O presidente e líder parlamentar do PS, Carlos César, admite a existência de uma “pequena dissonância” entre o Presidente da República e o Governo, mas acredita em mais dois anos de “grande confluência” entre Marcelo Rebelo de Sousa e o Executivo de António Costa. Num jantar com mais de dois mil agricultores na Ribeira Grande nos Açores — onde também estava o Presidente da República — César destacou que as relações entre Belém e S. Bento são “boas” e que “se têm afirmado nestes últimos dois anos pela qualidade da estabilidade política e da cooperação”. No entanto, reconhece, “isso não quer dizer que não existam sensibilidades sobre este e aquele tema em que os órgãos de soberania possam divergir“.

Carlos César elege como “um dos valores da democracia portuguesa neste seu ciclo mais recente” a “conjugação de vontades entre a Presidência e o Governo, que muito tem contribuído para o ajustamento de políticas e para a estabilidade” que o país vive. O presidente do PS elogia Marcelo, admitindo que “a Presidência da República a seu modo desenvolve uma atividade pedagógica que tem ajudado o Governo a ser melhor e tem ajudado os portugueses a compreender as instituições políticas, o valor da política e o valor da estabilidade”. Isto não quer dizer que Marcelo e Costa façam as coisas “da mesma forma” mas “fazem com o mesmo objetivo: fazer o país andar para a frente”.

César diz ainda que não ficou chocado com as declarações do Presidente. Sobre se existiu deslealdade, atira: “Nada disso”. Isto embora admita que possa “haver um entendimento deste ou daquele membro do Governo de que o Presidente da República podia ter feito na sua alocução dar um menos ênfase a este ou aquele aspeto“.

O socialista insiste que o “valor da cooperação entre Presidente e Governo é muito importante para vida política e para o sucesso que o país tem de ter”. E, acredita, “quer o primeiro-ministro, quer o Presidente conjugam dessa necessidade e apercebem-se que essa colaboração é essencial”. César considera ainda “extraordinário que ao fim de dois anos se descubra por causa da manchete de um jornal uma pequena dissonância”. E acrescenta: “Prefiro que em todos os 700 e tal dias desses dois anos se tenha descoberto uma grande confluência. O que também irá acontecer nesta segunda [parte da] legislatura, em benefício do nosso país.

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Sobre os incêndios, o presidente da bancada socialista parece ainda desculpar a falta de afetos de António Costa, dizendo que “é natural que o Governo estivesse mais concentrado naquilo que materialmente era possível fazer e o Presidente estivesse concentrado na afetividade e no apoio moral que era possível dar aos portugueses numa circunstância tão difícil”.

Na quinta-feira, dia de maior tensão, César cruzou-se com Marcelo no Palácio da Presidência do Governo Regional, em Ponta Delgada. Ao chegar perto do presidente do PS, Marcelo ainda atirou, dando de seguida uma gargalhada: “Hoje nem sei o que lhe o diga”. Durante o discurso, olhando para César, ainda falou num dia “particularmente caloroso”. Nesse dia, César já tinha expressado o desejo de que as relações entre Governo e Presidente continuassem “boas”.

Carlos César avisa que relações entre Governo e Presidente devem continuar “boas”