O Parlamento do Peru votou esta sexta-feira uma moção para dar início ao processo de destituição do presidente Pedro Pablo Kuczynski, na sequência de acusações que o põem no centro de um dos maiores escândalos de corrupção da América Latina, pela mão da construtora brasileira Odebrecht. Os deputados peruanos votaram 93 contra 17, aprovando o início do impeachment. Kuczynski deverá apresentar-se aos deputados na próxima quinta-feira para se defender.

Já esta quinta-feira, o presidente peruano tinha anunciado que iria pedir às autoridades judiciais o levantamento do seu sigilo bancário, após acusações de que uma das suas empresas recebeu pagamentos da construtora brasileira Odebrecht, que também está envolvida no caso Lava-jato “Peço o levantamento do meu sigilo bancário para que analisem tudo o que quiserem e assumo todas as responsabilidades que derivem dos meus atos”, disse Pedro Pablo Kuczynski numa mensagem ao país transmitida pela televisão.

O chefe de Estado peruano afirmou que não se vai “deixar intimidar” pelas advertências políticas no Congresso (o equivalente ao Parlamento), liderado pelo ‘fujimorismo’ [referência ao antigo Presidente do país Alberto Fujimori], de que o destituirá do cargo se não apresentar a demissão. Mas a ameaça é mesmo real, e os congressistas já deram o primeiro passo para porem o processo de impeachment em marcha.

Presidente do Peru pede levantamento de sigilo bancário devido ao caso Odebrecht

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O voto que dará início ao processo de destituição surge um dia depois de o presidente peruano ter recusado demitir-se na sequência daquilo que apelidou de “falsas” alegações que o acusam de ter recebido mais de quatro milhões de dólares da construtora brasileira Odebrecht. “Estou aqui, não fujo nem me escondo, não tenho motivo nenhum para isso. Estou aqui porque vocês merecem uma explicação e eu tenho a obrigação de a dar”, disse na mensagem televisiva que divulgou, onde se recusou a sair e onde autorizou o levantamento do seu sigilo bancário.

Kuczynski é o mais recente líder político da América Latina a ser relacionado com os escândalos de corrupção da Odebrecht. Ainda esta quarta-feira, o vice-presidente do Equador, Jorge Glas, foi sentenciado a seis anos de prisão por ter recebido 13,5 milhões de dólares daquela construtora brasileira. Mas são vários os políticos envolvidos naquele caso massivo de corrupção: o antigo presidente do Peru, Ollanta Humala, e a mulher, estão em prisão preventiva, e o ex-presidente Alejandro Toledo está em lugar desconhecido, presumivelmente nos EUA, depois de as autoridades terem feito buscas à sua casa em fevereiro. Kuczynski foi primeiro-ministro e responsável pelas finanças durante o mandato de Toledo.

O epicentro do escândalo, contudo, é no Brasil, tendo envolvido o ex-presidente Lula da Silva e o atual Michel Temer. Dilma Roussef acabou por ser vítima política do caso Lava-jato, a mega-investigação de corrupção que começou na petrolífera Petrobrás, ao ser destituída no ano passado.

Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos chegou a admitir ter recebido um donativo da Odebrecht aquando da sua reeleição em 2014, mas garantiu não ter conhecimento da origem do dinheiro, pelo que pediu uma investigação.

Com sede no Brasil, a Odebrecht é a maior empresa de construção da América Latina. Segundo as informações conhecidas, terá pago cerca de 800 milhões de dólares em subornos entre 2001 e 2016, na sua maioria para conseguir contratos com governos de vários países da América Latina para construir obras públicas de grande dimensão, como estradas, pontes ou barragens.