A Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), que inicia quarta-feira as celebrações do seu 20.º aniversário, “esteve à frente do seu tempo e antecipou muitas das atividades sobre o género musical que hoje são correntes”, considerou a sua presidente.

Em declarações à agência Lusa a presidente da APAF, Julieta Estrela de Castro, salientou que “a associação colocou o fado no roteiro cultural da cidade de Lisboa, quando ninguém falava do fado nos seus aspetos históricos, culturais e literários, e era visto como uma vergonha, tendos ido vanguardista”.

Na próxima quarta-feira a APAF inicia as celebrações com um jantar-tertúlia no restaurante Fado Maior, em Lisboa, com o catedrático chileno Miguel Ángel Vera, que falará sobre a sua tese, “O Género Portuário”.

“O fado foi o nosso único ídolo, não servimos de poleiro para ninguém, nem nunca estendemos a mão a nenhuma instituição pública, de recordar que começámos quando ainda nem se falava do Museu Fado, instituição para a qual fomos dos primeiros a alertar, em 1994, que fazia falara na paisagem cultural lisboeta”, disse Julieta Estrela de Castro.

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“De exposições ícono-bibliográficas às de instrumentos musicais, passando por diferentes espetáculos de divulgação, tertúlias, participações em palestras e conferências, foi tudo à custa da associação e dos seus sócios”, enfatizou a responsável.

Em jeito de balanço Julieta Estrela de Castro, entre os mais de 300 eventos realizados, salientou três: As iniciativas, realizadas em 1996, que durante um ano assinalaram os 150 anos da morte de Maria Severa, a celebração dos 200 anos do primeiro método para guitarra portuguesa, e as Jornadas de Fado, que se realizaram de 1997 a 2011, na extinta Fonoteca Municipal.

“Fomos os únicos a chamar a atenção para a efeméride [150 da morte de Maria Severa] e sobre ela promover um debate alargado que envolveu investigadores, artistas plásticos, jornalistas, músicos, fadistas e o questionar da importância daquela figura na atualidade”.

Pelas jornadas do fado passaram, dezenas de palestrantes, entre os quais Gabriela Canavilhas, Mariza e Joaquim Pais de Brito.

Questionada sobre o futuro, a responsável afirmou: “seguramente deixamos um legado motivador”, mas reconheceu que “há um desgaste de tantos anos a lutar contra ventos e marés”.

Além da palestra, a APAF vai realizar em outubro um evento retrospetivo da associação no Museu do Fado, e editará em 2015, de um livro, que “contará a história da associação e como foi vanguardista, na medida em que abordou temas e realizou iniciativas que só agora surgem a miúde nas agendas culturais”.

“Atualmente toda a gente fala de fado, e há fado a menos”, rematou Julieta Estrela de Castro, umas das fundadoras da associação.

A APAF foi uma das 50 personalidades distinguidas em 2012, com a Medalha de Mérito, grau ouro, da Câmara de Lisboa, por ocasião do primeiro aniversário da proclamação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.