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Como os empresários portugueses temem o Brexit. Mais prósperos juntos ou separados?

Na semana do referendo decisivo, fomos ouvir os empresários com ligações ao Reino Unido para tentar perceber: afinal, somos mais prósperos juntos ou separados? Perguntámos a quem manda nas empresas.

Mais de 50 das maiores empresas europeias, incluindo a Sonae, assinaram, em maio, um manifesto de apoio à permanência do Reino Unido na União Europeia (UE). A alternativa, o chamado Brexit, levará a “uma Europa mais fraca” – e “o próprio Reino Unido pode ficar mais fraco sem a Europa”, lia-se na carta. No Reino Unido, as campanhas do Ficar e do Sair esgrimem argumentos sobre as vantagens económicas e os perigos do Brexit, mas qual seria o melhor resultado para as empresas portuguesas com negócios no país que esta semana referenda a continuidade na UE?

“Consideramos que a presença do Reino Unido na União Europeia tem sido mutuamente benéfica, com a intensificação dos fluxos comerciais e do investimento, e queremos que assim continue“. Esta é, em resumo, a posição assumida pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP), transmitida ao Observador pelo seu presidente, António Saraiva. A CIP, que a 1 de julho promove uma conferência em Lisboa sobre os desafios da indústria europeia, diz que “a eventual saída do Reino Unido deixa-os a eles e a nós mais fragilizados para enfrentarmos estes desafios e aproveitarmos as oportunidades”.

É muito difícil antecipar o que aconteceria ao comércio internacional se o Reino Unido votasse pela saída. Muito dependeria do grau de suavidade com que decorressem as novas negociações comerciais com os principais blocos. É devido a esta incerteza que, num estudo de antecipação daquilo que poderá ser o processo de Brexit, os economistas da Euler Hermes estabelecem dois cenários: o soft leave e o hard leave, em que o primeiro se refere a um cenário em que a transição decorreria tranquilamente e o último em que as coisas se arrastariam um pouco mais.

No resto da zona euro, mesmo um cenário de soft leave (saída suave), com a introdução rápida de um acordo de livre comércio, o produto interno bruto (PIB) cairia 0,4 pontos percentuais entre 2017 e 2019. Iriam perder-se 17,5 mil milhões de euros em exportações de bens e serviços e 18,2 mil milhões em investimento direto, explicaram ao Observador duas das autoras do estudo, Ana Boata e Daniela Órdoñez. E num cenário mais atribulado — o hard leave? O PIB da zona euro cairia 0,6 pontos percentuais e o número total de insolvências empresariais aumentaria 1,5 pontos percentuais.

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No Reino Unido, a falta de acordos comerciais rápidos poderia levar o PIB a cair 4,3 pontos percentuais entre 2017 e 2019. Estas são estimativas que, é claro, a campanha pela saída considera descabidas. Para os defensores do Brexit, a previsível desvalorização da libra daria um impulso importante às exportadoras britânicas e, por outro lado, dizem, os acordos de comércio poderiam fazer-se tranquilamente porque a sua importância não é assim tão decisiva. Mas para a Euler Hermes e muitos outros especialistas, “já está a existir um impacto no investimento no Reino Unido”, meramente pela incerteza quanto ao referendo, pelo que isso é um sinal do impacto que irá existir caso o Brexit vença.

Para a Euler Hermes, Portugal sofreria, num cenário mais conturbado de Brexit (hard leave), uma perda de cerca de 200 milhões de euros em PIB (no período entre 2017 e 2019). Para a escala do produto português, cerca de 180 mil milhões por ano, é um valor significativo. As exportações dos setores do têxtil e dos veículos automóveis estariam entre as mais penalizadas em Portugal, afirma a Euler Hermes.

Impacto do Brexit

eulerhermestrade Fonte: Euler Hermes.

Turismo sofre

Mas há um setor que não aparece discriminado no estudo da Euler Hermes: o turismo. Para perceber as implicações de uma saída do Reino Unido, José Theotónio, presidente executivo do Pestana Hotel Group, falou com o Observador. Indicou que o grupo Pestana está, “naturalmente”, a acompanhar as notícias em torno do referendo, dado que existem “investimentos em Inglaterra e o principal mercado de origem de turistas é o Reino Unido“.

“Há, naturalmente, alguma preocupação porque a eventual saída do Reino Unido da União Europeia criará perturbações e alguma instabilidade. No entanto, acredito que a prazo o Reino Unido e a União encontrarão um modelo de relacionamento que será proveitoso para todos, porque se isso não acontecer haverá muito a perder para as empresas e populações dos países europeus”, acrescenta o responsável do Pestana Hotel Group.

Há, naturalmente, alguma preocupação porque a eventual saída do Reino Unido da União Europeia criará perturbações e alguma instabilidade. No entanto, acredito que a prazo o Reino Unido e a União encontrarão um modelo de relacionamento que será proveitoso para todos, porque se isso não acontecer haverá muito a perder para as empresas e populações dos países europeus
José Theotónio, presidente-executivo do Pestana Hotel Group.

O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirmou em Paris, recentemente, que “a saída do Reino Unido da União Europeia é um fator negativo” para o conjunto dos Estados-membros e “é certamente negativo para Portugal”. O responsável defendeu que “Portugal tem muitos portugueses a residir no Reino Unido” e que se trata de “um parceiro económico importante”. “Penso que é nosso desejo que o Reino Unido faça a sua decisão mas que a decisão seja de continuar a trabalhar com a União Europeia e, na minha opinião, dentro da União Europeia. Mas isso é obviamente uma decisão que cabe aos eleitores ingleses”, rematou.

O grupo Santander, que é o segundo maior investidor estrangeiro no país, também apoia a permanência. “Continuaremos no Reino Unido independentemente do que for decidido, mas achamos que o Reino Unido é melhor dentro da Europa e que a Europa é melhor com o Reino Unido”, disse Ana Botín, a presidente do grupo espanhol. O Santander Totta, liderado por António Vieira Monteiro, “revê-se inteiramente nas suas declarações”, segundo fonte oficial.

O impacto global para Portugal do Brexit seria muito grave, numa outra análise divulgada pelo Global Counsel em junho de 2015. Portugal apareceu nesse relatório como o quarto país europeu mais vulnerável às repercussões económicas da saída do Reino Unido da União Europeia. O estudo considerava fatores como a população imigrada no país, as exportações para o Reino Unido e ainda as ligações bancárias com instituições financeiras britânicas.

barometro-brexit

Após a divulgação deste relatório do Global Counsel, num dos primeiros trabalhos sobre o referendo do Brexit, o Observador falou com Bernardo Ivo Cruz, presidente da Câmara de Comércio de Portugal no Reino Unido. Já este ano, a Câmara consultou os seus associados sobre o possível Brexit e quase 80% dos inquiridos responderam que teria um impacto grande ou médio nas suas atividades. “Há empresas que dizem que se vão embora do Reino Unido, outras que esta mudança não as afeta e ainda quem afirme que tem de estudar o contexto do Brexit antes de tomar qualquer decisão sobre o seu futuro”, afirmou, nessa altura, Bernardo Ivo Cruz ao Observador.

António Saraiva, presidente da CIP, diz que “na medida em que as exportações portuguesas para o Reino Unido são bastante diversificadas, as preocupações vêm, de um modo geral, das empresas que estão mais dependentes deste mercado, independentemente do setor em que se encontram”. O responsável diz que, a partir do seu contacto com os associados, o impacto da incerteza já está a sentir-se mesmo antes do referendo.

E se o Brexit ganhar? “Mesmo que viessem a ser encontradas soluções no sentido de preservar a livre circulação de bens e serviços entre o Reino Unido e a União Europeia (e essas soluções são, sem dúvida, desejáveis e exequíveis), há considerar o impacto de uma previsível desvalorização imediata da libra, que penalizaria a competitividade dos nossos produtos naquele mercado”, alerta o presidente da CIP.

O fator cambial será decisivo. E é por isso que muitas empresas expostas ao Reino Unido e à libra já estão a tomar medidas com o objetivo de se precaverem. A Ebury é uma empresa financeira especializada nesse tipo de serviços e diz ao Observador que estes têm sido dias de muito negócio. “Para evitar oscilações adversas na libra e no euro pós-Brexit, muitos clientes já implementaram estratégias de mitigação de risco através de hedges para a sua exposição cambial nas semanas antes do referendo no dia 23”. Desta forma, explica Enrique Díaz-Álvarez, diretor de risco da Ebury, “as empresas e particulares conseguem fixar as taxas cambiais nos níveis atuais, protegendo as suas margens de qualquer volatilidade pós-referendo”.

Outras sociedades retiraram a libra esterlina da equação. Desde 1 de abril que a Vodafone britânica, a dona da Vodafone Portugal, contabiliza as suas operações em euros, apesar de ter a sua sede em Newbury, a cem quilómetros de Londres. “Essa alteração, que estava em preparação há bastante tempo e não está relacionada com o referendo em curso, resulta apenas de uma opção contabilística de reportar dados na moeda mais representativa das receitas da empresa”, explica fonte oficial da Vodafone Portugal. Vittorio Colao, o presidente executivo do grupo Vodafone, assinou, tal como Paulo Azevedo, da Sonae, o manifesto empresarial de apoio à permanência do Reino Unido na União Europeia.

Mesmo com o recurso a este tipo de mecanismos de proteção cambial, não há como negar: “as empresas portuguesas vão ressentir-se, claramente, pelo menos numa primeira fase” se o Reino Unido votar pela saída, diz Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP). “É algo que vai afetar a nossa economia, vai mudar o mundo. Será o símbolo de que estaremos a inverter a trajetória de integração crescente e globalização”, diz Bruno Bobone, ao Observador, lembrando que “as economias fechadas têm sempre menos progresso do que as abertas”.

“Portugal tem uma relação além de comercial e económica, também sentimental e seguimos muito o Reino Unido em muitas matérias”, diz Bruno Bobone. Porém, o presidente da CCIP diz que “Portugal ficará numa posição difícil, mas, se o Reino Unido sair mesmo, é possível que devido a essa relação histórica Portugal seja dos primeiros países a retomar relações com o Reino Unido”.

Seria “demasiado otimismo” achar que um processo como o Brexit possa dar-se sem “solavancos”, que irão penalizar a atividade económica, mas não será o fim do mundo, diz Bruno Bobone. “Com o tempo, acredito que o dinheiro não tem memória e acabará por haver um reajustamento. O Reino Unido continuaria a ser um mercado importante e as pessoas acabam por procurar encontrar de novo o seu lugar”, afirma.

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