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Miguel Mota vs. Brasil, com Arnaldo lá atrás à espreita
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Miguel Mota vs. Brasil, com Arnaldo lá atrás à espreita

FERNANDO MORALES/AFP/Getty Images

Miguel Mota vs. Brasil, com Arnaldo lá atrás à espreita

FERNANDO MORALES/AFP/Getty Images

"O Naná levou uma bolada e pensava que tinha sido baleado"

Costinha jogou o Guatemala-2000, onde Portugal chegou às "meias" de um Mundial pela única vez. Foi uma aventura com tiros, música e até um banquete numa casa portuguesa. É hoje o Portugal-Argentina.

Ganhou oito campeonatos entre 1999 e 2009 e estreou-se pela seleção num Campeonato do Mundo. Costinha, Pedro Costa no BI, vestiu as camisolas do Sporting, Freixieiro, Benfica, MRA Navarra e Nagoya Oceans, onde jogou cinco anos e agora, aos 37 anos, é treinador. Em 2000, com 21 anos, o azar de um foi a sorte dele e lá se aventurou no Mundial da Guatemala para defender a seleção nacional. Há música, tiros, sustos, risadas e uma medalha de bronze nesta história.

Meia-final do Mundial de futsal: Portugal-Argentina na RTP (esta noite, 1h da manhã)

Dezasseis anos depois, Portugal vai repetir a proeza. Costinha está encantado com Ricardinho, o jogador mais completo que viu. “Todos falam dos dribles, dos cabritos. E o trabalho defensivo? Quem põe os olhos nisso? Só consigo comparar o Ricardo com o Jordan”, diz. No dia em que Portugal joga a meia-final do Mundial de futsal (RTP, 1h da manhã), em Cali, na Colômbia, o Observador conversou com Costinha para entrarmos na máquina do tempo. Ahh, a conversa foi pelo Facebook, que a filha de Costinha já dormia e eram horas avançadas no Japão…

O Guatemala-2000 foi a sua primeira grande competição?
Sim, foi inclusivamente a minha primeira internacionalização no jogo de abertura: Guatemala-Portugal. Tinha 21 anos e fui chamado à última hora devido à lesão de um colega [Sérgio Júnior] no estágio final, em Rio Maior.

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E logo com a equipa da casa. Como era o ambiente?
Sim, 7500 pessoas, pavilhão cheio. Foi uma sensação única. Tínhamos apenas dois portugueses que viviam na Guatemala a torcer por nós. Estivemos uma tarde na casa de um português. Comemos, bebemos, tocámos viola, cantámos, conversámos… Estava lá toda a comitiva. Já não me lembro o que comi nem o que bebi, mas era como se estivéssemos em território português. Estávamos em casa!

"Estivemos uma tarde na casa de um português. Comemos, bebemos, tocámos viola, cantámos, conversámos... Estava lá toda a comitiva. Já não me lembro o que comi nem o que bebi, mas era como se estivéssemos em território português. Estávamos em casa!"

Como era o dia-a-dia por lá?
Tínhamos liberdade quanto baste, mas não arriscávamos muito sair porque havia sempre polícia armada com metralhadoras na rua. Passávamos muito tempo na receção do hotel ou mesmo nos quartos, que eram fantásticos.

Muitas cartadas ou já havia consolas?
Na altura estávamos a dar os primeiros passos a sério na Internet. Eu era um dos mais novos e junto com o Naná, o meu companheiro de quarto, escrevíamos um diário para um site em Portugal. Estava na berra o primeiro Big Brother e adaptámos a nossa aventura ao programa. Nada de consolas.

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Nelito e Daniel no Portugal-Espanha (1-3) na segunda fase de grupos do Guatemala-2000

A Guatemala era um país violento? Havia receio?
Nós tivemos dois casos de polícia durante a nossa estadia. No quarto do Nelito e do Formiga, numa das noites, entrou um projétil vindo não sei bem de onde. E durante um treino também entrou outra bala pelo pavilhão… O episódio do quarto de hotel pode ter uma explicação casual, pois o nosso hotel era perto de uma zona de bares e talvez com a euforia da noite tenham disparado tiros para o ar. Já o do pavilhão ficámos mesmo com algum receio e por momentos parámos o treino e tudo. Nunca soubemos quem foram os autores das proezas. E lá seguimos a nossa aventura.

Ui, imagino o cagaço…
À distância foi muito engraçado.

E deu origem a alguma piada de grupo ou palhaçada?
Deu. Nesse mesmo dia, durante o treino, logo depois de a bala ter entrado, o Naná estava distraído e levou uma bolada com estrondo na cara. Ele imediatamente mandou-se para o chão a chorar e a gritar “levei um tiro” e “ajudem-me”. Parece uma piada, mas se lhe perguntarem a ele podem confirmar que ele pensava mesmo que tinha saído baleado. Como eu disse, à distância foi tudo muito engraçado.

"O Naná estava distraído e levou uma bolada com estrondo na cara. Ele imediatamente mandou-se para o chão a chorar e a gritar "levei um tiro" e "ajudem-me". Parece uma piada, mas se lhe perguntarem a ele podem confirmar que ele pensava mesmo que tinha saído baleado"

Vamos ao futsal. Havia algum super-craque que queria ver ou defrontar?
Manoel Tobias e Fininho do Brasil. Santi e Llorente da Espanha. Eremenko da Rússia. Sei lá, eram tantas referências. Eram ícones do futsal.

Havia mais na altura ou continua a haver?
Eu sou suspeito. Eu vi jogar e joguei contra alguns dos melhores jogadores de sempre. Acho que aquela seleção do Brasil e da Espanha eram mais fortes do que as atuais. Disso não tenho dúvidas.

E do nosso lado, quem era o craque?
Era o André Lima, mas quem mais se destacou naquele Mundial foi o Arnaldo Pereira.

Torneio de Apuramento para o Campeonato da Europa de Futsal Hungria -2010: Portugal vs Polónia

Costinha em 2010

O Costinha era estreante. O que lhe dizia o treinador?
O treinador da seleção era o meu treinador no clube, o Orlando Duarte. Eu não me esqueço das suas palavras. Apesar de ter sido escolhido à última hora para ir, fui o primeiro jogador do banco a entrar no jogo de abertura. O Orlando conhecia-me bem. O resultado estava 0-0 e ele apenas me disse para ir lá para dentro organizar o jogo.

Aquilo desbloqueou: 6-2. Que tal o desempenho? As pernas tremeram?
Lá fui eu. O primeiro golo foi logo de seguida e ganhámos a confiança necessária para o resto do jogo. As pernas não tremiam porque tinha jogadores fantásticos ao meu lado, que me davam muita segurança. No torneio todo só marquei um golo. Nunca fui um goleador.

"O Orlando Duarte conhecia-me bem. O jogo estava 0-0 e ele apenas me disse para ir lá para dentro organizar o jogo"

A seguir veio o Brasil [derrota por 4-0]. Abanou a confiança no apuramento ou era impossível o Brasil vacilar no último jogo contra a Guatemala [ficaria 29-2]?
O nosso objetivo era passar em segundo. A derrota contra o Brasil por 4-0 foi encarada como um resultado normal. Nas meias-finais, aliás, levámos 8-0 e também foi encarado como normal.

Era mesmo missão impossível, então?
Naquela altura ganhar ao Brasil seria um milagre. Mas atenção: um dos grandes méritos do Orlando Duarte, enquanto grande responsável pela evolução da modalidade, foi que nunca nos colocou a jogar na retranca contra as potências mundiais. Nós tentámos sempre defender alto para podermos evoluir. E foi assim que aconteceu. Nos primeiros anos eram goleadas das grandes. Se tivéssemos jogado sempre a defender no meio campo, ainda hoje seríamos goleados. Fez parte da nossa evolução e da evolução do futsal em Portugal.

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Fotografia enviada por Costinha

Esse mundial ensinou-lhe alguma coisa ou deu-lhe algo que não conhecia? Tinha apenas 21 anos…
Para a minha carreira foi essencial. Na altura era amador e cresci imenso com esse Mundial. No final dessa época tornei-me profissional.

Portugal passa a segunda fase de grupos juntamente com a Espanha (vs. Holanda e Croácia) e perde depois a meia-final contra o Brasil (0-8). Foi fácil mudar o chip e limpar a cabeça para lutar pelo pódio?
Nós tínhamos uma coisa a nosso favor: era o nosso primeiro mundial. Ninguém dava nada por nós. Não éramos favoritos, não jogávamos sobre pressão. Por isso, a luta pela medalha de bronze foi com a motivação no máximo, mesmo tendo pela frente a super-equipa da Rússia, que era na altura a campeã europeia em título. Nesse jogo estivemos a perder 2-0 e, mesmo assim, tivemos força para virar o jogo [4-2]. Vitinha, Majó (2) e Formiga foram os autores dos golos.

"Nós tínhamos uma coisa a nosso favor: era o nosso primeiro mundial. Ninguém dava nada por nós. Não éramos favoritos, não jogávamos sobre pressão"

Quem é que lhe ensinou mais no futsal?
O Vitinha foi um grande capitão com quem aprendi muito. Como eu lhe costumava dizer: tinha duas tábuas nos pés, mas jogava que se fartava. O seu caráter e personalidade eram um exemplo a seguir.

Como está a ver esta seleção? Poderá ir até ao fim?
Agora é fácil falar, pois todos acreditamos que sim. E o mérito é daquela comitiva, que sempre acreditou. Eles foram os únicos que sempre acreditaram. Eles, as suas famílias e os seus verdadeiros amigos. A seleção está a ter um percurso notável e só eles podem dizer como será o final desta história de sonho.

Futsal: Portugal vs Turquia

Costinha vs. Turquia, em 2014

O Ricardinho entrava facilmente naquele lote de craques do seu tempo? Como é que o define?
Claro que sim. O Ricardo é um jogador que entrava provavelmente em qualquer seleção de qualquer geração. Ele é o jogador português mais completo que conheci. Todos falam dos dribles, dos cabritos. E o trabalho defensivo? Quem põe os olhos nisso? Ele é provavelmente o melhor jogador atacante do Mundo, mas, ao mesmo tempo, é também um dos mais temíveis defensores do mundo. Só consigo comparar o Ricardo com o [Michael] Jordan, que foi o melhor jogador de todos os tempos na NBA, sendo um dos melhores defensores.

O Ricardo trabalha para merecer o sucesso que tem. E neste Mundial tem sido bem acompanhado pelos restantes elementos. É o nosso líder natural e tem o respeito de todos os colegas, pois os outros jogadores sabem que ele perde uma bola no ataque e volta a sprintar para ajudar na defesa. Mas esta seleção é mais que apenas e só o Ricardo. E todos têm dado a cara neste mundial. Tenho de falar também no Bebé, que não iria ser o titular e acaba por ser uma das figuras. Tem sido um elemento em destaque, transmitindo a segurança que todos precisam. Uma autêntica barreira às investidas dos rivais.

"Todos falam dos dribles, dos cabritos. E o trabalho defensivo? Quem põe os olhos nisso? [O Ricardinho] é provavelmente o melhor jogador atacante do Mundo, mas, ao mesmo tempo, é também um dos mais temíveis defensores do mundo. Só consigo comparar o Ricardo com o [Michael] Jordan"

Essa é a visão já de um treinador, a educar as massas… Saudades de jogar, Costinha?
Nenhumas. Já faz parte do passado. Estou bem resolvido com a minha carreira. Foi bom. Acabou. Começou uma nova.

Que tal a aventura no Japão?
Está a ser maravilhosa. Começou quase como um sonho tornado realidade. Ao fim de três meses enquanto treinador, fomos jogar a Taça da Ásia de Clubes e conseguimos ganhar. Nem em sonhos poderia começar tão bem. Mas sou um bebé. Tenho muito a aprender. Todos os dias. Vou tentar passar aquilo que aprendi com os vários treinadores com quem trabalhei. Sou a imagem de um pouco de cada um deles.

O que lhe encanta mais nos japoneses e no Japão?
O que me encanta nas pessoas é o respeito pelo próximo. No Japão o que mais me encanta é a sua riqueza histórica, a sua cultura e os seus costumes ancestrais.

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