A campanha do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, bloqueou hoje temporariamente a baixa de Maputo, onde uma multidão saiu à rua para se certificar de que ele estava mesmo lá, aclamando-o como “papá” e futuro Presidente moçambicano.

Numa ação de campanha para as eleições gerais de quarta-feira, com início na sede da Renamo na cidade de Maputo, a caravana de Afonso Dhlakama foi recebida por milhares de pessoas ao longo de mais de duas horas e sob chuva leve e persistente, que cantavam eufóricas “É papá”,

“O Dhlakama é diferente dos outros, o Dhlakama quer mudar”, afirmou o líder da Renamo, com a voz amplificada pelas colunas de som da caravana, numa das muitas paragens que realizou no centro de Maputo.

Dhakama dançou, cantou e prometeu “acabar com a pobreza, criminalidade e raptos de crianças de pessoas ricas em Maputo”, acusando a Frelimo, partido no poder, de coordenar estes crimes.

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“Não vamos perder tempo. Votem na Renamo e no Afonso Dlhakama, o lutador pela democracia, o vosso servidor, o vosso trabalhador”, disse o presidente do maior partido da oposição moçambicana, diversas vezes interrompidos por transeuntes e militantes desta formação política.

“Esperei muito tempo por este dia e é uma grande emoção saber que ele está vivo”, declarou à Lusa Ângela Fernandes, 24 anos, uma apoiante da Renamo na Matola, cidade-satélite de Maputo, referindo-se à ausência de Dhlakama da capital durante mais de cinco anos, quando fixou residência em Nampula antes de refugiar na Gorongosa, no mais recente conflito com o Governo. “Tudo o que ele fala, sabemos que ele vai fazer. Queremos dar-lhe essa oportunidade”, disse ainda.

Em frente do mercado central, falando sempre na terceira pessoa, o presidente da Renamo insistiu que “Dhlakama não é corrupto e vai lutar pela democracia, pela justiça e respeitar a população”, prometendo postos de trabalho para a juventude, antes de executar uma coreografia contagiante, a partir das posições no boletim de voto da sua candidatura nas presidenciais e do partido nas legislativas: “Dhakama um, Renamo dois.”

Numa província tradicionalmente da Frelimo e pouco habituada a ações de massas da Renamo, muitas pessoas pediam “t-shirts” do partido, mas a resposta saía pronta: “Não vota na camiseta, vota no Presidente.”

“A mensagem dele é de vida, não diz palhaçadas”, comenta Dionísio Luís, 36 anos, uma das pessoas que saíram à rua para seguir Dhlakama. “O que me convence nele é quando diz que temos de ser unidos e que ninguém é dono de Moçambique”, assinalou junto de uma carrinha da caravana com a inscrição “Deus é pai”.

Maria José Ubisse, 48 anos, militante da Renamo há 20 em Gaza, bastião da Frelimo, espera que o sucesso da campanha indique que o seu partido vai ganhar tudo e que “desta vez não haja fraude”, acreditando que o seu líder traga “saúde, educação e trabalho para os jovens”.

Esta foi a segunda receção calorosa de Dhlakama em Maputo, depois de a 04 de setembro milhares de pessoas terem esperado um dia inteiro no aeroporto pela chegada do líder da oposição para assinar o acordo de paz com o Presidente moçambicano, Armando Guebuza.

Hoje, a última escala na cidade de Maputo foi Xipamanine, onde centenas de pessoas saíram do labiríntico mercado local para ver e ouvir o presidente da Renamo, sempre cercado pelos seus guardas armados.

“Dhlakama não é um homem orgulhoso, é um homem simples, responsável, um moçambicano que irá atender aos vossos problemas”, declarou, acrescentando que “já são muitos anos desde 1975 que a Frelimo está a governar mal”.

“Experimentem Dhlakama e se não governar bem nos próximos cinco anos podem pôr-me no lixo”, desafiou.

Nas eleições gerais de quarta-feira, Dhlakama concorre nas presidenciais contra Filipe Nyusi (Frelimo) e Daviz Simango (MDM) e 30 partidos disputam as legislativas e assembleias provinciais.