Imagine-se um mundo onde a arquitetura e a construção civil estão ao alcance de todos, de forma rápida e barata, como se de uma brincadeira de lego se tratasse. Parece uma ideia futurista e utópica mas a discussão é real e já tem verdadeiros seguidores. Ronnie Zohar é um deles e a empresa que fundou, a Kite Brick, é a porta para esse mundo, apresentando um método de construção inovador assente em ‘tijolos inteligentes’ que se encaixam como autênticas peças de lego. “Daqui para a frente as casas – assim como os passeios, as pontes e todos os tipos de edifícios – vão poder ser realmente térmicas, mais resistentes, mais baratas e de rápida construção”, prometem. O método e o material ainda não está patenteado mas o projeto está todo delineado. A confirmar-se, quer prometer o fim das barracas e dos bairros de lata. “O mundo é o limite”, lê-se no site da empresa.

São tijolos feitos de betão de alta resistência que, a avaliar pelos métodos tradicionais existentes, podem vir a revolucionar a forma como construímos edifícios, tornando-a mais rápida, barata e mais eficiente do ponto de vista energético. O funcionamento é simples – toda a gente já brincou com legos em algum momento da sua vida e por isso está familiarizada com o assunto.

Isolamento primeiro, inspiração do lego depois

Mas, acredite-se ou não, o criador Ronnie Zohar garante que o lego não foi a principal inspiração. “Não veio daí”, diz o empresário que já se dedicava a melhorar o isolamento das janelas dos edifícios. “Apercebi-me de que as janelas são uma ínfima parte do problema do aquecimento – o problema maior está no betão que faz com que as paredes do edifício aqueçam demasiado ou fiquem demasiado frias”, disse ao site britânico Wired. Foi essa motivação que o levou, primeiro, a desenvolver uma espécie de tijolos com espaços no meio para passar ar, para garantir um melhor isolamento. E, depois, a começar a considerar outros recursos. Há três anos a ideia levou-o aos “tijolos inteligentes” que tem estado a desenvolver com um tipo de betão “leve e forte como aço”.

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O foco, segundo Zohar, sempre foi garantir o maior isolamento e resistência da construção – o facto de as peças terem um desenho em que se encaixam umas nas outras, como lego, surgiu depois. Outro foco importante: a simplicidade da construção.

“Quero que as pessoas em África e noutros locais do mundo sejam capazes de construir e conseguir assim uma casa bem isolada em termos térmicos usando o mesmo dinheiro que teriam gasto a construir uma casa de lata”

Mas Como funciona exatamente?

Os tijolos assemelham-se às famosas peças de lego no sentido em que possuem uma espécie de botões na parte superior e espaços vazios na parte inferior, permitindo que se encaixem uns nos outros. Depois de o encaixe estar assegurado, com estabilidade, recorre-se ainda a um adesivo especial que funciona como super-fita adesiva, que dispensa a utilização de cimento. Podem ainda ser encaixadas barras de aço no interior dos tijolos – que passam pelos espaços vazios – para conferir maior suporte e resistência à construção.

De acordo com a empresa, os ‘tijolos inteligentes’ podem ser usados para construir paredes inteiras, pisos e tectos, num método que permite uma poupança de cerca de 30% de energia em comparação com os métodos tradicionais de construção. O custo, esse, pode ser reduzido em mais de 50%, garante a Kite Bricks. Até agora ainda só há um protótipo. É preciso mais financiamento para avançar com o projeto – mais cerca de 2,2 milhões de euros – até os ‘tijolos inteligentes’ chegarem ao mercado.

A discussão sobre a revolução dos métodos de construção não é nova nem consensual. Em fevereiro de 2013, um arquitecto atreveu-se a defender numa conferência – Ted Talk – que a arquitetura devia estar acessível a 100 por cento da população, incluindo nos bairros mais pobres do mundo. “Arquitetura para o povo e pelo povo” foi o nome dado à sua palestra, onde Alastair Parvin deixou a ideia à consideração: “E se, em vez de serem os arquitetos a desenhar e construir os edifícios apenas para aqueles que podem pagar, pudessem ser os cidadãos comuns a construir as suas próprias casas?”

A tecnologia, de resto, já está a ir ao encontro da arquitetura popular e as impressoras 3D são um bom exemplo disso mesmo. Recentemente, um designer holandês construiu uma casa num canal de Amesterdão usando apenas uma impressora 3D portátil. Para isso usou material termoplástico, com o qual imprimiu as peças, que as montou de seguida como se fossem blocos de lego.