Os últimos 30 anos têm sido marcados por uma revolução tecnológica e social, que condicionará o estilo de vida no futuro, tornando-o muito diferente da realidade que hoje conhecemos. Smart cities, inteligência artifical, Internet of Things e realidade virtual são conceitos que, cada vez mais, farão parte do quotidiano, um pouco por todo o mundo.

Por outro lado, a população não para de crescer. Estima-se que o planeta tenha atualmente sete mil milhões de habitantes, a maior parte concentrada nas cidades. Esta explosão demográfica representa igualmente um aumento do número de consumidores, que são quem dita as regras. E os consumidores mudaram. Têm uma nova atitude, novas prioridades e novas preferências.

Esta alteração de comportamento, à qual se junta o combate às alterações climáticas, está a originar o aparecimento de novos modelos de mobilidade suportados pela tecnologia: a conectividade, a eletrificação e a condução autónoma. O setor automóvel entra, assim, numa fase de grandes mudanças, que lançam desafios para o futuro. O verdadeiro impacto desta mudança permanece uma incógnita. Mas alguns factos podem ser dados como adquiridos, entre eles que o diesel e a gasolina têm os dias contados.

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O futuro dos automóveis é elétrico

“Nem todos os carros serão elétricos, autónomos e partilhados, em 2035, mas o carro do futuro será elétrico, autónomo e partilhado”. São palavras de Pedro Almeida, administrador executivo da SIVA, importadora e representante em Portugal da marca Volkswagen. Para fazer face a este desafio, o grupo prevê um investimento de 70 mil milhões de euros em mobilidade elétrica, dos quais 20 milhões em produto e 50 mil milhões em desenvolvimento de baterias, um elemento chave na mobilidade elétrica e na venda de automóveis elétricos.

Em Portugal, a percentagem destes veículos duplicou, do ano passado para este ano, situando-se agora em 1.6 por cento, valores que estão dentro da média europeia, que é de 1.8 por cento. O mercado europeu mantém-se relativamente equilibrado, com a maior parte dos países a venderem entre um e três por cento de veículos elétricos. Mas há exceções, como a Noruega, que se destaca com uma média de 55 por cento. Estes números são o resultado de uma aposta na eletrificação por parte do povo e governo noruegueses, que levaram a cabo uma série de medidas e incentivos para levar o consumidor a adquirir carros elétricos.
A tendência é que os restantes países venham a seguir o exemplo norueguês, nomeadamente com a obrigação europeia de redução de emissões de CO2, em 30 por cento, a partir de 2021 e até 2030. Esta legislação tenderá a provocar a uma aceleração da venda de carros elétricos por toda a Europa. “Não é possível atingir estas metas de descarbonização reduzindo apenas o nível de emissões dos carros a gasolina e diesel, é necessário apostar em força nos elétricos”, refere Pedro Almeida.

Em Portugal, existem 517 postos de carregamento, dos quais 49 rápidos, em 65 municípios. Mas, na opinião de Pedro Almeida, para que se aumentem as vendas, além das infraestruturas é necessária uma promoção e a criação de incentivos, além dos que já existem. “O nosso mercado não é maior porque não há grandes estímulos à compra de carros elétricos por parte de clientes individuais”, explica o administrador da SIVA.

O imperativo da conectividade

Nos dias de hoje estamos conectados 24 horas por dia através dos smartphones, tablets e computadores, mas há uma grande discrepância entre a nossa conectividade pessoal e a conectividade dos automóveis. Essa realidade está prestes a mudar.

Existem já veículos com acesso, ao simples toque de um dedo, a serviços como assistência em caso de acidente, informações de trânsito, alojamento ou serviços de ride sharing, car sharing e car on-demand. O caminho que está a ser feito aponta para o automóvel como um ponto de conexão, à semelhança de um smartphone, um computador ou um tablet.

De acordo com Ricardo Oliveira, da consultora World Shopper, que levou a cabo um estudo sobre o setor automóvel e a mobilidade em 2025, “as tecnologias imersivas como a realidade virtual e aumentada vão ter grande influência ao nível da relação do cliente com a indústria, que precisará de ser menos presencial”. Em suma, vai ser possível testar os automóveis à distância, até mesmo modelos que ainda não existam no mercado, ou resolver avarias via internet, sem ser necessária uma deslocação a um concessionário.

As tecnologias imersivas vão também ser usadas na formação de recursos humanos, uma vez que se assistirá a uma transição muito grande ao nível dos empregos. “Muitos deixam de fazer sentido e novos irão surgir, portanto a necessidade de gestão destes recursos humanos vai ser enorme. As tecnologias imersivas vão dar uma ajuda porque o coaching vai ser mais fácil. Através da realidade virtual vão poder ter ambientes simulados das situações que irão encontrar no quotidiano”, explica Ricardo Oliveira.

Carros partilhados

A geração entre os 18 e os 25 anos tem uma fraca relação de posse com o automóvel, não o encarando da mesma maneira que os seus pais ou os seus avós. Esta nova geração tem pouco interesse em tirar a carta de condução, como demonstra a redução de pedidos para o documento.
A crescente substituição do carro como um serviço em vez de um produto reforça o protagonismo da economia de partilha, no futuro. Este cenário torna-se ainda mais previsível se tivermos em conta a dificuldade de estacionamento, nas cidades, o facto de 75 por cento das viagens de carro se realizarem apenas com uma pessoa por viatura e a consequente fraca rentabilidade do automóvel, com apenas cinco por cento do seu potencial usado.

Mas o que é, afinal de contas, a economia de partilha? É a economia que está na base de conceitos como car sharing, ride sharing ou drive sharing, assentando numa plataforma que serve de ponto de encontro entre alguém que tem a propriedade de um produto ou serviço e quem o deseja comprar ou contratar.

Na prática, estas plataformas tornam possível, através de uma aplicação no smartphone, solicitarmos um veículos que nos vai levar onde quisermos, ou entrarmos num veículo estacionado na rua e seguirmos viagem com ele, mediante uma tarifa previamente acordada.

Até onde este trajeto nos levará, ainda não sabemos. Os efeitos da economia de partilha na mobilidade do futuro permanecem desconhecidos. “Embora já se consigam delinear alguns caminhos possíveis, existem muitas dúvidas sobre quais serão aqueles em que nos iremos focar mais”, realça Nuno Santos, country manager da Cabify, acrescentando ainda que “essa escolha é uma decisão de todos nós, de todos os consumidores. Mais até do que as marcas ou os players do mercado, vão ser as pessoas a decidir o caminho que se toma”, reforça.

A condução autónoma

Aquela ida para o trabalho em que podemos simplesmente largar o volante, não pisar no acelerador e aproveitar o tempo da viagem para ler um livro, ver um filme ou dar resposta aos emails está prestes a deixar de ser uma fantasia futurista. Os carros vão ser autónomos e já existem protótipos sem pedais e sem volante, que não necessitam de intervenção de um condutor. Por enquanto, esses modelos não são vendáveis, por restrições de legislação. No entanto, espera-se que o cenário venha a mudar em 2018, na Alemanha.

A autonomia ligada à Inteligência artificial possibilita o acesso ao transporte individual por parte de pessoas sem carta de condução, facilitando a mobilidade. Mas o grande foco vai ser a segurança, pois ainda morrem 1.3 milhões de pessoas por ano em acidentes de viação. “A grande razão para os veículos de condução autónoma existirem é essa”, garante Ricardo Oliveira.

O impacto da mudança

Qual será o impacto no setor automóvel de todas estas mudanças na mobilidade? Para Nuno Roldão, da Lubrigaz, concessionário do grupo Volkswagen, é preciso esperar para ver. “ Sabemos como estamos hoje mas não sabemos como vamos estar amanhã. A mobilidade vai ter de existir, o cliente vai ter de ser transportado de um lado para o outro. A única coisa que sabemos é que essas viaturas vão ter de ser mantidas, preservadas e nós no terreno somos o elemento mais válido para conseguir fazer esse trabalho”.

Vivemos uma fase de transição e muitas questões continuam, para já, sem resposta. A mobilidade e o setor automóvel estão em mudança, navegando à vista. Para já, a única certeza é que os carros do futuro serão elétricos, autónomos, conectados e partilhados.

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