Investigadores portugueses detetaram, pela primeira vez, uma neurotoxina associada à doença neurodegenerativa Esclerose Lateral Amiotrófica em bivalves da Ria Formosa e da Ria de Aveiro, mas a equipa quer aprofundar os estudos para perceber os riscos para a saúde. A neurotoxina (toxina que ataca o sistema nervoso) em causa, a BMAA, foi identificada “em níveis significativos” em berbigão e mexilhão, mas os cientistas desconhecem, ainda, o real impacto na saúde humana, para serem tomadas medidas cautelares.

Na prática, frisou à Lusa um dos investigadores, Pedro Reis Costa, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, será importante continuar o estudo para “avaliar o risco de consumo de bivalves contaminados com BMAA”. Segundo Pedro Reis Costa, que se tem dedicado à investigação da transferência de biotoxinas na cadeia alimentar marinha, “não há, para já, estudos suficientes que possam indicar o nível de BMAA que afeta o desenvolvimento da Esclerose Lateral Amiotrófica, isto apesar de haver vários estudos que comprovam a neurotoxicidade de BMAA tanto em vivo como ‘in vitro'”.

A neurotoxina BMAA, agora detetada em Portugal, já tinha sido identificada, nomeadamente, na Suécia, em França, nos Estados Unidos e na África do Sul, precisou. Um vez encontrada a presença da BMAA em bivalves da Ria Formosa e da Ria de Aveiro, a equipa do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, em colaboração com o Departamento de Botânica da Universidade de Estocolmo, quer saber em que alturas do ano isso ocorre mais, quais as espécies de microalgas que as produzem, bem como “a dinâmica de acumulação e eliminação” da neurotoxina “nos moluscos bivalves”.

Neurotoxinas como a BMAA são, como explicou Pedro Reis Costa, “toxinas que têm como alvo o sistema nervoso, impedem que os neurónios comuniquem entre si de forma eficaz”. No caso da BMAA, está associada à Esclerose Lateral Amiotrófica, cuja “maioria dos pacientes morre no prazo de três anos quando deixa de poder respirar ou engolir”, adiantou. Regra geral, a BMAA é detetada em ambientes de água doce onde abundam cianobactérias, espécie de microalgas.

Em períodos de maior abundância de células de microalgas, bivalves como berbigão, mexilhão, amêijoa e ostra, “que se alimentam filtrando a água”, podem acumular nos seus tecidos os compostos tóxicos por elas produzidos, tornando-se nocivos para quem os consumir. Ao contrário de outras biotoxinas, compostos tóxicos derivados de microalgas e acumulados em bivalves, a neurotoxina BMAA não está regulamentada na legislação nacional e comunitária.

Cabe ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera assegurar a monitorização das biotoxinas marinhas e, caso se justifique, proibir a apanha de bivalves para consumo. As conclusões do estudo, na qual participaram Pedro Reis Costa e outros investigadores portugueses, mas também suecos, foram publicadas na revista Aquatic Toxicology.

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