“Mon ami, Juncker”. António Costa bem que podia utilizar a frase que caracterizou a relação de Soares com Miterrand. Numa altura em que se discute o Orçamento do Estado para 2018 em Portugal, o presidente da Comissão Europeia fez rasgados elogios a Portugal no Conselho de Estado — segundo apurou o Observador — enaltecendo a “recuperação económica, a redução do défice e a redução do desemprego“. Ao longo de quatro horas de reunião, os conselheiros bombardearam Juncker com perguntas sobre o Brexit, a Catalunha, a zona Euro ou a União Europeia de Defesa.

O convidado Jean-Claude Juncker fez uma intervenção de vinte minutos, dividida entre uma parte mais afetiva (sobre Portugal) e outra mais política (sobre Europa). Relativamente a Portugal, lembrou — tal como tinha feito numa intervenção antes de entrar — que tem uma ligação de há muitos anos com o país e transmitiu” a vontade da União Europeia ajudar Portugal na resposta aos incêndios”, lembrando que “já está a ajudar”.

António Costa, na sua intervenção, viu em Juncker o seu Miterrand. Agradeceu muito ao presidente da comissão, que elegeu como “amigo” de Portugal, lembrando que foi um “grande aliado” em três momentos importantes para o país: na não aplicação de sanções, na saída do Procedimento por Défices Excessivos e na ajuda após a tragédia dos incêndios.

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Sobre os incêndios, o Presidente da República propôs um voto de pesar logo no início da reunião, mas — ao longo do Conselho de Estado — nenhum dos conselheiros falou sobre a problemática, uma vez que havia um convidado estrangeiro. Ou seja: não faria sentido falar de política interna.

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Já Juncker, que esteve quase quatro horas em silêncio, foi anotando as perguntas dos conselheiros, brincando quando lhe voltaram a dar a palavra, dizendo que eram mais de 60 perguntas e que ia tentar responder a todos, mas por blocos. Os conselheiros falaram pela ordem em que estavam sentados (é uma regra da era Marcelo) e a maioria falou em português, embora alguns tenham falado em francês e inglês. Cavaco Silva, por exemplo, colocou questões a Juncker em inglês, sobre a influência na Europa do eixo Merkel-Macron. O conselheiro Domingos Abrantes (indicado pelo PCP) foi o único que teve uma intervenção marcadamente anti-europeísta e anti-euro.

Na parte sobre Europa, Juncker lembrou que já houve um tempo em que a Europa parou no tempo, e entrou num estado de “esclerose“, mas destacou que agora voltou a entrar num estado de crescimento e desenvolvimento económico. Sobre o futuro da Europa, reiterou os desafios assumidos no debate do Estado da União Europeia.

Nesse debate, recorde-se, Juncker defendeu uma união monetária composta por todos os membros da união política, um serviço de informações e uma procuradoria europeus e uma união da Defesa até 2020, um presidente único aos comandos da União, listas transnacionais para candidatos ao Parlamento Europeu, acordos comerciais concluídos até ao final do seu mandato, a criação de uma agência europeia de cibersegurança e um ministro das Finanças e da Economia europeu.