Quatro membros da tripulação do ‘ferry’ sul-coreano que naufragou a 16 de abril, com 476 pessoas a bordo, foram hoje acusados de homicídio involuntário.

O capitão do Sewol, Lee Joon-Seok, dois navegadores e um mecânico são suspeitos de terem abandonado o ‘ferry’ quando este se estava a afundar, ordenando aos passageiros para não saírem das cabinas, escreve a AFP.

É também apontada a circunstância agravante de terem chegado à costa no primeiro barco de socorro e trocado os uniformes por roupas civis, conscientes de que a tripulação só se retira depois de garantir a segurança dos passageiros, disseram investigadores ao jornal Munhwa Ilbo.

Os quatro membros da tripulação podem incorrer mesmo em pena de morte, segundo a agência noticiosa francesa que ressalva, porém, que tal é pouco provável.

A pena capital é raramente aplicada na Coreia do Sul devido a uma moratória que se seguiu à última execução em 1997. Sessenta condenados esperam atualmente no corredor da morte.

O mais recente balanço oficial do naufrágio do ferry é de 281 mortos e 23 desaparecidos. As vítimas eram maioritariamente alunos que seguiam no ‘ferry’ em viagem escolar.

Mergulhadores encontraram dezenas de jovens, equipados com coletes salva-vidas, mortos no interior do ‘ferry’, cuja inclinação era demasiado elevada, quando a ordem de evacuação foi finalmente dada, para que pudessem chegar aos compartimentos superiores.

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Segundo um porta-voz da guarda costeira, Ko Myung-Suk, cinco corpos foram recuperados na quarta-feira.

Os resultados preliminares do inquérito indicam que a carga transportada pelo ‘ferry’ era três vezes superior ao recomendado. O navio estaria também menos resistente devido à instalação de cabinas suplementares desde a sua compra em 2012.

As famílias das vítimas reclamam explicações à organização das operações de socorro, que consideram ter sido demasiado lenta. Os familiares querem saber por que razão o primeiro corpo só foi retirado do interior do navio três dias depois do incidente.

Muitos familiares defendem que alguns jovens conseguiram sobreviver durante várias horas ou dias, mas que terão perecido em consequência do atraso na intervenção.

Kim Han-Sik, diretor geral da companhia marítima proprietária do ferry, a Chonghaejin Marine Co., detido na semana passada, deverá responder pelo excesso de carga do ferry e por modificações na estrutura que terão afetado a navegação.

Cerca de 20 pessoas foram detidas desde o naufrágio do Sewol, na manhã de 16 de abril: 15 membros da tripulação, incluindo o capitão e quatro dirigentes da Chonghaejin Marine Co.

O Governo e a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, apresentaram entretanto pedidos de desculpa pelo incidente.

“Lamento que muito não ter sido capaz de corrigir os males que se arrastam há muito tempo e permitiram a ocorrência deste acidente”, afirmou Park Geun – Hye, num discurso transmitido pela televisão no final de abril. A chefe de Estado sul-coreana também lamentou a “insuficiência” dos primeiros socorros.

O primeiro-ministro, Chung Won Hong, demitiu-se, permanecendo em funções até ao fim da operação de resgate dos corpos.