karpin e Mostovoi, Celades, Gustavo López ou Benni McCarthy. Uma “potência” ou não, a verdade é que cilindrou autenticamente o Benfica naquela noite inenarrável: 7-0. Foi a maior derrotada alguma vez sofrida pelo Benfica nas competições europeias. Nem tudo era mau na Luz. Robert Enke, Maniche, Karel Poborský, João Pinto ou Nuno Gomes não eram propriamente “maus”. O problema era a mediocridade em redor deles: Tahar, Ronaldo, Rojas, Okunowo, Andrade, Kandaurov, Chano, Luís Carlos ou Tote. No jogo de Lisboa, Celta e Benfica empatariam 1-1.

Na época 2010/11 o FC Porto de André Villas-Boas recebeu no estádio do Dragão o Benfica então treinado por Jorge Jesus. E venceria 5-0 — com Belluschi, Hulk e Falcao, sobretudo eles, a “mal-tratarem” a defesa a três dos encarnados: Luisão (que até foi expulso), David Luiz e Sidnei. Foi a última vez que o Benfica sofreu uma “chapa cinco” (sem nenhum golo marcado) antes da deslocação a Basileia. Mas este nem foi o jogo que mais custaria a engolir aos da Luz nessa época. O que mais custou a “engolir” foi precisamente… o da Luz, na segunda volta do campeonato. Os portistas venceriam (1-2) no estádio do rival e festejariam o título no final, em pleno relvado. Festejariam, sim, mas às escuras e encharcados — pois a iluminação foi desligada logo após o apito final e os aspersores postos a funcionar, num dos episódios mais indecorosos de que há recordação no desporto em Portugal.